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Passos N.186, Novembro 2016

CAPA

Como reavivar o dom recebido

por Angelo Scola

A homilia do Cardeal Scola na Santa Missa em Caravaggio.

"Aumenta em nós a fé" (Lc 17,5). Assim os Apóstolos respondem ao apelo misericordioso de perdoar sempre (cf Lc 17,1-4) dirigido a eles pelo Senhor. A misericórdia, de fato, retomando uma expressão de dom Giussani, é uma coisa "do outro mundo neste mundo", por isso exige que a nossa fé cresça.
A uma tal consciência do mistério da divina misericórdia o Papa Francisco – na trilha dos seus predecessores Bento XVI e são João Paulo II – incita incessantemente quem pretende participar do carisma do caríssimo Servo de Deus Monsenhor Luigi Giussani; a ele deve incessantemente se converter. Tanto mais quando nos encontramos numa situação de incompreensão recíproca, algo que ocorre com uma certa normalidade nos acontecimentos humanos. As palavras do apóstolo Paulo a Timóteo – "Exorto-te a reavivar o dom espiritual que Deus depositou em ti [...]. Guarda o bom depósito, por meio do Espírito Santo que habita em nós" (2Tim 1,6.14) – descrevem o conteúdo da responsabilidade de cada membro do Movimento. Não assumir a misericórdia como imprescindível para a pessoa numa autêntica comunhão – e, portanto, como critério de realização prática da existência – levará inevitavelmente à perda de qualidade na sequela do carisma recebido.
De fato, a misericórdia permite que se salve previamente toda diversidade, qualquer sensibilidade, toda convicção no horizonte da unidade. Por isso, sempre, em toda autêntica realidade eclesial, a misericórdia é a bússola tanto de quem guia quanto de quem segue. (...)

Mas como se faz para reavivar, para guardar o dom recebido? É o mesmo Apóstolo quem nos indica a via suprema: "Não te envergonhes, pois, de dar testemunho do Senhor" (2Tim 1,8). E o testemunho começa por quem é mais próximo de nós, começa no interior de cada realidade eclesial.
"Testemunha" é o nome do cristão, descreve a sua experiência de conhecimento da realidade e da comunicação da verdade. (...) É testemunha quem teve a graça de ser alcançado pela Verdade viva e pessoal que é Jesus Cristo: "Não somos nós que possuímos a Verdade depois de tê-la buscado, mas é a Verdade que nos procura e nos possui" (Bento XVI, Audiência geral, 14 de novembro de 2012). Reavivar e guardar o dom recebido é, pois, deixar-se possuir pela Verdade que é Jesus, segundo a forma com a qual foi recebida, sem defesas, sem pretensões, sem pensar que já chegou. Não existe fiapo da experiência humana que não seja iluminado pela presença misericordiosa de Jesus. Afetos, trabalho, repouso... as dimensões da existência humana se tornam assim os âmbitos de encontro com todos, os lugares nos quais os nossos irmãos podem reconhecer a conveniência humana da fé. Só como morada das testemunhas é que a Igreja se apresenta como mundo transfigurado (Ecclesia forma mundi). É na Igreja e em todas as suas formas de realização que, há dois mil anos, homens e mulheres de qualquer etnia, cultura e estrato social continuam a reconhecer a beleza de Jesus, Rosto da misericórdia.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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