A maravilha de uma amizade
Em 2005, Rodney, prisioneiro na Carolina do Norte, ficou sabendo, por meio de amigos, da doença de Majilinda, uma menina albanesa, e começou a rezar por ela e a lhe escrever. Sua carta era um dos testemunhos expostos na Mostra sobre os cárceres, no Meeting. Um relacionamento que cresceu nestes anos. Como o demonstra esta última carta.
Cara Majilinda, chegaram até mim, por meio de alguns amigos, notícias dando conta de que você não está bem. Não há palavras para descrever o quanto eu me sinto frustrado por não poder entrar no seu quarto e abraçá-la! Odeio esta prisão e suas regras, mas sem elas eu não teria experimentado a alegria dessa nossa amizade. Nunca nos encontramos pessoalmente e escrevemos pouco um para o outro, mas isso não impediu que você se tornasse uma luz em meu caminho, uma razão de esperança para mim, um testemunho a respeito do tipo de pessoa que eu preciso ser, mas me sinto incapaz. Sou um cabeça dura e idiota que muitas vezes discute com Deus e duvida da nossa razão de vida, um homem que andava perdido, sem direção na vida, mas basta uma palavra sua ou a respeito de você para eu reconhecer o quanto estou errado. Você me faz lembrar o quanto minha fé deveria e poderia ser. Não gosto de lembrar dos seus sofrimentos, mas o simples fato de refletir sobre os seus sacrifícios – e olhar para mim mesmo – me ajuda a perceber como estou distante daquilo que eu gostaria de ser. Carrón, em Amigos, ou seja, testemunhas, diz que a realidade educa. O ponto é que você nos “obriga” a reconhecer verdadeiramente o Mistério, coisa que antes – embora eu já fosse cristão – eu jamais fiz. Sabe, Majilinda, é melhor pagar essa minha pena na prisão, e ter assim a possibilidade de conhecer você e os outros do Movimento, do que ser livre e jamais conhecer alguém como vocês. Eu voltaria a pagar a pena inteira, de novo, se isso fosse necessário para estar com o Movimento.
Rodney,
Carolina do Norte – EUA
O desafio de Elena
Caríssimo Carrón, trabalho em Aslam, uma entidade de formação profissional. Sou o coordenador dos cursos para os jovens que saem do terceiro colegial. Temos cerca de 180 jovens; eu os conheço praticamente todos. Este ano chegou Elena, uma menina com delicada situação pessoal e familiar. Elena desde logo começou a nos dar problemas. Quando eu chegava e cada vez que a via eu sentia um certo mal-estar; durante meses procurei evitá-la. Eu a ignorava. Mas ela estava ali, toda manhã. Há alguns meses, Elena fez a enésima besteira e por causa disso ela foi convocada com sua mãe. Elena chegou “chapada” para a reunião, tinha fumado um “baseado”. Sua mãe, desesperada, nos diz: “Não a reconheço mais; não é mais a minha filha”. Elena olha para ela com indiferença e distância. Observo sua mãe e lhe digo: “Não. Minha senhora, olhe para ela. Quem é essa menina que está diante da senhora?”. Enquanto isso, passaram pela minha mente os meses em que eu próprio me negava a reconhecê-la. E, então, voltei a dizer a sua mãe: “Quem é esta menina?”. E ela: “É minha filha”. E começou a chorar. Perguntei a Elena: “Quem é esta mulher?”