A dificuldade de estudar, os encontros na faculdade. Mas também a família, o trabalho, os amigos... O que acontece se aquele ambiente é enfrentado a partir da proposta cristã? Eis a resposta de quem aceitou a provocação
Eram mais de quinhentas pessoas em Tabiano Terme, em Parma (Itália), no segundo final de semana de setembro, na Equipe dos Universitários de Comunhão e Libertação (CLU). Pessoas provenientes de toda a Itália e de outros países. Todos universitários, inscritos em cursos diferentes e com idades variadas. E todos reunidos pela vontade de responder às provocações e desafios que padre Carrón, já há meses, lança continuamente: “Vocês estão verificando quem é Cristo? Aceitam o desafio de ver se existe uma resposta ao drama da vida? Verifiquem o que acontece, o que muda”. Eles tentaram, nestes meses, verificar isso em suas vidas, em cada aspecto da cotidianidade, como documentam as muitas e ricas colocações feitas durante as duas assembléias que aconteceram no sábado. São histórias de pessoas mudadas. Exemplos de um modo diferente de estar diante da realidade. Dom Giussani escreve em O caminho para a verdade é uma experiência: “O cristão olha toda a realidade como quem não é cristão, mas aquilo que a realidade lhe diz é diferente, e ele reage de modo diferente”. Porque o homem é dependência de Deus e o reconhecimento deste relacionamento, a religiosidade, torna inevitável uma implicação com a realidade onde Cristo está presente. Foi sobre essas grandes questões que padre Carrón, desde os Exercícios da Fraternidade de CL, lançou uma proposta de verificação “de uma conveniência para si”, de uma resposta à própria necessidade.
Mil projetos
Luca, de Milão, estava com mil projetos para o final das férias de meio de ano: havia o Meeting de Rímini, a peregrinação a Loreto, a acolhida da matrícula dos calouros. Não participou de nada porque sua mãe ficou doente. “Porém, mudou o relacionamento com os amigos, que foram o lugar de um chamado de atenção a viver plenamente aquela circunstância”. “Cada circunstância é o modo com o qual o Mistério chama”, respondeu Carrón, acrescentando que só o reconhecimento dessa dependência permite a paz e muda o modo de ser amigos. E as circunstâncias podem ser as mais variadas, como testemunham as histórias de Giuditta, que tem um tio doente que deseja acolher em sua casa, ou de Angelo, vítima de um grave acidente de carro e convalescente depois de muito tempo internado em um hospital.
Mas a vida não é feita só de circunstâncias dramáticas, e o desafio de Carrón atinge 360 graus, e se infiltra nas dobras e nuances dos dias de cada um. Como quando responde a Daniel, da Católica de Milão, que falou sobre uma dificuldade em ficar em casa, no estudo e nos relacionamentos onde, disse, se vê sempre tendo que demonstrar alguma coisa: “Percebem? Falamos de coisas reais! A vida em casa, o estudo, o trabalho, a dependência do juízo dos outros. Essas coisas têm a ver com aquilo que Dom Giussani diz sobre a religiosidade? Que experiência você tem feito? Está aqui a resposta, não vou repetir a palestra. Você se colocou no real com essa hipótese? Senão, é um discurso”.
A verdadeira cultura
O caminho indicado é o de uma verificação pessoal, uma resposta do eu a algo que acontece: não é moralismo, algo que nasce de um percurso crítico-construtivo, nem de um fazer mecânico, quase como se fosse uma organização, como foi dito em algumas colocações. E Carrón não deixa opção: “Você deve conquistar a evidência disso. Senão, com o tempo, Cristo não vai lhe interessar. Acabei de voltar do Brasil. Tive a oportunidade de jantar com Cleuza Zerbini. Ela esteve na Assembléia Internacional dos Responsáveis de CL e tinha voltado para o Brasil: ‘A frase que o senhor disse na AIR – que até os cabelos da nossa cabeça estão contados – mudou tudo para mim!’. Quantos dos 700 presentes em La Thuile tiveram esta simplicidade repetindo isso para entrar no real? Isso se chama ‘cultura’, como diz Dom Giussani no livro Ter certeza de algumas grandes coisas (Certi di alcune grandi cose, Bur-Rizzoli; nde). É o princípio cultural, quer dizer, aquilo pelo qual o mundo vale, aquilo que torna possível entrar no real. E isso é próprio das pessoas pobres. Ou seja, do homem no seu relacionamento com o cotidiano. E não é que nós não recebemos a mesma coisa que ela recebeu: nós não somos simples, somos presunçosos. A questão é se começamos a arriscar nisso pessoalmente”.
A mudança acontece: como para Fábio, de Milão, que foi para Czestochowa, na Polônia, com a idéia de cuidar de alguns aspectos logísticos da peregrinação e, depois, obrigado a admitir que não tinha sido designado para aquele papel: “Fiquei decepcionado, mas me confrontei com um amigo. Fiz a segunda parte da peregrinação entendendo que estava ali para aprofundar o meu relacionamento com Jesus e tudo mudou”. Carrón completa: “A mesma peregrinação não é mais a mesma. Mudou a postura em relação ao real. Não é preciso que as circunstâncias mudem para que eu seja diferente. Mas deve acontecer algo que introduza uma novidade e mude a minha postura”. Em nenhuma situação nos é poupado este drama, acrescentou: “Nem a mim é poupado o drama da liberdade. Não pode ser um problema de papéis: eu não quero que ao meu eu seja poupado este relacionamento com o Mistério. Eu quero verificar se Cristo corresponde a mim, à minha humanidade”.
“Então, continue com eles”
Um princípio cultural novo, que se abre para todos os aspectos da realidade, inclusive a vida na universidade. Porque uma coisa é certa: se existem pessoas que agem assim, com a gratuidade e criatividade que derivam disso, também o ambiente que as circunda muda de aspecto. Muda a universidade. Alguns jovens de Milão escreveram: “Somos objeto de uma iniciativa capaz de trazer à tona o nosso coração e colocá-lo diante de todo o real”. Por isso é possível fazer a acolhida para a matrícula dos calouros, muitas vezes voltando antes das férias e dedicando o próprio tempo gratuitamente a pessoas que não conhecíamos antes. A beleza e a correspondência imediata suscitadas em quem se envolve em iniciativas desse tipo são a natural conseqüência deste modo de se colocar diante da realidade com que se depara: “Basta que alguém se mova assim – disse Carrón – e tudo se torna beleza aos olhos dos outros”. Como aconteceu com os jovens de Foggia durante o simulado de provas, quando um professor se aproximou deles e disse: “Admiro vocês pela disponibilidade, pelo empenho e pela beleza do gesto que fazem. Eu não seria capaz de fazer o que vocês fazem”. E quem se envolve com esse modo de se mover e se deixa tocar não pode deixar de fazer, por sua vez, a mesma experiência de beleza da realidade. Mesmo que não seja cristão, como contam os estudantes do CLU de Pavia: um jovem muçulmano que conheceram na universidade começou a se encontrar com eles e a falar sobre isso com a família, que mora no Oriente Médio. Diante das dúvidas da mãe, ele perguntou há quanto tempo ela não rezava: “Desde que tinha dezesseis anos”. “Vê – respondeu o jovem – desde que comecei a estar com eles voltei a rezar”. “Então, continue com eles!”.
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón