Terminada a XIV Assembleia do Sínodo dos Bispos, com o tema “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”, duas palavras parecem sintetizar as reflexões dos padres sinodais: discernimento e acolhida. De um lado, o discernimento necessário para compreender o desígnio de Deus nas várias, complexas e muitas vezes difíceis situações particulares em que as famílias se encontram no mundo de hoje. De outro lado, a certeza de que a acolhida, que não permite nem o preconceito, nem a conivência, é a primeira resposta que Deus espera de nós em cada uma destas situações.
Mas, na lógica do mundo, discernimento e acolhida frequentemente parecem estar em conflito, pois o discernimento remete a um juízo duro e sem compaixão, enquanto a acolhida remete a uma permissividade que muitas vezes pode significar omissão e falta de compromisso. A chave que permite que os dois termos não se contraponham, mas caminhem juntos, é a misericórdia.
“A estrutura da acolhida, que a palavra cristã ‘misericórdia’ define, é o perdão da diversidade. [...] A palavra ‘misericórdia’ indica a acolhida como uma energia, uma liberdade que – como inteligência e como afetividade – supera o vazio, o descompasso, a distância daquilo que é diverso. Como é impressionante pensar na infinita distância que Deus superou em relação ao nosso nada” (L. Giussani, O milagre da hospitalidade. São Paulo: Companhia Ilimitada, 2006).
A misericórdia e a acolhida não são, portanto, resultado de esforços voluntaristas, mas o reconhecimento cheio de gratidão pelo amor de Deus, que nos acolheu primeiro. Sem esta consciência e nossa entrega a Deus, dificilmente o discernimento e a acolhida poderão caminhar juntos e fecundar a vida das famílias ou ajudar àqueles que se encontram nas “periferias da existência”.
Existe um nexo íntimo e profundo entre a família e a acolhida. Deus que nos acolhe, nós que nos acolhemos mutuamente no interior da família, a família aberta para acolher a todos os que sofrem e que dela se aproximam. Num mundo cada vez mais desumano, apesar do conforto e da liberalidade que oferece, estas três dimensões da acolhida, todas nascidas na misericórdia, são essenciais para a construção da família. Razão para ler (ou reler), no espírito desta reunião do Sínodo, O milagre da hospitalidade, de Dom Giussani.
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