. E ela, nada. Saí e pedi para que Elena esperasse; e lhe disse: “Sua mãe ama você”. E mais: “A partir de amanhã, quero encontrar você todos os dias”. É impressionante e ao mesmo tempo tocante: o método foi ditado por ela, que eu havia evitado durante meses. Às vezes, afirmo que digo sim às circunstâncias, mas coloco um limite. Repito a mim mesmo e a quem me pergunta que digo sim ao trabalho, à família, aos amigos. Mas se alguém me perguntasse “O que você vê no trabalho, na família, nos amigos?”, eu partiria logo com definições: o trabalho é o trabalho... a família é a família... Mas se estou bem com uma pessoa, penso: “Esse relacionamento me dá prazer, é uma coisa boa”. Se vivo uma relação que me deixa inquieto, sinto desprazer e digo que estou mal. E isso me aprisiona e aprisiona a realidade que tenho diante de mim. Como aconteceu com Elena. É o risco de reduzir Jesus ao “retrato de uma bela mulher esculpido sobre o seu monumento sepulcral”. Mas a realidade está inexoravelmente presente. Insistente. Foi um dom que naquele dia o Mistério, isto é, Jesus, tenha se manifestado e que eu O reconheci. Um fato é Ele atuando. E me lança um desafio: “Você me reconhece?”. E aí só eu posso responder. Ainda que você, Julián, estivesse comigo todos os dias, a substância não mudaria: é uma questão entre eu e Cristo. Quando Elena veio buscar o boletim escolar, abraçou sua mãe dizendo-lhe: “Mamãe, eu amo você”. Depois me pediu para deixá-la fazer um estágio conosco nas férias: “Em vez de ficar por aí fazendo besteiras”.
Salvatore,
Cassano Magnano – Itália
Um outro critério
Iniciei no Movimento atraída por uma afeição e depois me senti atraída pelas colocações de Dom Giussani no livro Por que a Igreja na Escola de Comunidade da época. No tempo, vi como Cristo foi modificando a minha vida de forma extremamente concreta por meio da ajuda de pessoas que Ele colocou em meu caminho nessa companhia. Eu vivia um profundo medo da solidão após ter vivido alguns relacionamentos confusos que me trouxeram muito mais angústia do que paz. Após encontrar Cristo, eu só desejava ter um relacionamento afetivo que me correspondesse de fato. Minhas amigas achavam que eu era muito radical. Pois eu encontrei um homem que também temia a solidão e que também viveu relacionamentos confusos e sofridos. Esse homem também desejava viver uma experiência autenticamente católica de relacionamento, pois também tinha reconhecido Cristo no Movimento. Quando nos encontramos, sabíamos que tínhamos sido dados um ao outro pelo Mistério. Um Mistério que sabia exatamente os desejos mais secretos do nosso coração e que acenava com uma esperança para nós dois. Então optamos por olhar o drama de nossas escolhas anteriores, seguindo a orientação de pessoas que, de fato, poderiam nos ajudar a viver essa experiência com o olhar de Cristo. Os critérios não eram os nossos e algumas vezes não entedíamos tudo, mas seguíamos porque era uma amizade que carregava Algo muito maior. Nós nos casamos e vivemos a Fé em nosso casamento, que é sinal concreto de Cristo em minha vida, assim como nossos amigos. Todos que nos conhecem viram de perto a transformação que ocorreu em nossas vidas. Hoje posso dizer que durante muito tempo eu queria encontrar alguém para construir uma família e não passar os meus dias sozinha. Mas não é no casamento que a minha solidão é dissolvida, é na presença de Cristo, que fica evidente quando nos tornamos abertos para reconhecê-lo e a segui-lo. Nosso casamento não seria tão bom se Ele não estivesse entre nós. Não adianta um casamento sem Cristo. Não adianta uma amizade sem Cristo. Sem Cristo a solidão permanece. Com Ele podemos estar sós e vivermos em letícia, preenchidos por esse Tudo que é feito d’Ele. E isso é concreto. São escolhas feitas a partir de um critério que não é meu, mas nelas eu jogo os meus desejos mais sinceros de verdade, de beleza, de justiça, de amor e exalto ainda mais a minha liberdade de seguir um Outro. Sim, eu posso errar, mas posso não me desesperar. Nem sempre consigo seguir, mas posso pedir ajuda, posso me confessar. Ele vai me abraçar sempre... e sempre mais, se eu estiver aberta para esses rostos que me ajudam a viver isso.
