Siriano vive há quatro anos como refugiado com a mulher e os filhos. Mas ele pode trabalhar e os filhos podem estudar. Há também Maha, em Erbil, Débora, no Sudão do Sul e os milhares de rostos que precisam de acolhida na Europa. Ou nas “terras do meio” da Jordânia e do Líbano... Aqui estão os projetos apoiados este ano pela anual Campanha da AVSI
Deborah Yomjima é professora. Dá aulas na escola de ensino fundamental São Kizito, de Juba, no Sudão do Sul. Uma profissão que lhe agrada, mas que jamais pensou poder exercer. Quando criança, conheceu a guerra, aquela mais dura. Obrigada a fugir de seu vilarejo, encontrou alguns voluntários da Fundação AVSI. E foi aí que sua vida mudou.
Encontramos seu rosto sorridente no caminho traçado pela anual “Campanha Tendas” através da qual a AVSI recolhe fundos para projetos de ajuda em todo o mundo. O caminho, este ano, acompanha o doador em um percurso que parte de lugares distantes – como o Sudão do Sul, Irã e Iraque – para ajudar os desabrigados e as pessoas necessitadas do lugar e, depois, continua em projetos de ajuda a refugiados e migrantes abrigados em países estrangeiros (como Líbano ou Jordânia), até chegar à Europa, meta final e sonhada por milhares de civis que fogem da guerra.
“Aprendi o valor da gratuidade, recebi muito”, conta Deborah que, tendo sido mantida pelo apoio à distância por uma família que mora longe, pôde estudar, se formar e, por fim, ensinar: “Agora quero me envolver pessoalmente com os estudantes que encontro todos os dias. Essa escola, embora com estruturas provisórias, é uma realidade importante que recebe ajuda. No Sudão do Sul, normalmente as aulas acontecem debaixo das árvores...”.
De Juba a Aleppo. Não é por acaso que este ano as Tendas apoiem – entre os seis projetos – também a reestruturação da escola de ensino fundamental São Kizito que, com 1.723 estudantes, hoje é a mais frequentada da cidade. O Sudão do Sul, país mais jovem do mundo, ainda é marcado por uma violência fratricida que parece não ter limites. Quase dois milhões de pessoas foram obrigadas a deixar suas casas por causa dos confrontos tribais. Milhares são recebidas em Centros de Acolhida, outras em campos informais que surgiram na capital, Juba. Então, a AVSI se colocou em ação.
Mas não é só a África que precisa de ajuda. A Síria e o Iraque também vivem uma situação assustadora por causa da guerra e da chegada do grupo terrorista ISIS. Basta pensar na belíssima Aleppo, hoje destruída: a cidade vive assediada há meses, sob o ataque de bombas e morteiros. Dividida em áreas controladas por facções diversas que travam combate incessantemente, é bombardeada todos os dias e está sem água e eletricidade, 80% dos habitantes perderam o emprego e vivem na miséria.
Para responder a essa emergência humanitária, a AVSI decidiu apoiar as atividades da Custódia da Terra Santa, coordenadas pela Associação Pró Terra Santa. A prioridade agora é o Centro de Acolhida de Aleppo, que fica na paróquia de São Francisco, no bairro cristão de Azizieh.Lá, as famílias encontram um lugar para dormir, comida, roupas, remédios, mas sobretudo um lugar de paz e de acolhida. Os monges organizam a reconstrução das casas, fornecem assistência psicológica, animam a vida e as atividades paroquiais. “Dar assistência a quem está em dificuldades sem distinção de raça e religião é o sentido da missão franciscana na Síria. Ajudem-nos a permanecer na Síria”, lembrou padre Pierbattista Pizzaballa, guardião da Terra Santa.
