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Passos N.188, Fevereiro 2017

TESTEMUNHO | ITÁLIA

A hora da catequese

por Paolo Perego

A história de um grupo de amigos sicilianos. Através da experiência deles podemos entender como, em qualquer idade, um rosto que entra na vida tem a força de mudá-la totalmente

“O que vocês estão fazendo?”. A voz de padre Salvatore surpreende os meninos que continuam no pátio da igreja, já deserto. Só um responde: “Não estamos fazendo nada”. O sacerdote se aproxima. Há mais de trinta anos é pároco nesta paróquia siciliana e nunca havia visto aqueles rostos. Observa-os: devem ter por volta de treze anos. “Como você se chama?”. “Alessio, na verdade fui batizado aqui”. “E, na verdade, é hora do jantar, vocês não podem ficar. Vão jogar na praça”. Tem um pouco de medo que eles causem algum estrago e um pouco que possam se machucar. O menino não se move. E bancando o esperto, diz: “Realmente, estava aqui para perguntar... Quando são as aulas de catecismo?”. Padre Salvatore ri: “Sábado à tarde. E então? Você vai vir?”. “Estarei aqui”. Tem certeza de que não o verá mais. Porém, no sábado seguinte, Alessio aparece. O mesmo ar arrogante. Ainda não fez a Primeira Comunhão e padre Salvatore o coloca no grupo que está se preparando para receber o Sacramento.
Passam-se duas semanas e a catequista vai falar com o pároco: “Não quero mais ‘aquele’ na turma. Provoca as meninas, não fica quieto um minuto. Chega!”. Padre Salvatore o chama para conversar: “Olha, você vai fazer catecismo comigo. Só eu e você”. Também desta vez tem certeza de que não voltará. E mais uma vez Alessio aparece. Ele, que na escola é chamado de “hiperativo”, naquela hora fica quase calado e escuta atento. O que são os Sacramentos, o pão e o vinho que se tornam corpo e sangue de Cristo, tudo o que ouve grava na mente e no coração. Mas aquela hora não é suficiente para ele. Todos os dias vai ver padre Salvatore. “Hoje vou ficar um pouco com o senhor” e depois vai embora, faz uma série de perguntas, “porque quero aproveitar tudo”.

Diante dos professores. Na escola continua hiperativo, o que para a maioria é sinal de rebeldia e pouco interesse. Mas ele tem um interesse. Durante a aula de Matemática o professor o surpreende lendo a Bíblia e o livro de catecismo. A maior parte do tempo fica nos corredores da escola. Um dia, durante o intervalo, entra na sala dos professores. Um docente o para: “O que está fazendo aqui? Disseram-me que você começou a contar as parábolas da Bíblia aos seus colegas. E parece também que o escutam”. Ele, decidido, responde: “Se quiser posso lhe contar uma”. “Está bem”. Alessio se acomoda em uma cadeira e começa: “Havia um homem que tinha um campo...”. Aos poucos os outros professores se aproximam para escutar a parábola do bom semeador. Silêncio até o último instante. Alguns dias depois, um professor lhe diz: “Gostaria de conhecer esse padre para saber que método usa para domesticar você”. Ele ri.
Uma noite, fala para a mãe: “Estava pensando: por que você também não faz a Primeira Comunhão?”. “Alessio, não tenho tempo. Não vou nem à missa”. Ele responde: “Tempo se acha. Você precisa ir”. A mulher olha para o seu Alessio, tão mudado. De onde lhe vem toda essa certeza? Mas ela está irredutível. Assim como o jovem: “Mãe, vamos fazer assim: você vai falar com o padre Salvatore e depois decide”. Isso, pode fazer. Numa noite, ela vai conversar com o pároco: “Sou a mãe de Alessio. Meu filho praticamente me obrigou a vir para falar sobre o catecismo, mas não tenho tempo...”. Padre Salvatore a para: “Olhe, damos catecismo às donas de casa nas residências quando os filhos estão na escola. Você poderia se juntar ao grupo da Concettina. O que acha?”. Ela conhece bem Concettina. Conversou muitas vezes com ela sobre os problemas que Alessio lhe dá. Que lhe dava. Aceita. Vai ao primeiro encontro, depois ao segundo. No terceiro, Concettina lhe diz: “Sabe que Alessio me convidou para ser sua madrinha de Crisma?”. Não, não sabia, não imaginava sequer que ele desejava receber outros Sacramentos. “Seu filho mudou”. Ela sabe bem disso, senão não estaria ali.
Alessio pede a padre Salvatore para ser coroinha e manusear o incensário. Aprende depressa e bem. Os amigos, porém, começam a gozar dele: “Vai virar padre!”, ao que ele responde: “Significa que vou fazer o casamento de vocês! Enquanto isso, por que vocês não vêm também?”. Primeiro um, depois dois, depois três, curiosos, o seguem, provavelmente apenas uma vez. Explica a padre Salvatore: “Convidei-os para serem coroinhas”. E, depois, quando estão sozinhos, diz: “Assim, converto todos eles!”. Um deles aceita o convite e volta. É Salvo, seu colega de classe. Ficam juntos e fazem o “serviço no altar”, como coroinhas. Mas para seus amigos “ateus”, como gostam de se definir embora tenham apenas treze anos, esse “estar na igreja” não agrada.

Ao Ataque. Num sábado à tarde, dois deles vão até a igreja. Dirigem-se a Salvo: “Agora chega, deixe toda essa coisa inútil e venha se divertir com a gente. Como fazíamos antes”. O jovem não se perturba: “Vou com prazer, mas depois da missa”. “Você não percebe que está perdendo tempo? Deus não existe, é uma invenção dos padres. Foge”. Salvo não se perturba: “Já disse: depois”. Irritados, vão falar com padre Salvatore. “Você nos fez perder um amigo”. “Eu não o obriguei e não o seguro. Se fossem realmente seus amigos deveriam respeitar a sua decisão”. Saem furiosos. Salvo espera alguns minutos, depois se aproxima de padre Salvatore: “Padre, o senhor precisa entendê-los. Eles não ficaram maravilhados como eu. Porque a base de tudo é o maravilhamento”.
Os dois não desistem e voltam ao ataque. As discussões não são mais na igreja, mas no escritório de padre Salvatore. Diálogos acirrados sobre a existência de Deus, sobre a fé, sobre o que a ciência diz... E assim durante semanas. Um dia, padre Salvatore recebe um telefonema da secretária: “Salvo passou por aqui. Disse para contar ao senhor que converteu seus amigos...”.
No sábado seguinte, encontra os três na igreja: Salvo e os dois amigos. “Então, o que está acontecendo?”, pergunta. Um dos dois “ateus” responde sem rodeios: “Queremos participar da paróquia. E queremos nos confessar”. Padre Salvatore olha para Salvo e, depois, para os outros dois: “E por que vocês tomaram essa decisão?”. “Queremos entender por que Salvo e Alessio, desde que vêm aqui, são tão felizes”.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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