Regilene,
Salvador – BA
Levar-se a sério
Caro padre Carrón, antes das férias de julho levei a sério a minha situação universitária (estudo Farmácia em Turim) e, no relacionamento com os amigos mais velhos, comecei a trabalhar de verdade. Tentei fazer a experiência daquilo que você disse nos Exercícios da Fraternidade sobre a questão do desejo, no sentido de que se não vamos até o fundo da própria humanidade, Cristo não nos interessa, é como a resposta a uma pergunta que não foi feita. Era um período em que eu ia pra frente no piloto automático, fazia todas as coisas do CLU, até bem, obedecendo a tudo, mas não era eu mesma e, sobretudo, não levava a sério aquilo que eu devia fazer, isto é, estudar. Comecei a ir a fundo no meu desejo, e assim pude reconhecer Cristo atuando em minha vida. Nasceram relacionamentos com alguns calouros, com os quais refiz o encontro, passei em dois dos quatro exames que me faltavam e finalmente estudei com gosto, perguntando-me sobre o porquê de tudo... Em suma, sou mais eu mesma. Depois aconteceram as férias do CLU, que foram um verdadeiro acontecimento, além de outros fatos, que eu só tive que olhar e perguntar-me Quem os havia gerado (por ex., o encontro com alguns amigos de Abruzzo, aprofundamento de amizades, a assembleia com padre Pino). Depois das férias fiz uma peregrinação a Czestochowa. Durante a caminhada fiz a experiência da obediência como gesto de liberdade e unidade com pessoas que jamais havia visto antes. E quando cheguei aos pés de Nossa Senhora, só consegui dizer: “Eis-me aqui, estou aqui por Ti”. Não foi como se eu estivesse diante de um mero quadro, mas perceber o abraço de uma Mãe que te espera e te ama assim como você é. Padre Andrea, que guiava a peregrinação, nos convidou a olhar para o rosto de Nossa Senhora, para que percebêssemos o que é que realmente tem valor na vida: a companhia de Jesus. Eu desejo continuar nessa estrada, continuar a pedir que possa reconhecê-Lo presente. Tal como já aconteceu nos cursinhos de preparação aos exames para as faculdades científicas, que terminamos agora. Fiquei maravilhada com o fato de tudo estar focado sobre a nossa liberdade (minha e dos outros), de modo que viesse à tona a própria humanidade e todo o nosso desejo, sem o qual Cristo não interessa.
Marta,
Turim – Itália
Um lugar
Nasci em uma família católica e durante minha infância, lembro-me de diversos momentos de fé pessoal, flashes em minha memória de vezes em que recorria a Deus fazendo algum pedido ou agradecimento. Durante a minha adolescência, por mais que alguns problemas comuns acontecessem pela fase da vida, conseguia ter no meu coração a certeza de que Ele, Jesus Cristo, estava ao meu lado. No início da fase adulta, talvez tenha vivido o momento de maior distanciamento de Deus. De uns anos para cá, tenho participado de várias reuniões, encontros e retiros na Igreja; mas algo dentro de mim sempre pulsava: “Ainda não encontrei o meu lugar”. Estava sempre faltando alguma coisa, não ficava satisfeita e eu não sabia ao certo o que era. E assim, de tentativa em tentativa continuava trilhando os caminhos da Igreja que tanto amo. Em agosto desse ano, quando fui levar a minha filha para a escola, vi no portão do colégio um cartaz do Movimento de Comunhão e Libertação com um convite para a Assembleia de Escola de Comunidade cujo tema era a Fé como conhecimento. Fui ao encontro onde também estava Dom Filippo, Bispo de Petrópolis. Era um grupo de vinte e oito pessoas. Ouvindo o testemunho daquilo que elas estavam vivendo a partir da Escola de Comunidade, desejei participar também. Logo comprei o livro de Dom Giussani, É possível viver assim? Lendo o prólogo do livro me comovi com as palavras de Dom Giussani, que parecia me conhecer. Aquelas palavras eram para mim. Era como se algo dentro do meu coração se encaixasse pela primeira vez! Chorava, mas sentia uma grande alegria. Agora encontrei um lugar! Vi-me sedenta pela Escola de Comunidade e até mudei o meu horário de trabalho para poder participar. No primeiro mês já começaram a acontecer fatos interessantes no meu cotidiano, como se o Senhor estivesse me respondendo. Durante uma tarde normal de trabalho, recebi um telefonema e precisei levar um funcionário meu para averiguação de um problema. Tudo se esclareceu e, depois, ao conversar com um amigo, ele me disse que o funcionário se sentiu tranquilo porque eu permaneci ao lado dele. Pela primeira vez pude experimentar concretamente o que é ser uma testemunha no auxílio do próximo como fonte de verdade e de vitória para uma sociedade que necessita mais do que amigos. Necessita de um olhar apaixonado pelo destino do outro como aconteceu para mim.
