“Os discípulos alegraram-se ao ver Jesus. Estas palavras do Evangelho, que acabam de ser lidas, indicam-nos o centro da personalidade e da vida do nosso amado Mons. Giussani” – com essa frase o então Cardeal Ratzinger iniciou a homilia da missa dos funerais de Dom Giussani, em 24 de fevereiro de 2005. Mas, todo o povo brasileiro poderia repeti-la hoje se referindo ao sentido da viagem de Bento XVI ao Brasil. Teríamos então uma frase assim: “Os discípulos alegraram-se ao ver Jesus. Estas palavras do Evangelho, que acabam de ser lidas, indicam-nos o centro da viagem e do encontro com nosso amado Papa Bento XVI”.
Para quem acompanhou o antes, o durante e o depois da viagem, o mais impressionante é a percepção difusa entre todos, do mais simples ao mais poderoso ou erudito, de que algo aconteceu. Diante dessa percepção, a reação pode ir de uma adesão imediata, o reconhecimento de um valor – mesmo que não plenamente compreendido; até a negação irracional, até não querer reconhecer o que está sendo visto e ouvido, até negar o sentido das palavras pronunciadas.
Foi impressionante como os jovens reunidos no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, por exemplo, compreenderam que não era isso que tinham frente a si. Todos que conversaram com esses jovens perceberam que, para a grande maioria deles, havia sido um encontro com uma pessoa excepcional, uma pessoa que lhes queria bem e que não apresentava um discurso moralista, mas lhes falava de como ter uma vida plena, cheia de significado.
Bento XVI mostrou, na prática, pela sua própria presença, que o encontro com Cristo permanece como resposta ao coração do homem e que a necessidade de um sentido para a vida não é uma questão teórica ou abstrata, mas algo que pode co-mover todo um povo, resgatando sua unidade esquecida, uma imagem comunitária de si próprio. Num mundo onde a figura do pai está em crise, Bento XVI mostrou de novo a alegria e a comoção de sentir-se filho.
No mesmo discurso citado anteriormente, o Cardeal Ratzinger se referia ao Brasil e à realidade latino-americana, particularmente nos anos ’60. Disse: “Pensemos nos anos 68 e seguintes: o primeiro dos seus partiu para o Brasil e ali encontrou-se diante da pobreza extrema e da miséria. O que se podia fazer? Como corresponder? Então, surgiu a grande tentação de dizer: agora devemos, temporariamente, prescindir de Cristo, prescindir de Deus, porque há urgências mais prementes; primeiro, devemos mudar as estruturas e as coisas exteriores, primeiro temos o dever de melhorar a terra, e depois poderemos voltar a encontrar também o céu. A grande tentação daquele momento consistia em transformar o cristianismo num moralismo, em substituir o crer com o fazer... Com a sua fé impávida e inabalável, Mons. Giussani sabia que, mesmo em tal situação, Cristo e o encontro com Ele era central, porque quem não dá Deus, dá demasiado pouco, quem não dá Deus, quem não faz encontrar Deus no rosto de Cristo, não edifica mas destrói, porque faz com que a ação humana se perca em dogmatismos ideológicos e falsos. Mons. Giussani conservou a centralidade de Jesus Cristo e, precisamente deste modo, com as obras sociais e com o serviço necessário, ajudou a humanidade neste mundo difícil, onde a responsabilidade dos cristãos pelos pobres do mundo é enorme e urgente”.
Essas palavras foram uma antevisão do que seria a mensagem do Papa Bento XVI para a América Latina. Quem não dá Deus, dá muito pouco; quem não dá Deus, acaba por destruir em vez de construir. Mas, quem permanece em Cristo, cria obras pelas quais o amor se concretiza em transformação real da sociedade e das situações de injustiça.
Que a graça de Deus, por intercessão de Nossa Senhora, nos permita ser fieis à mensagem e ao testemunho que os gigantes da fé nos dão ao longo da nossa história.
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