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Passos N.79, Fevereiro 2007

EXPERIÊNCIA - Paraguai / Fraternidade São Carlos

Toda a vida busca a verdade

pela redação

A experiência de um jovem que serviu como missionário no Paraguai por um mês. Da disponibilidade para servir na Casa Divina Providência, o abraço ao mundo inteiro

Estou no 2º ano do curso de Filosofia em preparação ao sacerdócio na Fraternidade São Carlos Borromeu. Moro na Cidade do México e fui ao Paraguai para passar um mês com os padres neste último inverno; volto para casa realmente comovido. Quando soube que seria enviado como missionário para lá, fiquei entusiasmado com a possibilidade de conhecer nossos amigos que cuidam das obras da Fraternidade São Carlos. Esse entusiasmo me pedia que tivesse uma abertura para tudo o que fosse conhecer. Assim, quando cheguei, logo nasceu uma amizade com os padres que me hospedaram, e acolhi com muita alegria o convite do padre Aldo para trabalhar na Casa Divina Providência no turno da manhã. Essa casa acolhe doentes terminais de câncer e de Aids que muitas vezes são abandonados pelas próprias famílias.

No primeiro dia, não sabia como me comportar com os pacientes. Comecei a seguir Betty, a enfermeira do meu turno, e, com ela, cheguei ao primeiro rapaz que conheci: Juan, um jovem de 24 anos com um câncer, em estado terminal. Ajudando a trocar os curativos e dando banho nele, entendi, de imediato, que qualquer palavra que eu falasse para ajudá-lo seria insuficiente. Fiquei impressionado com a fragilidade do ser humano. Mas havia algo muito grande: a Presença do Senhor dominava a vivência de toda a clínica, desde o modo como todos trabalhavam com os doentes, até a limpeza dos quartos. Ficou claro que o que mais me correspondia e me permitia não ter nenhuma pretensão sobre aquele lugar era a constante memória de Cristo.

Entendendo isso, todo o trabalho não era mais um ato de heroísmo, mas um modo de ter uma grande intimidade com o Senhor. Aprendi a fazer curativos, a dar banho e a alimentar os doentes. Eu também rezava com eles e dirigia a ambulância para transportar os pacientes de um hospital ao outro, tudo com muita alegria. Mesmo nos momentos mais difíceis, quando acompanhávamos o funeral de um dos pacientes, consolando os parentes, sempre havia uma positividade que ultrapassava, inclusive, a morte, que já não era a última palavra.

Essa positividade também era evidente nos próprios pacientes. Todos eram pessoas muito simples e se reconheciam portadores de uma grande graça. Por exemplo: Angélica, que dizia que estar na Casa Divina Providência – depois de uma história de abandono e sofrimento – era o grande sinal do amor de Cristo por ela.


Familiaridade impensada
Quando saía da clínica, depois da Adoração ao Santíssimo – que acontecia todos os dias –, havia uma nova surpresa: o almoço junto com os padres. Era um dos momentos mais lindos do dia, porque era a ocasião para compartilhar os fatos e para julgar tudo o que havíamos vivido, as coisas boas e as ruins. Na parte da tarde, após o descanso, havia o encontro para rezarmos o Ofício das Leituras e fazer Escola de Comunidade. Nesta ocasião, os padres preparavam, juntos, a homilia do domingo.

No fim da tarde, eu me encontrava com alguns jovens para a catequese e para dar-lhes uma ajuda no estudo de matemática e física. Quando terminava isso, já era noite e a Paróquia se enchia. Era o momento para encontrar as pessoas, principalmente os colegiais e os universitários do Movimento. Também aqui, tudo com muita simplicidade: conversávamos, jogávamos baralho ou então jantávamos; era uma extensão natural da vida da casa dos padres. Naqueles momentos, olhando para o padre Ettore e para o padre Aldo, lembrei-me do padre Vando e dos outros amigos do Brasil. Tudo era uma coisa só!

Os retiros, às segundas-feiras, eram sempre ocasiões especiais. Além de serem grandes momentos de ajuda, eram dias em que cozinhávamos juntos e conversávamos sobre tudo. Falávamos de futebol, de nossas famílias, mas também sobre política. Num desses retiros, eu e o padre Ettore, querendo queimar as folhas secas que havíamos recolhido, queimamos todo o gramado verde!

Padre Aldo é uma pessoa especial: eu entrava na suas missas só para ouvir suas homilias. Gostava de perguntar tudo a ele, porque me dei conta de que era um homem verdadeiramente apaixonado por Cristo. O mês concluiu-se com as férias dos colegiais, quando visitei, junto com eles, as Ruínas das Reduções Jesuíticas.

Quando passei por São Paulo, antes de voltar para o México, o que mais me impressionou foi o encontro que tive com meu irmão mais novo. Ele é jornalista e trabalha 12 horas por dia. Contou-me uma coisa importante: quando saí do Brasil para estudar no seminário no México, ele pensou que, ou eu estava louco, ou fazia aquilo por amor a algo muito grande. Como a primeira opção parecia improvável, deu-se conta de que ele desejava trabalhar por um amor a algo que valesse tanto como a coisa que eu encontrei. A beleza contamina!

A Fraternidade de São Carlos Borromeu

A Fraternidade sacerdotal dos missionários de São Carlos Borromeu nasceu em setembro de 1985, no seio de Comunhão e Libertação, como Associação Sacerdotal. Encorajados por Dom Giussani, os jovens sacerdotes que lhe deram vida desejavam se sustentar reciprocamente na estrada da vocação em comum e, idealmente, responder ao convite de João Paulo II de ir a todo o mundo, como foi dito ao Movimento na audiência por ocasião dos 30 anos de CL (29 de setembro de 1984). Assim nasceu uma Fraternidade missionária, que, em 1989, foi reconhecida como Sociedade de Vida Apostólica, pelo cardeal Ugo Poletti. “Fraternidade” e “Missão” são as palavras programáticas dessa jovem comunidade: servir aos homens com a disponibilidade para ir aonde as necessidades da Igreja e a vida do Movimento pedem a presença de sacerdotes, como escreveu o fundador, padre Massimo Camisasca. A Fraternidade São Carlos está presente em 15 países em todo o mundo. As principais atividades dos sacerdotes dizem respeito à vida das paróquias que lhes são confiadas e ao ensino, seja nas escolas médias, seja nas universidades.

Outras informações no site: http://www.sancarlo.org/

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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