Eliza,
Teresópolis – RJ
Sem pretensão
Tenho 30 anos, um trabalho que amo, muitos amigos, e o que sou hoje eu o devo, em boa parte, à educação recebida no Movimento. Há pouco tempo, depois de uma grave depressão, desenvolvi uma dependência que, em maio último, me obrigou a transferir-me para uma outra cidade, para um ciclo de terapias num centro especializado. Logo os médicos me convidaram a olhar de frente a minha doença e a dos meus colegas, sem me refugiar em comportamentos autodestrutivos na tentativa de censurá-los. Compreendi que sozinha eu não conseguiria, e com um pouco de medo entrei em contato com os amigos do Movimento dessa cidade. Eu me sentia incomodada, era difícil explicar por que eu estava ali, mas a minha necessidade era (e é) tão grande que me fez superar qualquer escrúpulo. Comecei a participar das atividades deles, encontrei pessoas que me acolheram com zelo discreto e afetuoso. E esse foi o primeiro milagre: a companhia deles não só me deu força, mas reforçou as terapias. Em especial, a Escola de Comunidade foi importantíssima para enfrentar as passagens, muitas vezes dolorosas, com mais racionalidade e adesão ao real. E depois aconteceu um outro milagre. É hábito do Centro dedicar toda terça-feira aos parentes dos pacientes que querem acompanhar seus entes queridos durante o tratamento. Dos meus familiares não veio ninguém, e aos poucos a coisa começou a ficar pesada para mim. Então, pedi a Paola, a pessoa que me inspirava mais confiança, que viesse numa terça-feira ao Centro para me encontrar. Lembro ainda do seu rosto preocupado com o meu pedido, mas aceitou e veio. Paola era perfeita: sorriso encantador, uma família maravilhosa, que passou pela provação de uma grande Cruz, aceita com humanidade e alegria. Eu não via a hora de chegar a terça-feira, mas quando Paola chegou tive que encarar de frente a minha pretensão de que ela fosse minha mãe e que sua família fosse a minha. Assim, quando, por causa de um compromisso, ela teve que sair antes do final da terapia, desabei. E a partir daí começou a virada, porque o afeto tão puro e gratuito que ela e os outros amigos me fizeram experimentar é um dom tão importante quanto o da vida. E assim, por mais ferida que eu estivesse, porque não recebia dos meus familiares o afeto que desejava, fui obrigada a reconhecer que só Cristo é capaz desse amor. Compreender isso foi o início da cura e me libertou da pretensão de receber dos outros um amor “absoluto”, do qual ninguém, estruturalmente, é capaz. Além disso, comecei a compreender os meus parentes, até mesmo a perdoá-los, e a mudar o meu olhar sobre eles, aceitando o bem que podem me dar. Paola veio outras vezes, acompanhando-me com discrição e ternura, me acolheu após uma briga com os meus colegas de terapia sem se escandalizar e sem me julgar. No início de setembro, voltei para casa. Retomei meu trabalho, agradecida por aquele encontro de tantos anos atrás que se renovou por meio desses amigos inesperados. Com eles, comecei a crescer.
