Entre 26 e 29 de maio, noventa jovens de todo o país se reuniram em São João del-Rei para participar das férias nacionais dos colegiais. Aqui, o testemunho do professor Marcelo, de Belo Horizonte, um dos organizadores do encontro
Para mim, as férias dos colegiais começaram de verdade com dois acontecimentos: quando Sêmea perguntou se eu queria a ajuda da Amanda e com a morte de meu pai. Foram acontecimentos quase simultâneos.
Com a morte de meu pai, foi possível religar tudo o que vinha acontecendo. Através de minha abertura para comparar algumas questões sobre o seu enterro, quando os médicos anunciaram que estaria próxima a morte, fui abraçado desde os amigos que me acolhiam nas demandas até o Evangelho do dia de seu enterro: quando Cristo pergunta se os apóstolos também não iriam embora como a multidão tinha ido... Passagem que lembra muito a minha experiência no Movimento e que Dom Giussani e seus amigos sempre repetiam com beleza de sentido.
Dessa forma foi possível entender que a ajuda de Amanda me fazia mais. Não porque ela iria dividir as tarefas comigo e conseguiríamos cumprir todas as atividades necessárias com “qualidade total”, mas por ter uma amiga que está fazendo um belo caminho de vida ao meu lado.
Comecei a viver cada dia com uma intensidade impressionante. Às vezes, ficava pensando se não era pecado ficar assim, mais que feliz, mais do que essa felicidade anunciada nos programas das manhãs televisivas, assim, com uma tensão-feliz, após a morte de meu pai, um pai-amigo por ter me ensinado a ter um coração desprendido. Às vezes, algumas pessoas vinham me consolar, e eu é que acabava consolando-as.
Depois, vinha a expectativa de encontrar a comunidade de São João del-Rei, que está fazendo uma experiência bela. Vivia com uma companhia que me dava muito trabalho, mas também me requisitava a dar as razões, seja pelas dificuldades que enfrentava, seja pelas explosões criativas que, na reta final da preparação das férias, surgiam. Eu precisava constantemente dar os porquês daquilo tudo, sendo professor, pai de dois filhos, ou seja, sem muito tempo para responder adequadamente às demandas. Ainda por cima, não ter conseguido ir aos Exercícios Espirituais da Fraternidade, por causa da proprietária do imóvel em que morava ter solicitado a casa e eu precisar preparar uma mudança que não estava programada para o primeiro semestre.
Olhando agora, tinha tudo para eu estar “jogando a toalha”. Pai hospitalizado desde janeiro, sem férias e, quatro meses depois, sua morte. Mudança inesperada, excesso de trabalho e condição financeira ruim...
Topar participar, porém, das “jornadas de início de ano” (em outubro/2015, adultos, fevereiro/2016, colegiais), fazer os doces com os colegiais para vender para ajudar a pagar as férias, estar na companhia de Sêmea, mesmo que distante, Marquinho, Amanda, o meu grupo de Fraternidade, e minha esposa (uma das maiores educadoras que conheço), fizeram-me não olhar para os limites, mas para o caminho que Cristo me oferecia.
Depois, as férias em si foram repletas de acontecimentos duros e divinos, sem que um viesse separado do outro. Assim é a vida! O que mais me impressionou foi a capacidade entre nós, educadores, de nos abraçarmos como Cristo, seja pela beleza da companhia operativa de Bete, Dener, Juliana, Júnior, Rita e seu marido (todos de São João), pela bela e saborosa comida, pela presença dos franciscanos ou pela abertura contagiante dos meninos. Se não concordávamos com o que acontecia, não parávamos, nos oferecíamos. Uma disponibilidade tão grande, a ponto de perceber que, no limite do ser “pai de minha filha colegial”, de não conseguir cuidar direito dela, vinham as amigas, as mães de muitos filhos, Mônica, de São Paulo e Rita e Bete, e cuidavam dela.
Ah, também não posso deixar de relatar a homilia de Frei Jaime, sobre o Evangelho do oficial romano, no domingo de Corpus Christi. Além da companhia dos franciscanos no Postulantado da Cruz de São Damião, perceber a diversidade e unidade do catolicismo é um milagre num tempo em que tudo diz o contrário. Ao ouvir o Frei, parecia ouvir Dom Giussani, mesmo com a “roupagem” da ordem de São Francisco.
As duas semanas que se seguiram foram marcadas pelo acontecimento das férias dos colegiais. Mas um, em especial, é ícone dos outros acontecimentos: logo na segunda-feira, às 7h, tinha uma reunião com os auxiliares de inclusão da minha escola. São funcionários de nível de ensino médio e estudantes de faculdade que acompanham os alunos com alguma deficiência ou síndrome. Minha colega coordenadora havia me informado por mensagens no celular que desejava reunir-se somente com os auxiliares que havíamos escolhido para acompanhar um cadeirante novato, afastado da escola há dois anos por displicência da mãe. Caso muito difícil de ser acompanhado. Já havíamos iniciado uma reunião com eles na quarta, antes do feriado de Corpus Christi. Os auxiliares estavam muito arredios com a situação. Ninguém queria se dispor a ficar com o estudante, empurrando para a coordenação uma escolha de quem seria o acompanhante, sem uma discussão mais adulta e profissional. Eu disse a minha colega coordenadora que eu tinha algo para falar para todos na segunda-feira. Por ter ouvido o testemunho de Letícia de São Paulo, sobre os seus três amigos deficientes, fiquei completamente cheio de coragem e beleza para contar a eles a experiência que tinha vivido: uma menina de 16 anos havia me ensinado a ser mais professor que todos os 18 anos de profissão de minha vida...
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