A situação não é diferente no Iraque, e quem nos conta é Maha. Originária de Mosul, no norte do país, ficou desabrigada no Curdistão iraquiano junto com o marido e as duas filhas, Anna e Eliane. Professora de religião, casada com um professor de língua siríaca, viveu meses difíceis. “Fugimos por causa da guerra e, depois de várias peregrinações, chegamos aqui, onde minha filha pode ir à creche graças à AVSI. Este é um lugar seguro onde podemos deixá-la todos os dias e dar-lhe a possibilidade de aprender algo de novo”. Como as milhares de pessoas fugidas da Planície de Nínive, perseguidas pelo Califado, Maha não se resigna e procura proporcionar às filhas um pouco de normalidade. Na capital curda, Erbil, vivem hoje cerca de 250 mil desabrigados e refugiados de diversos grupos étnicos: junto com a população curda, estão minorias cristãs e yazide ou muçulmanos que não aceitaram continuar no autoproclamado Estado Islâmico. A ajuda hoje se concretiza na manutenção de uma creche gerenciada por uma comunidade de freiras dominicanas que acolhe cerca de 130 crianças e que, nos próximos meses, precisará suprir todas as necessidades básicas, dos custos da alimentação à energia elétrica e aquecimento.
Sultan Fawaz Jalloul, sírio, vem de Idlib. Sua família se abriga no Líbano há quatro anos. Vive em uma tenda com a mulher e cinco filhos: “Como trabalhador temporário, eu atravessava a fronteira Líbano-Síria frequentemente. Quando a situação na Síria piorou, fiquei aqui. Neste campo para refugiados, temos duas possibilidades: as crianças podem ir à escola e nós, adultos, podemos trabalhar, obtendo um futuro melhor e sem depender de doações”. O Líbano e a Jordânia acolhem, hoje, milhares de refugiados sírios e iraquianos. No Líbano, a presença “estrangeira” constitui mais de um quarto da população: uma bomba relógio para um país com uma grande instabilidade política. Na Jordânia, o campo de refugiados de Za Atari já é tão grande quanto um dos centros urbanos. A AVSI criou, para essas pessoas, o projeto “Última Milha”: assim é definido o espaço que há entre o ponto no qual chegam as ações, as intervenções da cooperação internacional e as necessidades efetivas das pessoas. É aí que entram as intervenções da Fundação: a Campanha Tendas pretende ajudar 750 famílias de refugiados sírios, iraquianos e palestinos com bens de primeira necessidade, favorecendo o acesso à instrução dos jovens e melhorando a autonomia das famílias.
Hospitalidade e acolhida. Em Milão, encontramos Selam, uma refugiada eritreia de 22 anos que atravessou o deserto, o mar, a Itália, arriscando a vida, mas sempre enfrentando o medo de frente. Com ela, a filha de três anos. Teve sorte, grande parte dos companheiros de viagem não conseguiram chegar à Europa. Ela sim, junto com aquele grupo de refugiados que invadiu a Estação Central de Milão em outubro de 2013. Desde então, passaram por ali (foram acolhidos e, depois, foram embora) cerca de 70 mil migrantes, dos quais 15 mil, crianças. A maioria provém não só da Síria e da Eritreia, mas também do Sudão, de Mali, Gana, Etiópia, Paquistão, Afeganistão, Iraque, Nigéria e Líbia. Todos saíram em busca de uma vida mais digna, e sobretudo em busca de paz.
Para responder a essa necessidade, a AVSI ajuda a Fundação Projeto Arca: um ponto de recepção, orientação e acolhida de cidadãos estrangeiros de passagem por Milão, e nasceu em colaboração com a Prefeitura local e outras Associações sem fins lucrativos. Junto com Deborah, Selam, Maha e todos os milhares de rostos em espera, também ajuda Ahmad, sírio de 30 anos que hoje é abrigado pela Caritas Ambrosiana. Nos projetos promovidos pela Caritas, a acolhida é sempre acompanhada de formas de ajuda à emancipação e inclusão social. Por isso o projeto “Da hospitalidade à acolhida”, o último apoiado pelas Tendas, compromete-se em arrecadar fundos para fornecer alojamento e, ao mesmo tempo, oferecer bolsas de trabalho e estágios que favoreçam a requalificação profissional das pessoas acolhidas. A Campanha começa!
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