Para quem já foi, para quem já teve a graça de passar pelo menos uma vez por Belém ou Nazaré, sabe bem que aqueles lugares eram realmente um nada. Buracos e rochas escavados no deserto, que já naquela época eram periferias desconhecidas pelo mundo. E Deus quis fazer-se carne ali.
Nós escutamos isso mil vezes, a cada Natal, mas pensando bem não é fácil identificar-se realmente com aquele Natal. Acabamos quase sempre valorizando mais o “depois”, para preenchê-lo com aquilo que nós sabemos agora: dois mil anos de fé e obras, uma forma histórica imponente, algo que mudou o mundo, com o qual é impossível – querendo ou não – não fazer as contas. Em suma, tantas vezes não temos a percepção do quão real fosse aquele nada, porque o olhamos tendo já em mente como a potência do Cristianismo se expressou – e se expressa – nos séculos.
Mas naquele momento, naquela noite, o Cristianismo ainda não existia. Não existia a sua força cultural, os valores que teria plantado nos homens, o impacto potente e benéfico que teve e tem sobre a política, os povos, a história. Ainda não existia nada disso.
Existia apenas uma criança em uma gruta.
Nada mais impotente do que isso. Como era impotente João, o último dos profetas: um homem vestido em farrapos e cinto de corda. Ou Abraão, de onde tudo começou: um pastor nas estepes da Ásia. Ninguém teria apostado que a história mudaria deste modo.
Ele sim. É o Seu método, a Sua estrada.
É aquela estrada que precisamos olhar. Sempre, e ainda mais agora que a incerteza avança, em que se estudam os melhores modos para reagir aos ataques de Paris, Bamako, Beirute, Tunísia, em que se procuram armas para enfrentar aquela “guerra mundial em pedaços” da qual fala Papa Francisco.
Parece que não vale nada pensar que a estrada seja manter o olhar fixo sobre uma criança. Pouco demais se comparada a todas as análises, as ações, as lutas às quais a realidade nos chama. Mas foi assim, literalmente assim, que começou a florescer o humano, que começa a florescer o humano.
É por isso que o Papa nos pede para olhar agora para lá, fixar o olhar sobre aquela criança. Porque naquela impotência, naquele “Deus que se esvaziou”, como disse no Congresso da Igreja Italiana em Florença, há uma potência extraordinária. Naquele aparente “sinal de fraqueza” que é Cristo, o Rosto da misericórdia, está “a qualidade da onipotência de Deus”, como escreveu na Bula que proclama o Jubileu: toda a força com a qual Deus dá forma ao mundo, continuamente, dentro de todos os horrores e maus da história. Não é que o mundo fosse melhor há dois mil anos atrás, ou há mil, ou há duzentos. No entanto, Ele o muda assim: uma criança, um homem. E depois com os homens que Ele toma para si, aos poucos, na história.
É este o método de Deus capaz de mudar o mundo passando pela única estrada possível: o coração do homem. Um por vez, porque através de um se comunica a todos. Qualquer outro caminho que não passe por ali, seria inútil. Qualquer outra conquista – de espaços, poder, influência – seria estéril.
Nós teríamos escolhido outras estradas. Somos continuamente tentados a escolhê-las, atraídos pelas nossas ideias e por projetos que gostamos de imaginar como mais eficazes. Ele escolheu esta, a escolhe a cada dia, a cada instante: tocar com a Sua misericórdia o coração de um homem. Nada mais. É justamente o Seu método. Temos o Natal que está chegando para festejá-lo. E um ano especial diante de nós – um Ano Santo – para aprender mais que nos convém segui-lo.
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