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Passos N.176, Dezembro 2015

COLETA/2

Simplicidade de crianças

por Márcio Warriss Monteiro

Em Belém, a surpreendente resposta a um convite levou os alunos de uma escola a assumirem um mercado para arrecadarem alimentos no Dia da Coleta. Encontros e provocações para adultos e crianças

As “10 linhas” do Dia Nacional da Coleta de Alimentos de 2015 já anunciavam “tempos difíceis” provocando cada pessoa a buscar respostas para as dificuldades do viver. A própria Coleta pretendia ser – e foi – uma resposta a esses tempos difíceis.
Coordenando a Coleta em Belém e Ananindeua, no Pará, desejava envolver mais crianças no gesto, pois tempos de crise são boas oportunidades para educar o coração ao que é essencial e eu não queria perder essa chance. Pretendendo ensinar, acabei aprendendo muitas lições com cerca de 70 crianças que voluntariamente participaram da Coleta. Embora as crianças sempre nos surpreendam, não imagina o que me esperava.
Primeiro, convidei as crianças do grupo de catequese da Missa Tridentina, da Paróquia da Santíssima Trindade, onde minha filha mais velha se prepara para a primeira Eucaristia. Então, falei com a catequista, Paula, que se interessou pela ideia e convidou os pais para que ao final de um encontro da turma eu falasse sobre a Coleta. Falei apenas cinco minutos, mas foi o suficiente para que decidissem ser voluntários.
No dia seguinte, a mãe de duas crianças da catequese enviou-me uma mensagem dizendo que elas espontaneamente desejaram coletar alimentos no prédio onde moravam. Então, levei alguns panfletos e marcadores de obrigado da Coleta para utilizarem. As crianças visitaram os apartamentos e os alimentos arrecadados foram levados a um dos supermercados no Dia da Coleta.
O segundo grupo convidado foi o das crianças do Colégio Marista Nossa Senhora de Nazaré, onde minhas filhas estudam. Aproveitando a amizade com dona Olga, avó de uma colega da minha filha mais velha, propus que envolvesse sua neta e, quem sabe, outras crianças cujos pais ela conhecia. Horas depois, ela me ligou pedindo que eu fosse ao colégio para falar com o Juraci, um dos orientadores pedagógicos do colégio, que havia se interessado pela Coleta. Após nosso encontro, decidimos incluir mais um supermercado, que seria coordenado pelo colégio.
Após o convite a alunos dos 4º e 5º anos, quase 200 crianças desejaram ser voluntárias e foi preciso fazer um sorteio devido a questões organizativas. Efetivamente, cerca de 60 alunos participaram da Coleta junto com o orientador pedagógico e aproximadamente 35 pais ou responsáveis.
Eu acreditava que um milagre aconteceria na Coleta em Belém/Ananindeua. Aconteceu! Em relação aos anos anteriores, quadruplicamos o número de voluntários, especialmente graças às crianças, e arrecadamos mais do que o dobro de alimentos. Porém, acredito que o sucesso da Coleta não se reduza a números. É preciso considerar a intensidade com a qual cada pessoa vive essa experiência de partilha.
No dia da Coleta, observei as crianças em ação e foi inevitável comprovar que “A resposta de Deus à ‘crise’ dos tempos não é um discurso, mas o acontecimento de uma beleza, uma beleza desarmada” (J. Carrón, Passos 175 nov/2015, p. 18). Experimentei essa beleza ao presenciar centenas de adultos serem desarmados pela liberdade, sinceridade, firmeza, coragem, alegria, docilidade, gratuidade de dezenas de crianças, que, livremente, pediam doações de alimentos.
Foi belo ver a espontaneidade das crianças abordando os clientes e a alegria quando recebiam os alimentos. Alguns clientes, ao fazer suas doações, procuravam quem os tinha abordado para dizer pessoalmente às crianças palavras de agradecimento e incentivo pelo bonito gesto.
Um acontecimento inusitado foi ver uma das crianças na fila do supermercado comprando um champanhe não alcoólico. Ao ser perguntado sobre o que estava fazendo, ele disse: “É para comemorar quando chegar a uma tonelada”. De fato, as crianças arrecadaram 1,1 tonelada e estavam contentes com o que faziam.
Outro episódio: ao verem que um dos meninos não estava à vontade entregando os panfletos e por saberem que ele tinha vivido um drama familiar, os adultos trouxeram-no para perto deles na mesa de operações e foi ali, ajudando nos cálculos, que ele encontrou a alegria e o sentido de estar na Coleta.
Mais experiências poderiam ser contadas, mas, daquilo que conversei com as crianças, tudo pode ser resumido num simples e significativo: “foi legal, foi divertido”. A diversão continuou quando as crianças voluntárias entregaram os alimentos diretamente às crianças do Lar de Maria, uma das instituições que foram beneficiadas. Foi uma manhã festiva, na qual aconteceu uma bonita integração entre crianças de realidades bem distintas compartilhando as mesmas necessidades fundamentais de serem crianças e amadas.
A Coleta não é nossa, ela escapa aos nossos esquemas já sabidos conforme os surpreendentes desígnios de Deus. As crianças da Coleta me fazem esperar contra toda esperança e me ajudam a viver os desafios desse mundo que me é dado hoje. Compartilhar é mesmo o caminho para um mundo melhor. Definitivamente, o Reino dos Céus é das crianças e, unicamente, o amor lança fora todo o medo. É hora de nos desarmarmos e nos tornarmos como crianças se quisermos um mundo mais humano.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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