Carta assinada
Homens verdadeiros
Caros amigos, estou cada dia mais surpreendido pelo povo que o Senhor fez surgir, depois daquelas pobres, mas sinceras palavras ditas no Meeting de Rímini, a respeito de minha insignificante pessoa. Tenho recebido uma centena de e-mails que tento responder, e não posso não fazê-lo, porque cada carta é um grito, uma ferida, é o humano na sua verdade mais profunda, mais verdadeira, mais dramática. Cartas, todas elas, que não precisam de resposta, de discurso, mas de uma companhia humana, a mesma companhia que Giussani fez a mim, que padre Alberto fez a mim. Aquela companhia que não necessita agendamento, secretárias, reuniões, mas, sim, de um afeto que abraça tudo do outro, nas 24 horas do dia. Relendo outras vezes o que escreveram, revivo aquele drama terrível e belo, de quando Giussani, em maio de 1989, em Riva Del Garda, me disse: “Como seria belo que alguém fizesse companhia para você nos próximos meses”. Levantei a cabeça, surpreso e cheio de dor e lhe disse: “Mas, Dom Giussani, onde encontrarei um padre ou um leigo disposto a fazer companhia a um deprimido?” Recordo seus olhos cheios de ternura e suas palavras: “Está bem, levarei você comigo e pagarei tudo”. Vocês percebem, caros amigos que sofrem, o que quer dizer encontrar um homem que lhe diz isso? Depois de Dom Giussani, encontrei-me a sós com padre Alberto, italiano de Forli, hoje no Equador, a respeito de quem Giussani havia dito: “É um homem inteligente e humilde.” Então, eu gostaria de ser para cada um de vocês que sofrem, um pouco como estes homens dos quais Deus se serviu para fazer de mim um homem. Percebo minha impotência e a ofereço, todas as manhãs, levantando-me às 4h45 para estar com vocês diante do Santíssimo, em Sua companhia, porque Ele se ocupa de cada um de vocês. E, depois, todos temos testemunhas às quais olhar, pequenas ou grandes que sejam. Peçamos a graça de acolher-nos onde estamos, a fim de que o clericalismo (inveja, ciúme, esquematismo) não tome conta de tudo. Principalmente, olhemos para Julián Carrón que é quem mais vive, sente e ama o carisma de Dom Giussani, fazendo-nos vibrar. De repente, ouvindo-o falar, disse, como aqueles que escutavam Jesus: “Este, sim, fala com autoridade”. Lembro-me bem da primeira vez em que o ouvi: parecia-me ouvir Dom Giussani. E era o meu coração que o dizia, tanto é verdade que depois, quando voltava para casa, sentia-me como aqueles dois de Emaús que diziam: “Não sentíamos o coração arder enquanto falávamos com Ele?”. Devemos olhar para ele, não porque é um “padre”, mas porque é um homem e apenas um homem pode ser companhia para outro homem. E hoje, olhando cada um de vocês, percebo que me procuraram, não porque sou um “padre” mas porque sou homem, um pobre homem, mas consagrado a Jesus. No sofrimento mais agudo, como aquele que Pavese definia como “o mal de viver”, Deus me fez conhecer toda a minha humanidade, que, por anos, me tinha causado desgosto e medo, porque é terrível descobrir o que se é, de fato, um misto de lama e de grandeza. Porém, superei esse desespero, encontrei uma grande companhia à qual me afeiçoei completamente. Depois de quase vinte anos, posso gritar a alegria de viver. Alegria que não tem nada de emotivo, mas que é a certeza de ser, a cada instante, escolhido por Jesus. Vivo comovido, cada dia, pensando naquele homem que, a despeito de meus irmãos e de todos os especialistas, ainda que formadores de consciência, ao invés de mandar-me ao neurologista de Feltre, mandou-me ao Paraguai dizendo-me: “Agora sinto segurança em você!” E eu, mais descrente que o Apóstolo Tomás, obedeci; e, vejam o que Deus está fazendo com este deprimido. Pois