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Passos N.75, Agosto 2006

SOCIEDADE

Educação e Política

por Francisco Borba Ribeiro Neto

Com a proximidade das eleições Passos oferece algumas contribuições sobre temas relevantes da vida social e política. A partir da consideração de que se houvesse preocupação com a educação do povo, todos nós estaríamos melhor: as pessoas e os grupos

A piadinha é de Luis Fernando Veríssimo e saiu nos jornais. O menino pergunta: “Vô, todos os políticos brasileiros são corruptos?”. O velho responde: “Não, não, alguns não são”. E depois de alguns momentos pensativo, completa: “Por alguma razão...”.
Por alguma razão! Este é o grande problema da população brasileira diante das próximas eleições. Sim, deve haver gente honesta, deve haver gente digna para ocupar cargos públicos... a existência de pessoas honestas, muitas ou poucas, é uma evidência tão grande quanto a existência de pessoas desonestas. Mas, qual é a razão? Por que alguns deixariam de se locupletar como os demais? E, jogando a bola para o outro lado, por que nós iremos nos jogar mais uma vez num momento eleitoral? Por que se arriscar a mais uma grande decepção (eleitor é como amante, depois de uma grande desilusão tem medo de arriscar-se novamente)? Não seria melhor ficar no nosso canto, numa posição individualista, tentando sobreviver do melhor modo possível dentro do nosso mundinho pessoal?
Existem respostas aparentemente justas e fáceis, mas que se revelam insuficientes nos momentos extremos. Primeira resposta: existem políticos honestos quando o sistema é eficiente e pune os corruptos. Verdade, mas não há sistema capaz de eliminar totalmente a maldade do coração do homem. E, pior, se não temos este sistema já implantado, temos a impressão de que somos um povo condenado à corrupção e que, neste momento, nada vale a pena. Segunda resposta: temos que votar porque aos poucos as coisas vão mudando e sem participação tudo fica pior. Também é verdade, mas – se olharmos bem – veremos que esta justificativa é pouco para o nosso coração. Lutar para que as coisas não piorem, ou por um remoto futuro melhor, é deprimente. O coração anseia por realização e a quer agora, mesmo que seja como embrião de uma realidade que cresce.
Só existem duas razões adequadas para qualquer ação humana e, destas duas, apenas uma se sustenta no tempo. A primeira razão, aquela que não se sustenta indefinidamente, mas fascina a qualquer pessoa (particularmente jovem) realmente viva, é o desejo (desejo de felicidade, de que a vida tenha sentido, de beleza, de justiça). Mas ele precisa ser satisfeito – ao menos em parte – para continuar vivo. A segunda razão é um encontro com algo verdadeiro na vida. Como para nós foi o encontro com a presença viva de Cristo em uma companhia humana dentro da Igreja, como o encontro com o Movimento Comunhão e Libertação. A ação que é resposta a um encontro se mantém no tempo, e é tão mais estável quanto mais este encontro representa uma resposta global ao desejo. Totalidade e permanência são diretamente proporcionais na vida de cada ser humano.
Então, voltemos às eleições e à política. Os dois maiores inimigos, tanto da honestidade dos políticos quanto da participação dos eleitores, são a atrofia do desejo e o esquecimento de um encontro feito, pois o desejo e o encontro são as razões esquecidas – ainda que intuídas – pelo avô da piadinha de Luis Fernando Veríssimo. Na ausência destas duas razões a vida política se reduz ao que Dom Giussani sempre denunciou como a “grande homologação” em nossa sociedade: nos conformamos às regras e às condutas de quem tem o poder, nos cansamos de lutar, e passamos a viver “o melhor possível”, em um mundo que, no fundo, nos é estranho e inadequado.
Só nos conhecemos a nós mesmos e à realidade quando em ação. O homem que não age, que se imobiliza, não se conhece, não compreende as razões de seu coração, nem encontra as respostas às quais busca. Por isso, superar a atrofia do desejo e o esquecimento do encontro implica em um primeiro gesto de adesão, de engajamento, de presença. Entre as grandes percepções educativas de Dom Giussani, está a de que a presença no ambiente é fundamental, em primeiro lugar, para nós mesmos. Não aderimos a uma companhia e a anunciamos no ambiente porque ela (a companhia) ou o ambiente necessitem disto, mas sim porque nós necessitamos deste movimento de nossas pes-soas para descobrirmos a nós mesmos, para encontrarmos o que corresponde ao nosso desejo. O crescimento da companhia e a mudança que depois assistimos no ambiente vêm como um “algo mais”, o fruto sempre desejado, mas sempre inesperado, da fé – que é justamente o reconhecimento da presença dAquele que encontramos em nossas vidas.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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