A razão é exigência de infinito
e culmina no suspiro
e no pressentimento de que este
infinito se manifeste
Um prefácio para introduzir ao tema do Meeting de Rímini deste ano
O título da XXVII edição do “Meeting pela Amizade entre os Povos”, inspirado em uma conversa de Dom Giussani com os estudantes universitários em 1992, põe no centro das atenções o problema da razão.
A razão é exigência de infinito enquanto a esta está naturalmente ligada a necessidade existencial do homem de não limitar a própria visão da vida dentro de confins mensuráveis. A capacidade que a razão tem de conhecer e de incidir no tecido da realidade só pode ser plenamente valorizada, e não mortificada, se ela – e todas as faculdades que dela derivam – se abre a algo que não é “finito”, portanto, se não pretende ser medida de todas as coisas. Isso é garantido pelo fato de que o homem, por natureza, deseja e precisa tender em direção a algo infinitamente maior do que ele.
Ao contrário, o homem que, com um ato livre não se abre ao infinito, devido a uma pávida vontade de auto conservação ou um cálculo racionalmente instilado, reduz o alcance da razão, da qual é o único detentor, e, na presunção de ser capaz de explicar tudo à luz da própria razão, nega admitir a evidência do fato de que o infinito (o absoluto ou o mistério) permeia toda a realidade. Por causa da sua obstinação, o homem acaba, assim, privando a razão de uma parte substancial da sua energia cognitiva.
É o que acontece com os desvios da razão contemporânea – assim como descritos na encíclica Fides et ratio de João Paulo II – que vão do cientificismo, que “se nega a admitir como válidas formas de conhecimento diferentes daquelas que são próprias da ciência positiva”, ao historicismo, que define “a verdade de uma filosofia sobre a base de sua adequação a um determinado período e a um determinado objetivo histórico” negando, assim, “a validade perene do verdadeiro”, até chegar ao niilismo, cujo esquecimento do ser “comporta inevitavelmente a perda de contato com a verdade objetiva e, conseqüentemente, com o fundamento sobre o qual se apóia a dignidade do homem”.
De fato, se a razão não reconhece a “inevitável afirmação” do infinito – inevitável porque necessária à afirmação da grandeza da natureza humana – a inteligência se contrai, o racionalismo se fragmenta em análises minuciosas; o suspiro, meio indispensável para se aproximar até aonde é possível para compreender o infinito mistério, permanece sufocado; a capacidade de “pressentimento”, que é o estado mais elevado da inteligência, se dissolve em formas divinatórias, afins ao pressentimento mas vazias, como a previsão ou o prognóstico, que não têm praticamente nada em comum com a potência de envolvimento existencial própria do pressentimento.
Assim, até a experiência de liberdade é fechada em uma medida ascética, enquanto a liberdade é como “um grande respiro, um vasto e profundo respiro” que adquire consistência também “no viver os espaços restritos, uma vez que o horizonte do homem no relacionamento com as coisas é infinito” (Dom Giussani). E o ápice da inteligência humana consiste verdadeiramente em romper, projetando-se em direção ao infinito mistério, também os espaços restritos nos quais freqüentemente o homem é levado a viver.
Somente assim a razão “culmina no suspiro e no pressentimento de que o infinito se revele”. No suspiro e no pressentimento de que o mistério se revele, a inteligência humana transpõe o próprio limite. O suspiro é um modo de sentir as coisas cheio de espera, de desejo e de comoção. Mas o suspiro não pode ser nada além de um desejo disfarçado de melancolia. O suspiro é traspassado por “gemidos inefáveis”.
O pressentimento é a faculdade positiva e livremente empenhada de perceber que a realidade é um conjunto de sinais que remetem a outro; algumas vezes podemos percebê-los, mas freqüentemente não nos é dado fazê-lo. A razão não sofrerá por isso uma vez que aprenda a reconhecer que além da realidade “há outro” do qual ela é o sinal visível.
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