Deus, uma vez mais, quis mostrar que “não está nem aí” para os nossos pensamentos, o nosso equilíbrio, os nossos projetos. E a minha história é uma evidência. Por isso, quando me dizem: “Precisa repousar, precisa, precisa, etc.”, respondo: “Desculpe-me, mas, eu não faço nada, eu repouso. É Ele quem faz e apenas me pede para anunciar a quem encontro o que Ele é para mim. Não tenho relacionamentos econômicos, políticos ou sociais; apenas relacionamentos missionários: comunicar a todos a beleza de Cristo”. Caros amigos, desejo a cada um aquele abraço com o qual Dom Giussani me fez reviver; desejo para todos vocês que me escrevem, muito machucados pela dor, que possam encontrar um padre que seja um homem, ou um leigo que seja um homem, que os acolha como eu fui acolhido quando encontrei Dom Giussani, que lhes permita descobrir a beleza dramática da vida. De minha parte, não conheço cansaço nem horário para responder-lhes, para contar-lhes os milagres que vejo todos os dias. Desejo-lhes apenas que sejam simples, que não tenham medo de sua humanidade e que procurem homens verdadeiros. Não digam que é difícil porque tudo depende do pedido de cada um. Pedido pequeno, resposta pequena, homens pequenos. Quando alguém está mal, procura o melhor para curar-se. Agradeço a todos pela amizade que me testemunham.
Padre Aldo,
Assunção – Paraguai
Acontecimento
Em uma conversa casual numa pizzaria, padre. Gigio me contou do grande evento que haveria em Salvador – a inauguração da Igreja de Cristo Ressuscitado, em Alagados – e me convidou para fazer uma escala lá antes de prosseguir para um Congresso em Natal. Como Deus foi misericordioso comigo! Além da festa na Igreja pude participar de um dia de convivência com as Famílias para Acolhida e da Assembleia de padre Carrón com a comunidade. A inauguração da igreja foi experiência extraordinária: experiência da beleza imensa, seja pela igreja física, com vitrais e painel do Claudio Pastro na entrada, seja pela Igreja viva, que lotava todo o espaço uma hora antes de começar a missa. Fiquei muito comovida por participar deste acontecimento que marca os 20 anos de história da comunidade de Salvador, que teve início, como a minha história, por meio da presença de Dom João Carlos Petrini. No início da celebração ele contou sobre a amizade presente durante todos esses anos naquele lugar e dizia que a partir de hoje, quando os sinos tocassem, eles poderiam se lembrar de que não estão sós, que Cristo deseja estar presente em tudo, na luta com o filho adolescente que está meio confuso ou na luta diária. Cristo ressuscitado habita os Alagados e pode ser tocado com mãos humanas. Depois, a assembleia com Carrón foi uma explosão de vida, não de discurso. As pessoas pediam ajuda para fazer experiência da liberdade na situação concreta da família, da universidade, do trabalho ou testemunhavam como já viviam isso. Sobre a Escola de Comunidade, Carrón disse que a regra é essa: todos devem comunicar o que vivem, testemunhar o que descobriu naquela semana em suas vidas, pois Cristo não é um discurso, mas uma experiência, um acontecimento. A minha experiência é a de ser atraída por Cristo o tempo todo: pela disponibilidade das pessoas em me acolher, particularmente da Telma, Dudu e Moisés que me hospedaram, pela beleza da natureza, seja pelo desejo de que esse gosto de vida nova permaneça conosco ou pelo grito silencioso e solitário que vejo presente em tantos professores no Congresso, alguns deles embasbacados pela minha amizade com o Júlio. É Cristo quem pede para me amar e para que eu O ame. Como resistir?
Sílvia,
São Paulo – SP
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón