Passos N.74, Julho 2006

EXPERIÊNCIA - Brasil / O Milagre da Hospitalidade

A gratidão gera a acolhida

por André Santos

Em junho deste ano, dois membros da Associação Famílias para Acolhida estiveram no Brasil fazendo encontros públicos sobre o tema da família e apresentando o recém-editado livro de Dom Giussani "O Milagre da Hospitalidade". A seguir contribuições do Rio e Salvador

SALVADOR.

A disponibilidade
do coração
por André Carvalho Santos

Aconteceu no dia 12 de junho,
em Salvador, o lançamento do livro de Dom Giussani O Milagre da Hospitalidade, que contou com a presença de Marco Mazzi e Rossana Serio, Presidente e Vice-Presidente da Associação Internacional Famílias para Acolhida, Padre Clodoveu Piazza, Secretário do Combate à Pobreza e às Desigualdades Sociais, Isabel Maria Sampaio Lima, Professora da Universidade Federal da Bahia, e Arlete Bonfim, Coordenadora da Associação Famílias para Acolhida em Salvador.
O evento consolidou um trabalho que vem sendo desenvolvido ao longo de dois anos, quando um grupo de amigos de Comunhão e Libertação iniciou a leitura do mencionado livro, ainda no original em italiano. Esse grupo nasceu movido pelas experiências pessoais de adoção e por experiências diversas de acolhida, seja de pessoas e famílias que chegam à cidade e buscam hospedagem por pequenos períodos, seja para atender necessidades específicas, como situações problemáticas com adolescentes que fazem reforço escolar em Alagados, numa obra gerenciada pela Associação de Voluntários para o Serviço Internacional (Avsi).
Além dessas reuniões, Famílias para Acolhida em Salvador também realizou, em maio deste ano, um curso sobre adoção para pais interessados, onde foram discutidos temas que ajudaram a enfrentar questões que emergem no processo adotivo. Nesse período foram realizados contatos com outras instituições que tratam do tema da adoção, como o Viver Adoção, e a Ong italiana Amici dei Bambini, que participaram efetivamente do lançamento do livro de Dom Giussani.
Muitas pessoas compareceram ao encontro e este evento foi um novo marco nesta experiência, muito enriquecida com a presença dos dois amigos vindos da Itália, Marco Mazzi e Rossana Serio. Os dois explicaram, dentre outros aspectos, que a questão da acolhida passa por toda a pessoa do homem. Só podemos ter a capacidade de acolher o homem quando temos a consciência de que antes fomos acolhidos por Cristo em nossa totalidade.
Dando muitos exemplos, Marco Mazzi contou que por meio da guarda e da adoção, milhares de famílias na Itália começam a mudar o cenário social da região, chegando a influenciar o sistema de leis em prol das crianças e adolescentes, que em algumas cidades já não passam por instituições e abrigos e vão direto para o seio de uma família disposta a acolher. Na sua colocação ele pontuou três aspectos principais: 1) A primeira gratuidade é o fato de que nós somos feitos: a gratuidade tem aqui a sua raiz, tudo aquilo que fazemos nos é dado, nada é nosso e a acolhida é a maior imitação que o homem pode viver de Deus; 2) O perdão da diversidade: a acolhida nos coloca sempre, antes ou depois, diante da diversidade do outro – a sua pessoa, a sua história, o seu comportamento – e isto sempre é um sacrifício; 3) Acolher e perdoar é a mesma coisa: a primeira acolhida e por isso o primeiro perdão é para com a sua mulher e seu marido. A família é o primeiro lugar, por natureza, em que esta acolhida nova acontece, do terem sido gerados, ao acolher-se total e cotidiano dos dois cônjuges. A família carrega dentro de si a dimensão da acolhida e a carrega para dentro da sociedade.
Segundo Mazzi, a Associação nasceu para desenvolver a natureza e a capacidade da família de ser um lugar de acolhida, “que é a única modalidade de um relacionamento humanamente digno, isto é, de respeito pelo destino do outro” (Dom Giussani) e se desenvolveu envolvendo-se numa amizade e num sustentar-se às famílias que pouco a pouco se abriam a dividir estas necessidades encontradas e construindo no tempo respostas orgânicas e continuadas.
Marco conclui dizendo que O Milagre da Hospitalidade é para todos, pois não é um livro sobre a acolhida nem mesmo sobre a família, menos ainda sobre a generosidade. É um livro que fala ao homem daquilo que o seu coração espera e da resposta que o Mistério nos dá como novidade dentro do mundo.
Nasceu destas experiências recentes o desejo de entender melhor o que é a acolhida, motivo pelo qual será trabalhado mais profundamente, ao longo deste ano, o exposto no mencionado livro, com o intuito de viver aquilo que é considerado o ato supremo da caridade: acolher aquele outro que nos é diferente.