A data se aproxima: dia 20 de novembro o Papa Francisco fechará a Porta Santa. O Ano da Misericórdia vai terminar, pelo menos formalmente. Mas não há nada maior e mais verdadeiro – nada que nos fale mais de Deus – do que algo que passe através da forma da nossa finitude (o espaço de uma porta, o tempo de doze meses) para dilatá-la, transfigurá-la, para fazer com que essa mesma forma se torne sinal imponente do infinito. E o Jubileu é isso.
Nas últimas semanas, ouvimos várias pessoas dizerem: "Como seria belo se este Ano prosseguisse por mais tempo". Não por uma questão sentimental, ou por um apego às liturgias, às catequeses papais, a certos momentos fortes, mas porque – evidentemente – toca fundo numa necessidade real e gostaríamos que uma resposta tão poderosa à nossa sede de perdão nunca terminasse.
Bem: o belo é que de fato é assim mesmo. O perdão de Deus é eterno. Sempre é tempo de misericórdia. E esse dom que o Papa quis oferecer à sua Igreja, este Jubileu de que todos nós tínhamos – temos – tanta necessidade, mesmo sem que o percebêssemos, serve justamente para que tomemos consciência dele.
No mês de outubro, no Santuário mariano de Caravaggio, na Itália – e em Aparecida do Norte no Brasil e em tantas outras igrejas do mundo –, aconteceu a peregrinação jubilar de CL. Coincidiu com o início do ano social (europeu), com a retomada normal das atividades ordinárias e da caminhada do dia a dia. Não é o caso. "Sem misericórdia não se pode caminhar", lembrou Julián Carrón, guia do movimento. "Sem perdoar e ser perdoado, nenhum relacionamento teria possibilidade de perdurar". Sem o abraço de Cristo, que desce até ao abismo do nosso limite, como aconteceu com Pedro, simplesmente não poderíamos viver.
Aliás, "não entendo como é possível pensar em fazer uma caminhada sem retornar ao sim de Pedro", reforçou o mesmo Carrón. "Do contrário, como poderíamos recomeçar? Não é possível a moralidade sem uma Presença". Por isso, "uma história particular é a pedra angular da concepção cristã do homem, da sua moralidade", como dizia Dom Giussani. "Porque a misericórdia é uma pessoa, a misericórdia tem um rosto: chama-se Jesus Cristo e se desvela na relação contigo como se desvelou na relação com Pedro; apesar de todos os seus erros, das suas quedas, das suas traições, nada disso constituiu uma objeção. Nós só podemos retomar a caminhada se Ele nos une de novo a Si".
Uma história particular. Um rosto, um encontro, no qual a misericórdia de Cristo se desvela para nos atrair a Si. Parece pouco. No entanto, quando acontece, muda tudo. A névoa se dissipa. Caminha-se. Até mesmo a incerteza difusa que invade o nosso mundo – aquele "medo existencial" – se reduz. Mesmo em meio a essas mudanças atuais tão poderosas podemos ganhar a certeza que ajuda a viver, como o demonstram as pequenas histórias que contamos na reportagem de capa, ou tantos outros testemunhos que o leitor encontra neste número. São histórias particulares: cotidianas, à primeira vista insignificantes. Mas acontecem. E, ao acontecer, mostram um caminho. Para todos.
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón