Trechos da entrevista concedida para o site de Passos durante o Meeting
Carrón, por que as periferias? Por que descentrar-se, como disse o Papa Francisco, para encontrar Jesus?
Encontrar as periferias é a modalidade através da qual encontramos Jesus. Sempre me impressionou muito quando Dom Giussani diz que nós temos tudo no encontro com Jesus. Mas o que significa este “tudo”, o que significa Jesus, descobrimos no confronto ou no encontro com as circunstâncias. Ou seja, com as periferias. Mas nós pensamos que as periferias sejam um acréscimo, algo que nos distraia. E, pelo contrário, essa é a única modalidade com a qual, enfrentando a vida, as circunstâncias, os desafios, podemos entender o que é Cristo. Sem essa verificação de Cristo em toda periferia, não podemos entender o que Ele é. Por isso convém- -nos seguir o Papa. Se não for assim, pensaremos ter conhecido Jesus, mas não O teremos conhecido.
O destino não deixou o homem só. No encontro do Meeting sobre Deus na história antiga, emergiu que destino nunca deixou o homem só...
Bento XVI disse que Deus nunca é derrotado. Ou seja, recomeça sempre, tomando novas iniciativas. Todos os eventos da história são as novas iniciativas de Deus com as quais procura o homem, de formas diversas. E nós vemos também agora, no presente, aquilo que vimos acontecer no passado: as contínuas iniciativas através das quais o Mistério procura o homem. Qualquer que seja a situação em que se encontre. E nunca desiste. Porque Deus não depende daquilo a que nós chamaríamos as vitórias, os resultados. O seu ponto de partida é diferente. Ele parte sempre de um amor incomensurável pelo homem. Mesmo que o homem lhe diga não, ainda que o homem não responda da forma adequada, ou até se esqueça, Deus nunca desiste de procurar o homem. Como você nunca desistiria de procurar o seu filho, qualquer que fosse a estupidez que ele tivesse feito. Nós poderemos entender Deus se nos identificarmos por um instante com o que um pai faria pelo filho. Deus é esse pai que nunca desiste de procurar o filho.
O Papa convidou a um caminho, indicando como única bagagem o essencial e a realidade. O que são para o senhor?
O essencial para nós é como o significado. Uma presença sem a qual a realidade não teria significado. Nem todas as coisas têm o mesmo significado para nós. O essencial é aquilo sem o qual não se pode viver. É isso que nos permite entrar em qualquer aspecto da realidade. Se tivermos descoberto o essencial, podemos entrar em qualquer escuridão, em qualquer periferia. O que deve viver uma enfermeira, como deve ser verdadeiramente consistente, que coisa essencial deve ter lhe acontecido, para poder entrar no quarto onde está o doente terminal? Igualmente, por que alguns cristãos continuam a viver na Síria? Ou por que algumas pessoas se preocupam com os últimos? Deve ter acontecido algo muito significativo, pelo qual nenhum aspecto da realidade perde valor. Aliás, adquire todo o valor graças àquele essencial. Mas muitas vezes, parece que afirmar o essencial vai contra a realidade. Ou que afirmar a realidade vai contra o essencial. Graças a Deus, nós, que encontramos o cristianismo tal como o testemunhou Dom Giussani, e tal como aparece no Evangelho, vemos que para Jesus afirmar o essencial, afirmar a Sua relação com o Pai, não foi uma coisa que O distraísse do real ou do homem. Pelo contrário, era precisamente o que o fazia interessar-se por qualquer homem. Por isso, o essencial e a relação com a realidade caminham juntos. Sem ter uma presença assim tão essencial para nós, a realidade não nos interessará, porque não seremos capazes de estar diante dela, de enfrentar os seus desafios, aspectos escuros e coisas que nos desconcertam.
Paolo Perego
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