Passos N.87, Outubro 2007

SOCIEDADE - Rio de Janeiro / Ensino Religioso

Para reconquistar a dignidade humana

por Lourdes Mara Ribeiro

Novos livros de Ensino Religioso para jovens do ensino fundamental. Ilustrações do cartunista Ziraldo e conteúdo elaborado por uma equipe de profissionais atentos a comunicar a beleza do cristianismo


No último dia 8 de agosto, no salão nobre da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, foi realizado o lançamento dos dois primeiros volumes dos livros didáticos de Ensino Religioso Católico, intitulados “As obras de Deus Criador” e “O Fato Cristão”. Eles fazem parte de uma coleção de quatro livros, e os próximos dois volumes serão: “Os sinais do Espírito” e “A Igreja de Cristo”.

Presidiu a solenidade o Cardeal Dom Eusébio Oscar Scheid, e também estavam presentes, para compor a mesa, Dom Filippo Santoro, Bispo da Diocese de Petrópolis e Bispo de Referência para o Ensino Religioso no Regional Leste 1; Luiz Fernando de Souza Pezão, Governador em exercício na ocasião e Vice-Governador do Estado do Rio de Janeiro; o Prof. Dr. Nelson Maculan, Secretário de Estado de Educação; Suely Vasconcelos, representante de Ziraldo Pinto Alves, cartunista responsável pelas ilustrações das obras e José Maria da Silva, Editor Teólogo da Editora Vozes, representante do Diretor Frei Antonio Moser.

Dom Eusébio destacou o valor e a seriedade do trabalho realizado na produção dos livros. Considerou o seu formato, “mais próximo de um livro de literatura que de um livro didático”, valorizando o estilo adotado que o torna “ameno”. Comentou o esforço despendido em sua realização, necessário para que a obra tivesse, ao mesmo tempo, rigor teológico e leveza, para que possa conquistar o interesse da criança. O Secretário de Educação afirmou seu compromisso em fazer cumprir a Lei em vigor na rede estadual de ensino, comentou suas dificuldades administrativas e valorizou a beleza dos livros. O Governador em exercício parabenizou os integrantes da equipe responsável pelas obras, o ex-deputado Carlos Dias, autor da Lei do Ensino Religioso Confessional e Plural e exaltou a experiência católica que está presente em todas as discussões relevantes para a sociedade, sempre em defesa dos verdadeiros valores humanos. Dom Filippo Santoro colocou em primeiro plano o valor do método utilizado para se chegar a essa obra: primeiramente, o caráter de evangelização na área do conhecimento; em segundo lugar, um grupo de amigos que resolveu enfrentar o desafio de elaborar um instrumento que pudesse colocar em questão a identidade católica, uma vez que a Lei estadual traz a novidade da confessionalidade e da pluralidade, num cenário nacional em que o multiculturalismo parece pulverizar as identidades.

A equipe foi composta por Carmem Cristina Santiago, do Departamento Arquidiocesano de Ensino Religioso; Alexandra Marisa Lourencini, da Pastoral do Menor; Laura Queiroz, Vânia Apolônio e Francisco, do Movimento Shalom; Marilene Ramos da Silva, indicada pelos professores do Instituto Superior de Ciências Religiosas e padre Marcos Paulo Galvão. Eles se dedicaram a dois anos de intenso trabalho coordenado pela professora Lourdes Mara Ribeiro, do Movimento Comunhão e Libertação. Essa equipe foi chamada a uma grande responsabilidade, pois não havia nenhum material destinado para o Ensino Religioso que comunicasse uma experiência de cristianismo na sua originalidade, de forma didática, interessante, bela, atual, de acordo com a realidade brasileira, sem se deixar influenciar pelas várias ideologias que nos cercam.

O objetivo desse trabalho é levar à sociedade brasileira o material didático da disciplina de Ensino Religioso para os alunos católicos, conforme preconizado pelo Magistério da Igreja, e em atendimento à Constituição Federal, à Lei Estadual 3549 (art. 3°) e à liberdade de ensino do Credo, explicitada pela Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU. Os livros, impressos pela Editora Vozes, se destinam, prioritariamente, aos alunos e pais das escolas oficiais do município do Rio de Janeiro, da Arquidiocese local e aos das escolas estaduais, ainda não municipalizadas, do Regional Leste 1. Mas nada impede de serem utilizados no restante do país, ou ainda como livros de literatura.

Quem participou do evento pôde ver a beleza dos livros, seja graficamente seja pelo seu conteúdo. Merecem destaque as palavras do cartunista Ziraldo, comunicadas por uma carta lida por sua representante, que apontava a condição de muitos católicos por tradição que, como ele, se distanciaram da experiência cristã e vêem nos livros uma resposta à necessidade de se recuperar os valores de uma sociedade por meio da educação religiosa. Isso fica implícito neste trecho: “Hoje, quando toda a informação está ao alcance de todos, os que comandam o mundo – sejam nossos líderes religiosos, sejam nossos líderes políticos – deveriam lembrar que a criança de hoje precisa muito mais de formação do que de informação. Temos que voltar a aprender valores, a valorizar valores, a saber a imensa importância de ser digno num país que foi ocupado pela hipocrisia de ‘Renans’ e democratas. Nada em nossa vida, em nossa história e em nossa cultura tem mais responsabilidade sobre isso do que a Igreja Católica, no seio da qual fui criado. Foi por isso que, mesmo distanciado das práticas católicas que aprendi com meus pais – este negócio de livre arbítrio! – aceitei o convite para participar desse projeto, como tenho aceitado todos os convites que minha velha Igreja me faz para missões que coloquem a reconquista da dignidade dos habitantes do meu país em primeiro lugar.”

Momentos como esses nos fazem verificar como são verdadeiras as afirmações de Luigi Giussani, quando diz que “Cristo não trapaceia, porque se submete totalmente a experiência de nossa vida”. Então, o problema de ser cristãos, ou não, se identifica com o problema do compromisso com a própria vida. Dizendo “sim” a iniciativas como essa, é uma forma de resposta ao mundo todo; porque o mundo espera por aquilo que já nos aconteceu.