A situação grega, com uma dívida externa que sufoca tanto a economia como a população, deveria gerar a solidariedade para com aqueles que terão que arcar com uma dívida que não foi criada por eles e que talvez nem mesmo os tenha beneficiado verdadeiramente. Contudo, gerou muito mais uma polarização entre os “a favor” e os “contra”. Uns querem exaltar a desumanidade do capitalismo internacional que esmaga os cidadãos em nome dos lucros dos bancos, outros a irresponsabilidade de uma nação que recebeu grandes ajudas internacionais e não soube administrar estes recursos. Para uns, a “troca” das entidades credoras internacionais é a grande vilã da história, para outros, os vilões são os governantes gregos e os eleitores que se deixaram seduzir por seus discursos populistas.
Como acontece quase sempre na vida, cada um dos lados tem sua parte de razão e sua parte de erro e nós brasileiros pouco podemos fazer pelo povo grego. Contudo, a situação grega pode nos deixar algumas lições importantes. A primeira é que o grande problema da vida nunca é identificar quem está certo e quem está errado, num processo de auto justificação à custa dos demais, mas saber, como ensinava Dom Giussani, “como se faz para viver”, isto é, quais os caminhos que nos ajudam a encontrar as soluções – forçosamente solidárias – dos grandes problemas humanos.
Ela nos mostra também que sem realismo não existe desenvolvimento possível. Em nenhuma sociedade o bem comum poderá ser alcançado por políticas populistas que, por ideologia ou oportunismo, abandonam as bases macroeconômicas do país ou a responsabilidade fiscal do governo. A falsa prosperidade de hoje se revela como sacrifício amanhã. Lição que os gregos estão aprendendo da pior maneira possível e que nós também devemos aprender hoje para evitar maiores sacrifícios amanhã.
O drama grego mostra a necessidade – também na economia – da solidariedade entre as nações, como a Igreja lembrou recentemente na encíclica Caritas in veritate, de Bento XVI. Diante da crise grega, muitos lembraram que a recuperação da Alemanha, hoje a maior potência econômica da Europa, só foi possível porque ela teve parte de sua dívida perdoada pelos credores
internacionais no início da década de 1950, quando o país se reerguia da derrota na II Grande Guerra. Agora, sem uma solidariedade semelhante, o povo grego terá que fazer sacrifícios ainda maiores e a economia grega sofrerá um desastre ainda maior – inviabilizando o pagamento da dívida. A solidariedade à Grécia é o melhor caminho não só para o povo grego, mas também para seus credores.
O equilíbrio entre cobranças e concessões, pensando na justiça e no bem comum, é uma equação de difícil solução técnica para economistas e negociadores. Mas a exigência de realismo e solidariedade são princípios fundamentais a orientar a vontade política daqueles que querem uma solução justa para a questão grega – e todas as outras questões semelhantes.
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