Em sua terceira edição, evento cultural foi espaço de diálogo e encontro. Experiências humanas diversas, de várias partes do mundo, olhadas em toda a sua profundidade
Num auditório cheio, silêncio e atenção do público desde a primeira atividade: a apresentação de um estilo musical nada comum: a música sacra medieval e renascentista pelo grupo Codex Sanctissima. Beleza surpreendente que conquistou os espectadores. E assim se repetiu durante todo o evento, ocorrido entre os dias 27 e 29 de janeiro, cujo tema foi “Dinheiro, Filhos, Trabalho, Saúde. Tudo é sério. E a vida?”. Esta frase, retirada de um texto de Dom Giussani, propunha um diálogo sobre o fato de que havendo a resolução das preocupações (muito justas) com saúde, família, política, se isso seria suficiente para resolver a vida. Uma pergunta que foi posta diante das cerca de 500 pessoas que ali estiveram durante os três dias.
O evento foi realizado graças a doações de muitas pessoas e ao trabalho incansável de 50 voluntários. Carlos, um dos organizadores, afirma: “Tudo o que aconteceu excede, é muito mais que a consequência de pouco mais de um ano de trabalho preparatório. Um pequeno grupo de amigos, imbuídos de uma audácia ingênua, não seria capaz de fazer acontecer o que vimos”.
Uma nova construção. Logo na mesa de abertura, ao falar dos 300 anos da aparição da imagem de Nossa Senhora Aparecida e do Santuário Nacional que a abriga, “fomos colocados diante da atração da beleza, que nos remete ao Mistério, e se impõe, fazendo-nos silenciar para admirar o desejo do ‘algo a mais’ que explode no coração”. Outro fato imponente foi o testemunho de um ex-detento, Beto, que contou sua história de vida, passando pela chegada em uma prisão degradante, as humilhações que sofreu e como conseguiu se recuperar depois que entrou em uma APAC (Associação de Proteção e Assistência a Condenados). Beto disse que quando uma pessoa entra na prisão ela se torna invisível para a sociedade. Para muitas pessoas, um presidiário não tem valor. Ele lembrou o sofrimento da sua mãe quando ia visitá-lo. Ele passou 7 anos numa prisão comum com superlotação de presos. Depois, foi para uma unidade APAC, onde ficou mais 7 anos. Lá ele tinha um local limpo, comida saudável, e trabalho para fazer desde a hora em que acordava às 6h da manhã até a hora de dormir às 22h. Hoje, Beto é casado, tem três filhos e se mantém com seu trabalho.
Graciela Frucchi, de Belo Horizonte, integrou um grupo de amigos que fizeram as apresentações da mostra sobre a APAC. Ela conta: “Quando soube que a mostra estaria no Rio Encontros, imediatamente entrei em contato para me inscrever e iniciar os estudos. Foram dois meses de preparação para trabalhar por algumas horas. Mas, quando algo grande lhe acontece, a primeira coisa que você quer fazer é contar para o outro! Do amor ninguém foge. Foi assim para mim!
Estando lá, não fugiria para a praia, nem para o corcovado, nem para o samba, pois o Grande Amor estava acontecendo no Colégio Zaccaria! Era fundamental para mim ver aquelas pessoas, escutá-las, olhar naqueles olhos para que depois a cidade maravilhosa se tornasse mais maravilhosa”. E ela completa: “Mediar a mostra da APAC foi, para mim, um gesto que carrega o meu sim a Cristo, e também, é a minha contribuição na construção da Igreja hoje! Sinto-me honrada em ter somado com minha experiência esse contingente de pessoas que com suas vidas testemunham um Amor que acontece agora”.
O evento também deu voz aos pequenos. Arthur de 10 anos, Clara e Marina, de 11 anos, falaram sobre o livro “Querido Papa Francisco”, com cartas de crianças do mundo todo ao Santo Padre. Falaram das cartas com que mais se identificaram, e apareceram as questões sobre dor, inferno, salvação. Os meninos encantaram por sua simplicidade. E muitos saíram do encontro desejando ter a mesma abertura deles para ouvir o Papa.
Um abraço que gera. O mesmo amor, que é capaz de recuperar um criminoso, se torna obra, como revelou a africana Rose Busingye, convidada especial muito aguardada. Em Uganda ela gerencia um centro dedicado às mulheres doentes de AIDS, às crianças e aos jovens órfãos e pobres. Mostrou um vídeo no qual aquelas mulheres cantam alegremente enquanto quebram pedras, que é seu modo de sustento. “Meu desejo é revelar a grandeza de cada um, e oferecer uma companhia”, afirmou Rose. E contou muitas histórias, exemplificando como, a partir da descoberta do próprio valor, a pessoa renasce e se torna protagonista da sua vida. “É por causa de uma plenitude que vivo que posso entrar em relacionamento livre e gratuito com tudo. O meu trabalho se tornou gritar a todos o sentido e o significado da vida. A minha vida não se esgota naquilo que eu vejo, porque é só uma aparência. Também para os outros não termina ali”.
Experiência que também é possível no mundo do trabalho, como relatou o italiano Francesco Berardi. Engenheiro, que mora na Malásia, ele falou dos desafios que enfrenta na família e no trabalho, e como é viver cada circunstância a partir de uma oração, de um pedido. Ele tem sete filhos e já fez cinco mudanças internacionais na Ásia. Relatou como, em todas as situações, a oração foi seu sustento, que podia não resolver a questão como ele imaginava, mas dava a paz que ele precisava. Na Coreia, muitas pressões no trabalho e tinha planos de sair dali quando completasse um ano. Até que recebeu a visita de um amigo que, após ouvir seus lamentos, o ajudou a entender que era possível respirar também naquela circunstância, pois seu fundamento estava n’Aquele que o fazia agora. Este encontro fez com que ele entendesse que a perfeição que os coreanos buscavam, nenhum aparelho poderia dar, e disso despertou uma ternura por eles. Pleno dessa alegria, a partir da companhia com a esposa, nasceu um grupo de amigos. Ficaram cinco anos no país. “Posso dizer que fomos embora com lágrimas nos olhos por causa da amizade que nasceu com aquelas dezesseis pessoas com as quais nos reuníamos. E até hoje mantemos contato”.
Dias surpreendentes. Ao todo o Rio Encontros foi formado por duas mostras culturais, quatro mesas redondas e duas apresentações musicais. Aqui fizemos apenas alguns acenos da riqueza de experiências que foram compartilhadas naqueles dias. Além do evento em si, muitas pessoas se disponibilizaram a acolher hóspedes, voluntários ou visitantes, que “estavam totalmente à vontade em nossa casa como se já nos conhecêssemos há muito tempo”, como afirmou Valéria, do Rio de Janeiro. Experiência tão correspondente, que fez nascer a pergunta em seus alunos e professores assim que ela retornar das férias: “A senhora está tão alegre. O que aconteceu?”. Sinal de que o Rio Encontros não foi um momento isolado, mas apenas um passo a mais dentro de um caminho para a vida toda. Por isso, como definiu Gabriel, também da organização do evento: “Podemos, então, responder: sim, a Vida é séria, e dinheiro, filhos, trabalho, saúde também são sérios na sua justa medida, porque fazem parte da seriedade da Vida”.
(colaboraram Elizabeth Sucupira e Eliza Gouveia)
APROFUNDAMENTOS
> Confira o Facebook com imagens do evento.
> Um concerto surpreendente, por Eliza Gouveia
> Relato da terceira edição, por Elizabeth Sucupira e Isabella Alberto
Credits /
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón