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Passos N.163, Outubro 2014

CULTURA / Meeting 2014

Nos Confins do Universo

por Ulisses Barres de Almeida

Entrevista com ULISSES BARRES DE ALMEIDA, um dos curadores da mostra “Explores”, outro exemplo da busca do homem por si mesmo.

Qual foi a ideia central da Mostra “Explores”? Como ela foi desenvolvida?
Explorers foi uma mostra que nasceu de dois eventos que marcaram para nós o ano passado. Provocados pelo título do Meeting di Rímini deste ano, Nicola Sabatini e eu, junto com outros amigos da Associação Euresis, começamos a nos questionar sobre a relevância de um dos principais acontecimentos científicos da era espacial: o anúncio, no dia 25 de agosto de 2013, de que a sonda Voyager I tinha cruzado o confim da heliosfera e chegado, finalmente, depois de 37 anos de viagem e 18 bilhões de quilômetros percorridos, ao espaço interestelar. Este feito, único na história humana da exploração espacial, não só fazia da Voyager I o objeto mais distante criado pelo homem, como também marcava de maneira dramática a mais extrema periferia da presença humana no Cosmo. Paralelamente a isso, ambos fomos muito provocados por uma frase do Papa, de um discurso no dia 29 de novembro, onde afirmava: “Estou convencido de uma coisa: as grandes revoluções da história aconteceram quando a realidade foi vista da periferia, e não do centro. É uma questão hermenêutica: se compreende a realidade somente se nós a guardamos da periferia, e não se o nosso olhar é colocado em um centro equidistante de tudo”. Refletindo sobre ela, pensamos no percurso desta mostra como um modo de aprofundar o seu significado, adotando como guia a sonda Voyager I na sua viagem à periferia geográfica mais distante já alcançada. Assim, a preparação desta mostra foi para nós curadores uma verdadeira viagem, onde partimos com uma pergunta precisa, mas não tínhamos claro aonde esta pergunta nos levaria. Seguimos com grande curiosidade e atenção toda a trajetória de exploração espacial dos últimos 50 anos, olhando para a experiência humana dos astronautas e cientistas que foram protagonistas neste fascinante empreendimento, sempre carregando o desejo de aprofundar de maneira concreta o sentido da frase do Papa Francisco,
até o limite ao qual a Voyager nos conduzia.

O que buscavam passar aos visitantes?
Foram mais de 20 mil visitantes e queríamos que eles pudessem fazer em primeira pessoa a experiência de exploração espacial, seguindo o testemunho e identificando- se com os seus protagonistas, de modo a poder descobrir por si mesmos o que significa que a periferia é um ponto de vista privilegiado com o qual olhar a realidade, a partir do qual se pode compreender melhor o centro de onde partimos. Assim sendo, a mostra seguiu um itinerário de viagem preciso, que se iniciava com um olhar sobre as motivações humanas da exploração, seguia com a história da corrida espacial, a conquista da Lua e o desejo atual de se conquistar também Marte, para depois unir-se à Voyager no seu “Grande Tour” dos planetas externos – Júpiter, Saturno, Urano e Netuno – até a sua entrada no espaço interestelar. Mais do que focar nos aspectos técnicos, nos interessava comunicar a experiência humana dos envolvidos na exploração, e fazer com que os visitantes participassem da experiência de descobrir mundos novos e fascinantes e de observar a realidade a partir destes lugares distantes. Toda a mostra se apoiou, portanto, na possibilidade de fazer uma experiência de exploração, de modo a poder-se chegar a um juízo pessoal sobre o contínuo convite do Papa a andar às periferias humanas e geográficas.

Como o Meeting o ajudou a definir seu modo de viver sua relação com a ciência e a cultura? Que contribuições você acha que ele pode dar para um cientista de hoje?
O Meeting di Rímini é um evento singular no mundo de hoje. Não só pela sua extensão, amplidão de temática, universalidade e potencialidade de impacto cultural, mas principalmente porque é um lugar onde podemos fazer experiência da realidade. E acredito que podemos fazê-la de dois modos: encontrando protagonistas do nosso mundo contemporâneo e ouvindo seus testemunhos, conhecendo aquilo que os motiva, e sendo protagonistas nós mesmos, através dos voluntários que, todos os anos, constroem esta feira que não é outro que um lugar de encontros humanos e amizade.
Talvez uma das grandes tentações que o cientista pode sofrer hoje é aquela de olhar para o seu trabalho como algo impessoal, desacoplado da sua experiência humana. O Meeting torna evidente a qualquer um que o visite com atenção que, ao contrário, são exatamente estas questões humanas aquelas que motivam e alimentam a experiência científica no seu âmago. Assim, mesmo que a ciência obedeça a um seu método objetivo e específico, necessário para que possamos conhecer os mecanismos do Cosmo – que outro não é que o método lógico com o qual a razão pode se submeter de maneira adequada a uma realidade diferente de si mesma, isto é, possa conhecer o mundo – mesmo assim o itinerário de conhecimento só pode se tornar realmente amplo e interessante se não nos esquecemos desta motivação fundamental, porque o específico no mundo tem valor enquanto tem o potencial de abrir a razão para o todo.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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