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Passos N.77, Novembro 2006

DESTAQUE - BENTO XVI

Estamos com o Papa

por Dom Filippo Santoro*

Diante das polêmicas destes dias sobre as palavras do
Papa, queremos simplesmente dizer que estamos
com ele.
A Igreja está sendo atacada de fora por aqueles que sempre lutaram contra ela, mas também por aqueles que à história da Igreja devem o patrimônio de liberdade e de valores que agora possuem. É atacada pelos jornais norte-americanos e pelos inimigos dos norte-americanos. É atacada pelos risinhos complacentes de pequenos intelectuais que tomando as distâncias e, sem ter lido o texto, dizem: o Papa não devia exagerar. Parece que estivessem esperando a hora para atacar esta personalidade que dialoga com Habermas e Küng, com Judeus e Muçulmanos e acolhe a todos com grande cordialidade.
A Igreja é atacada não por problemas teológicos ou morais, mas simplesmente porque defende a razão. Não se trata de matéria que tem a ver com a infalibilidade do Papa. O núcleo do seu discurso foi que a fé é aliada da razão e não da violência. Lendo por inteiro o discurso parece claro que esta é a tese fundamental, além da citação daquele texto tardo-medieval que podia prestar-se a várias interpretações. O conjunto do discurso, porém oferece uma única interpretação: a defesa da razão. Por isso o Papa pode simplesmente manifestar o seu profundo pesar pelo fato de os muçulmanos se sentirem ofendidos, mas o seu objetivo era abrir uma reflexão e um grande diálogo entre fé e razão.
O Papa, acusando o uso da violência ligada à religião, prestava a maior homenagem a Deus e à razão humana. E também à liberdade, porque a fé não pode ser imposta pela violência. Neste campo a Igreja católica já reconheceu as suas culpas, mesmo que até agora não ouvimos nenhuma outra religião ou confissão cristã admitir os seus erros. Por isso este pronunciamento pontifício deveria ser saudado por todos aqueles que amam a dignidade e os direitos humanos. O Papa, homem de fé, defendeu a razão e a liberdade. Afirmou claramente: “A fé mediante a violência é algo irracional... Não atuar segundo a razão é contrário à natureza de Deus”.
Revelam-se assim fora de lugar tanto as posições preconceituosas de certos expoentes islâmicos quanto a indiferença e superficialidade de muitos comentaristas ocidentais.
O que o Papa critica com veemência é o secularismo do Ocidente que, em muitas expressões, quer eliminar a presença de Deus da vida concreta da pessoa e da sociedade, considerando as religiões apenas como fonte de fanatismo e de violência.
Estamos diante de um convite a aprofundar o diálogo com a cultura moderna e com as grandes religiões, inclusive o Islã; é isso que cada pessoa de boa vontade deseja.

* Dom Filippo Santoro é Bispo de Petrópolis. Este artigo foi publicado no Jornal Tribuna de Petrópolis, em 24 de setembro de 2006 e no Jornal O Globo de 30 de setembro de 2006.

 
 

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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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