Em meio a tantas notícias sobre confrontos e intolerância, a proposta de um diálogo. Mais três cidades brasileiras ofereceram a oportunidade deste encontro partindo da leitura de "A beleza desarmada"
No Brasil, como em diversas partes do mundo, falar do livro A beleza desarmada de Julián Carrón tem sido ocasião de encontros com personalidades das mais variadas áreas de conhecimento e atuação social. A edição em português foi lançada pelo próprio autor no ano passado, no evento de uma grande livraria de São Paulo. Desde então outros momentos vêm sendo organizados em diferentes cidades, de Norte a Sul do País. No último mês de setembro, Marco Montrasi, responsável nacional de CL, girou por três localidades para participar destes eventos.
Em meio a tantas notícias sobre confrontos e intolerância, o convite foi para abrir diálogos. O primeiro deles ocorreu na quarta-feira, 13 de setembro, na Universidade Católica de Petrópolis (UCP). Para um público de 70 pessoas, na grande maioria estudantes de Psicologia, Montrasi dividiu a mesa com José Roberto Cosmo, sociólogo. Após uma introdução sobre as quatro partes da publicação, foram colocados temas ligados à Educação, com um chamado ao “momento de reconquistar tudo”. Thais, uma estudante do Ensino Médio que tinha ido assistir ao encontro a convite de sua professora foi uma das mais atentas. Além de fazer uma pergunta no final das apresentações, escreveu a eles agradecendo a provocação a olhar para o próprio eu: “Para alguns essa pergunta pode ser um ‘nada’, mas com ela eu me transformei. Eu me vi pensando de outra maneira, me senti melhor. Comecei a acreditar que meu ‘eu’ é tão bonito e que eu sou especial aos olhos de outras pessoas”. Montrasi havia sublinhado o fato de que somos chamados a uma vida com horizonte, e que sem o empenho com a própria pessoa, com o próprio eu, vive-se desesperado.
Uma proposta para todos. Outra protagonista foi Cleuza Ramos, da Associação dos Trabalhadores Sem Terra de São Paulo. Cleuza organizou um encontro para 200 pessoas. Ela decidiu por um público mais restrito – para os números da Associação – por entender que deste modo poderiam dialogar melhor. Na plateia estavam professores e os diretores das escolas e creches dos bairros da Associação, além de reitores de duas faculdades com quem mantêm parceria para oferecer bolsas de estudo, também professores universitários e outros amigos. O tema de destaque foi a Educação. No início da apresentação foi projetado um vídeo ilustrando momentos de várias apresentações do livro no mundo para ajudar os presentes a terem uma dimensão da importância da obra e do autor Julián Carrón. Cleuza contou brevemente sobre a amizade com o sacerdote espanhol, e como o encontro com Comunhão e Libertação, em 2004, mudou sua vida. “Redescobri o gosto da vida, o valor da relação com o Marcos [Zerbini, seu marido] e entendi que não sou chamada a salvar o mundo, mas sou dona do meu sim”. E fez um convite: “Leiam este livro, que é um presente para cada um de nós. Através do livro podemos conhecer pessoas que nos ajudam no caminho”, concluiu Cleuza. Em seguida Montrasi agradeceu a ocasião de estar ali, pois o contato com este povo é uma grande ajuda: “Faz com que eu me torne mais simples, com olhar de criança”. Usou algumas imagens para ilustrar o conteúdo, como a importância de amolar a faca, encher a mochila, se apaixonar. “Desde que nos levantamos existe como um rio que nos leva e nos afasta do que temos de mais importante: o nosso próprio eu. Mas quando algo acontece, que é único, você vibra. E mesmo errando, é algo que não podem tirar de você”. No final do encontro foi oferecido também um coquetel no desejo de aproximar as pessoas, que enquanto compravam os exemplares buscavam saber mais sobre esta novidade do Movimento, ao qual a maioria estava sendo apresentada naquele momento. “Este foi apenas o primeiro encontro. Vamos organizar muitos outros”, afirmava Cleuza.
Ampliar o desejo. O terceiro momento foi realizado em Campina Grande, estado da Paraíba, no Nordeste do Brasil. Cidade com 410 mil habitantes, abriga uma pequena comunidade do Movimento que está presente desde 1997 e é muito ativa. Para falar sobre A beleza desarmada convidaram um importante advogado criminalista, ex-prefeito da cidade: Dr. Félix Araujo Filho. Após introduzir o encontro com dois cantos populares, Dr. Félix tomou a palavra. Estava entusiasmado com a leitura, repetiu várias vezes a surpresa do encontro com Carrón através daquelas palavras, da novidade do tema “beleza desarmada”, que o provocou a ponto de ler e reler o livro. “Ele nos faz um chamamento muito vivo, muito profundo. Percebemos um desmantelamento de um conjunto de valores pregados pelo cristianismo, que foram os que unificaram a América, a Europa, mas também a minha casa e a minha pessoa. O que está acontecendo conosco, então?” Dr. Félix fez uma análise de três histórias que foram divulgadas pelas redes sociais, demonstrando como as vidas das pessoas não são mais olhadas como um valor de uns para os outros.
Na segunda parte do evento, Montrasi introduziu o tema da Educação, não como uma passagem de conhecimento, mas como uma introdução a abrir-se a coisas novas: ser levado a um território desconhecido. “A minha medida se amplia, e esta é uma ferida, e é a verdadeira Educação. Precisamos de pessoas que saibam fazer isso, ampliar o desejo”. Preocupação que deve ser não apenas para os jovens, mas para os adultos também. Sublinhou, ainda, a necessidade de dar tempo para aprender, de não fechar logo as questões achando já saber as coisas. Assim a vida é mais bonita e cheia de cores.
Ao abrir para algumas perguntas, a juíza Adriana Lins de Oliveira Bezerra logo se colocou buscando ajuda. Colocou a preocupação de não conseguir dar as respostas. Montrasi a provocou. Ao invés de responder, pediu que deixasse aberta a questão, e olhar como age o Papa Francisco. Retomou a imagem da mudança de Zaqueu, que era o chefe dos publicanos, e não se converteu por nenhum discurso, mas porque Jesus quis ir a casa dele. “Agora são tão polarizadas as posições com relação à verdade, que não dá pra explicar, pois se tornam dialéticas. Cada vez mais a verdade vai ser comunicada pelo modo como se vive e não com explicações. (...) A questão é desejar se aproximar do outro, sem buscar convencê-lo”. Palavras que deixaram pontos abertos para um trabalho. Para encerrar, uma confraternização. Dona Nazaré levou uma amiga, Lúcia convidou as primas. Pessoas de idades variadas conviviam juntas, marcadas por algo novo que havia acontecido ali.
Nestes três encontros sementes foram lançadas. Em cada lugar uma surpresa, uma descoberta. Montrasi é o primeiro a ficar agradecido pela oportunidade, pois a cada encontro é um aprendizado novo para a própria vida. Na página do Facebook do livro (A beleza desarmada de Julián Carrón) estão disponíveis alguns vídeos e continuamente é feito um trabalho de divulgação com trechos da publicação e imagens.
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón