A procura por si, a possibilidade de redescobrir um pai. E a espera, a paciência. Pais contam a experiência de um amor que não diz “vai embora”, mas “pode ir”. Como na parábola do Filho Pródigo
Alexandra tem cinco anos quando entra na vida de Ângela e Roberto, que após quase dez anos de casamento decidem abrir a família à adoção. Ale é uma criança esperta com caráter forte. Desde o início eles entendem isso. Ângela lembra: “Com ela não se podia fazer muitos discursos. O seu olhar te questionava”. Depois dela chegam Alfonso e Marco. Alfonso tem uma má-formação cardíaca grave. Com apenas 22 meses morre. “Sabíamos desde o início que as chances de sobrevivência eram poucas, mas a sua existência mudou a vida da nossa família. Nós aprendemos a não ter medo da morte, que é a única maneira de educar os filhos para a vida. E podíamos fazer isso por causa daqueles amigos que estavam conosco, fazendo-nos levantar o olhar”. No dia do funeral, Alexandra se aproxima da mãe e diz: “Não estou triste. Olhe quantas pessoas gostam dele e nos amam”.
Aos dezesseis anos, Ale decide que tudo é muito incômodo. Começando pela escola, que abandona no terceiro ano do Ensino Médio. Tem início um período movimentado. Lembra: “Eu não me sentia mal com a minha família, mas é como se o casaco estivesse esquentando muito. Eu queria outra coisa. Buscava outra coisa”. Os pais lhe dizem: “Tudo bem. Mas em casa não pode permanecer sem trabalhar”. Por seis meses trabalha como operária. Em seguida, retoma os estudos, mudando de escola. E depois abandona de novo. Continua: “A liberdade que eu tinha não estava nas coisas para fazer, mas no olhar que tinham sobre mim, no respeitar aquilo que eu estava procurando para a minha vida, que era o que eu desejava também para eles, mesmo que de formas diferentes”.
São anos difíceis, até mesmo de embates, de fugas e de voltas. Ângela conta: “Se você respeitar a sua própria liberdade, ou seja, aderir ao desígnio que Deus tem para você, pode respeitar a liberdade dos seus filhos. Quando lhe dizem: ‘Agora sou eu que decido pela minha vida. Estou indo embora’. Pode responder: “Pode ir”, não: “Vai embora”. O pai do filho pródigo não foi atrás dele, mas esperou. Não pode obrigá-los a comportarem-se como você quer”. Nem sempre é fácil, esclarece Roberto: “Você aprende a manter um olhar de simpatia, ou seja, a não fazer prevalecer o medo. E você só pode fazer isso quando tem amigos junto com você que condividem esse caminho. A quem você pode sempre pedir ajuda. E depois... aprende a manter uma distância das situações. Sobretudo a proteger a relação entre marido e mulher. De vez em quando eu e Ângela viajávamos por dois dias. Avisávamos amigos e familiares pedindo que nos ajudassem com as crianças e íamos embora. Porque nós, juntos, éramos o porto onde eles sempre poderiam ancorar”.
Aos dezoito anos, Ale partiu para os Estados Unidos. Permanece por dois meses e depois volta. “Sentia falta do meu namorado, mas não era só por ele que eu queria voltar. Ali também as coisas me pareciam insuficientes, e sentia saudades daquela amizade que sempre tinha visto em casa. De tudo o que tinham me dito eu não me lembrava de nada, mas me lembrava do que tinham feito por mim. Uma coisa era clara: Eu para eles nunca tinha sido um problema a ser resolvido, como não tinha sido para os seus amigos”.
Ao voltar para casa começa a trabalhar na empresa de Roberto e consegue terminar o Ensino Médio. Numa manhã, durante o café, diz para os pais: “No fundo eu só queria saber se vocês gostavam de mim ou da ideia que tinham de mim”. A vida já não é tão ruim. Cursa a faculdade de design, depois vem o trabalho, o casamento e três filhos. Mas ainda falta alguma coisa. Uma noite, durante uma reunião da Escola de Comunidade, Ângela a vê entrar no salão. “Pensei que tinha ido me procurar porque precisasse de ajuda com as crianças”. Ao invés, Alexandra se senta e escuta. “Durante o verão, pelo convite de alguns amigos, eu tinha ido às férias do Movimento. Eu tinha encontrado algo tão bonito que ia além das minhas opiniões. Havia uma profundidade no modo de viver que eu desejava o mesmo para a minha vida, para a minha família. O mesmo que eu tinha visto nos meus pais”. O porto seguro no qual ancorar.
“O filho pródigo permanecerá para sempre como a imagem de quem, tendo recebido tudo, não resiste ao fascínio da autonomia; tudo lhe parece um obstáculo para a sua ânsia de liberdade sem limites. Todos podemos imaginar a emoção do pai diante da liberdade do filho. Apesar de tudo, o pai corre o risco da liberdade do filho. Que amor à liberdade do filho, para que ele pudesse reconquistar através da sua própria experiência aquilo que já sabia!”
Julián Carrón
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