Na noite de quarta-feira, dia 7 de fevereiro, o menino João Hélio, de apenas 6 anos, foi morto após o roubo do carro de sua família. Diante desse fato que chocou todo o país e que não pode nos deixar indiferentes, propomos o panfleto escrito por alguns amigos de Salvador:
Nos últimos tempos, o Papa Bento XVI vem insistindo na necessidade de se alargar a razão, não permitindo que ela fique confinada no estreito espaço da atividade acadêmico-científica. Para a maioria de nós, esse é um tema “sofisticado” e sem implicações práticas, o qual interessa apenas a especialistas.
No entanto, diante de fatos como a morte brutal de uma criança de seis anos arrastada pelas ruas do Rio de Janeiro, percebemos que uma razão estreitada não é capaz de ir ao fundo da questão para julgá-la e pára na perplexidade, na vingança, na revolta ou, pior ainda, no descaso cínico e niilista.
Propomos respostas a três perguntas que podem nos ajudar a fazer o percurso que o Papa está propondo e perceber as suas implicações práticas.
1. De onde nasce essa violência?
Não nos enganemos: não é da pobreza nem de diferenças sociais, como somos tentados a pensar. Essa violência nasce de uma falta total de consciência sobre o valor da vida, fruto de uma cultura que banaliza tudo: os valores, os costumes, a família, o corpo, a sexualidade, a pessoa e, por fim, a vida. Para os jovens assaltantes, a própria vida deles não vale nada, quanto mais a vida de outro.
2. É possível fazer justiça?
Sendo a justiça não só a capacidade de punir, mas também a de restaurar o dano, em casos como esse cabe a nós, através dos instrumentos legais, dar a punição adequada àqueles que cometeram o crime, mas somos incapazes de reparar o dano. Somente a perspectiva da vida futura, quando essa mãe reencontrar o seu filho, reparará o dano realizando plenamente a justiça. Cristo, ao ressuscitar o filho da viúva de Naim, antecipou essa justiça.
3. Resta algo de positivo, de bem?
Existe Algo de positivo no real que nem mesmo um mal tão explícito é capaz de aniquilar. É a intuição deste Algo positivo que nos permite continuar a viver, que permite àquela mãe, marcada pelo sofrimento, continuar a viver. Para nós, esse Algo tem um nome e um rosto: Cristo ressuscitado, presente em cada circunstância. É o abraço misericordioso de Cristo que nos reergue quando nos sentimos arrasados, afligidos e quando choramos diante de tantas injustiças.
Alargar a razão é percorrer o itinerário que vai da circunstância concreta ao reconhecimento do Mistério presente. A razão se alarga e se abre para a totalidade dos fatores do real quando chega ao seu ápice: a fé.
O Papa nos convida a essa postura de unidade entre razão e fé para julgar tudo.
Universitários - Movimento Comunhão e Libertação
Salvador; BA; 11 de fevereiro de 2007
O mal não é tem a última palavra A violência da morte do menino João Hélio – preso ao cinto de segurança e arrastado por 7 km, pendurado do lado de fora do carro da família que estava sendo roubado –, foi tão grande que chocou toda a nação. Diante de uma situação limite contrária à natureza humana, as pessoas pedem justiça, respostas e uma “solução para o problema da violência”. As discussões giram em torno da redução da maior idade penal, do endurecimento das penas, da melhor distribuição de renda e do investimento em educação. Mas, como afirma o Papa, junto a tudo isso é preciso encarar a raiz da questão: “Sem Deus, o homem está perdido, e a exclusão da religião da vida social, de modo particular, a marginalização do cristianismo, debilita os próprios fundamentos da convivência humana” (Bento XVI, 9 de dezembro de 2006 aos juristas católicos). Em meio à dor da violência, algumas atitudes mostram um ponto além de tudo disso, revelando algo maior do que nós. A certeza de um Bem presente onde o mal parece ter vencido. “Quando eu vi que ele foi arrastado, eu sabia que não tinha como corrigir aquilo, como livrar ele da morte, eu comecei a rezar por um milagre. Eu queria um milagre”, declarou, em entrevista, a mãe de João Hélio. O milagre – algo que nos surpreende e mantém viva nossa esperança. Como a atitude dos pais de três dos cinco jovens que participaram da morte de João Hélio, os quais, diante da dor da família do menino morto, entregaram seus filhos à polícia. Eles se comoveram de tal modo com o ato de violência, tão contrário à natureza do homem, que, poucas horas depois de saberem do ocorrido, os denunciaram. E eles foram além disso: pediram perdão aos pais da criança. A mãe dos dois irmãos que participaram do crime chegou a afirmar: “Gostaria de ter enterrado os meus filhos”. Os pais de João Hélio aceitaram o pedido de perdão e entenderam também o sofrimento das famílias dos jovens envolvidos no crime. Como afirmava Carrón aos universitários recentemente, o mal não tem a última palavra, pois “O cristianismo é esse fato que nada pode deter, da mesma forma como toda escuridão, todo poder, toda maldade, todo pecado não podem impedir a beleza das montanhas, nem que uma pessoa goste delas ao vê-las”. |
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