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Passos N.90, Fevereiro 2008

DESTAQUE / 1968 NOS ESTADOS UNIDOS

Os fatos que nos abriram nossos olhos

por Lorenzo Albacete

Não faz muito tempo, o termo “geração 68” nada significaria para a maioria dos cidadãos americanos. Muitos americanos desconhecem História (inclusive a própria), e os eventos de 1968 – diferentemente da Europa – nem foram considerados como expressão de uma mudança ideológica na história americana. De fato, o assassinato de Martin Luther King Jr. e de Robert F. Kennedy, as derrotas americanas no Vietnã, que reduziram bruscamente o apoio da população à guerra, a crescente violência na luta pelos direitos civis, a crescente influência dos movimentos pela libertação da mulher e dos homossexuais, etc., todos esses acontecimentos foram reconhecidos como sinais das iminentes mudanças que aconteceriam na vida americana, mas poucos os reconheceram como expressões de uma corrente de pensamento em contínua ascensão, que influenciaria a vida americana em quase todos os seus âmbitos. Ao contrário, tais eventos foram, em geral, considerados como expressões de problemas que precisavam ser resolvidos, e se achava que o sistema político-econômico detinha os instrumentos para isso. A única batalha ideológica reconhecida como tal foi aquela entre o pensamento tradicional americano (liberal ou conservador) e o comunismo.
Dois eventos, que não aparecem no tradicional elenco dos eventos marcantes de 68, desvelaram gradualmente o que aconteceria nos anos seguintes, chegando mesmo aos nossos dias, e mostraram que se tratava, na realidade, do início de um confronto ideológico. O primeiro evento foi a publicação da encíclica Humanae Vitae, do então Papa, Paulo VI, que reforçava a tradicional condenação da Igreja ao controle artificial dos nascimentos. Na atmosfera de progresso, à qual a maioria dos americanos associa a mudança, as inovações introduzidas pelo Concílio Vaticano II persuadiram a maior parte dos católicos americanos de que a Igreja aceitaria o uso da pílula anticoncepcional, que um número cada vez maior de mulheres americanas usava como instrumento para se emancipar. Quando a encíclica foi publicada, a unidade da Igreja começou a se romper. As igrejas paroquiais se tornaram locais para manifestações e protestos públicos. Embora muitos dos que discordavam do ensinamento da Igreja buscassem convencer os outros e eles próprios de que se tratava de uma questão que podia ser resolvida mediante o diálogo, ficou claro que estava em jogo muito mais. Na realidade, a luta se referia aos diversos modos de entender o significado da liberdade e a ótica humana do qual esses dependiam. O segundo evento foi o lançamento do filme de Stanley Kubrick, “2001: Uma odisseia no espaço”. Embora considerado por muitos como ficção científica, tratava-se, na verdade, de uma extraordinária e imponente representação da história da evolução humana de uma perspectiva puramente laica, científica e tecnológica, em que o progresso era visto exatamente como a emancipação do homem da dependência do seu corpo e como o definitivo triunfo da mente. A verdadeira natureza do que estava acontecendo começava a mostrar a própria face.
O ano de 2001 não respeitou as previsões do filme, mas o 11 de Setembro obrigou os americanos a considerar seriamente o que já estava em jogo desde então.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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