Como dizia Dom Giussani, no início das manifestações de 1968: ‘Estamos verdadeiramente em condições de sermos [...] os primeiros daquela mudança profunda, daquela revolução profunda que nunca estará – afirmo: nunca – naquilo que de exterior, como realidade social, pretendemos que aconteça’; com efeito, ‘não estará nunca na cultura ou na vida da sociedade, se não estiver primeiro [...] em nós. [...] Se não começar entre nós [...] uma revolução da pessoa, da sua forma de se conceber’” (Carrón, J. Aquela aparente fragilidade que continua a interrogar-nos, Corriere della Sera, 22 de dezembro de 2014, p. 33).
Atravessamos um momento de grande ebulição social, com manifestações que polarizam a sociedade, magnetizam nossa atenção, fazem explodir tanto ressentimentos quanto esperanças. Em ocasiões assim, um dos maiores riscos que corremos é aquele de viver uma grande homologação: colocamos num evento externo (a manifestação política, a decisão de um governante, a ação de um magistrado) a responsabilidade que é nossa e a semente de esperança que deve brotar em nós, para poder crescer e dar frutos na sociedade.
Podemos imaginar que protestos populares e manifestações de rua sejam automaticamente capazes de gerar uma novidade. Mas isso nem sempre é verdade. Um acontecimento gerador do novo tem que nascer ou remeter ao nascimento de uma experiência de descoberta e afirmação da própria humanidade, da própria dignidade pessoal. Uma manifestação que não remete a esse momento se torna apenas um gesto de descontentamento, que pode ser usado (ou instrumentalizado) politicamente, mas que não carrega em si a força do novo que surge.
Isso não quer dizer desconhecer a necessidade de grandes mudanças políticas e institucionais ou a força da ação coletiva, mas reconhecer qual é a verdadeira origem e o lugar no qual um movimento de construção do novo pode nutrir-se e crescer: nosso Eu despertado por um encontro capaz de despertar nossa humanidade, a partir do qual podemos nos lançar livremente na construção do bem comum.
Um caminho de mudança verdadeiro, que não se revele ilusório, nem repita os mesmos erros que veio combater, não nasce de uma postura ideológica, mas do acontecer deste encontro: “para começar a compreender palavras como humanidade e justiça [...] é necessário participar de um acontecimento [...] em que o significado destas palavras é afirmado de maneira dramaticamente descoberta [...]. O conteúdo do acontecimento é um encontro com uma realidade integralmente humana” (Giussani, L. O eu, o poder, as obras. São Paulo: Cidade Nova, 2001, p. 244-248).
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