Mensagem do Papa Francisco para a 37º edição do Meeting pela amizade entre os povos. A mensagem foi escrita por Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano, e enviada a Dom Francesco Lambiasi, Bispo de Rímini
Excelência Reverendíssima, por ocasião do XXXVII Meeting pela amizade entre os povos, sinto-me feliz por enviar a Vossa Excelência, aos organizadores, aos voluntários e a quantos participarem no encontro a saudação de bons votos do Santo Padre Francisco, juntamente com meus melhores votos de bom êxito para esse significativo evento.
O título do encontro – “Tu és um bem para mim” – é corajoso. Com efeito, cumpre ter coragem para afirmá-lo, enquanto tantos aspectos da realidade que nos circunda parecem conduzir ao sentido oposto. Muitas vezes cedemos à tentação de nos fecharmos no horizonte limitado de nossos próprios interesses, de modo que os outros se tornam algo de supérfluo ou, pior ainda, um incômodo, um obstáculo. Mas isto não é conforme à nossa natureza: desde criança descobrimos a beleza do laço entre os seres humanos, aprendemos a encontrar o outro, reconhecendo-o e respeitando-o como interlocutor e como irmão, pois filho do Pai comum que está nos céus. Por sua vez, o individualismo afasta das pessoas, vê sobretudo os limites e os defeitos, enfraquecendo o desejo e a capacidade de uma convivência em que cada um possa ser livre e feliz em companhia dos outros com a riqueza da diversidade deles.
Diante das ameaças à paz e à segurança dos povos e das nações, somos chamados a tomar consciência de que é primeiramente uma insegurança existencial o que nos faz ter medo do outro, como se fosse um antagonista nosso que nos priva de espaço vital e ultrapassa as fronteiras que construímos para nós. Diante da mudança de época em que todos estamos envolvidos, quem pode pensar em salvar-se sozinho e com suas próprias forças? É a presunção que está na origem de todo e qualquer confronto entre os homens. A exemplo do Senhor Jesus, o cristão sempre cultiva um pensamento aberto para o outro, quem quer que seja ele, porque não considera nenhuma pessoa como perdida definitivamente. O Evangelho oferece-nos uma imagem sugestiva dessa atitude: o filho pródigo que pastoreia os porcos e o pai que todas as noites sai ao terraço para ver se ele volta para casa e espera, apesar de tudo e de todos. Como mudaria o nosso mundo se esta esperança sem medidas se tornasse a lente com que os homens se olham entre si! O publicano Zaqueu e o bom ladrão na cruz foram olhados por Jesus como criaturas de Deus necessitadas do abraço que salva. E até mesmo Judas, justamente enquanto o entregava a seus adversários, ouviu Jesus chamá-lo “amigo”.
Há uma palavra que jamais devemos nos cansar de repetir e, sobretudo, de testemunhar: diálogo. Descobriremos que nos abrirmos aos outros não empobrece nosso olhar, mas nos torna mais ricos, porque nos faz reconhecer a verdade do outro, a importância de sua experiência e o contexto daquilo que diz, mesmo quando se esconde por trás de posturas e escolhas que não compartilhamos. Um verdadeiro encontro implica a clareza da própria identidade, mas ao mesmo tempo a disponibilidade a pôr-se no lugar do outro para entender, por baixo da superfície, o que agita seu coração, o que realmente busca. Desta forma pode ter início aquele diálogo que permite avançar no caminho rumo a novas sínteses que enriquecem a um e a outro. Este é o desafio diante do qual se encontram todos os homens de boa vontade.
Muitas desordens de que muitas vezes nos sentimos testemunhas impotentes são, na verdade, um convite misterioso a reencontrarmos os fundamentos da comunhão entre os homens para um novo início. Diante de tudo isto, que contributo nós, discípulos de Jesus, podemos dar? Nossa tarefa coincide com a missão para a qual Deus nos escolheu: é “o anúncio do Evangelho, que hoje, mais do que nunca, se traduz sobretudo em sair ao encontro das feridas do homem, levando a presença forte e simples de Jesus, a sua misericórdia que consola e encoraja” (Francisco, Discurso na entrega do Prêmio Carlos Magno, 6 de maio de 2016).
É este o voto do Santo Padre, o qual encoraja os participantes do Meeting a prestar toda atenção ao testemunho pessoal e criativo, na consciência de que o que atrai, o que conquista e liberta das correntes não é a força dos instrumentos, mas a tenaz brandura do amor misericordioso do Pai, que todos podem extrair da nascente de graça que Deus oferece nos Sacramentos, especialmente a Eucaristia e a Penitência, para então os doarem aos irmãos. Ele exorta a continuar no empenho de proximidade aos outros, dando o melhor de si em servi-los com alegria, segundo o ensinamento de Dom Giussani: “O olhar cristão vibra por um ímpeto que o torna capaz de exaltar todo o bem que há em tudo o que se encontra, na medida em que faz com que o reconheça partícipe daquele desígnio cuja atuação ficará completa na eternidade e que em Cristo nos foi revelado” (L. Giussani; S. Alberto; J. Prades, Generare tracce nella storia del mondo. Milão: Rizzoli, 1998, p. 157).
Com estes sentimentos, Sua Santidade invoca sobre Vossa Excelência, sobre os organizadores, os participantes e os numerosos voluntários do Meeting pela amizade entre os povos, a luz do Espírito Santo para uma fecunda experiência de fé e de comunhão fraterna e, enquanto pede que se reze por ele, de bom grado concede a Bênção Apostólica.
Do Vaticano, 2 de agosto de 2016
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