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Passos N.73, Junho 2006

SOCIEDADE - SÃO PAULO

Contra a violência, a reconstrução de um povo

por Francisco Borba Ribeiro Neto

Um mês após os violentos ataques de uma facção criminosa na cidade de São Paulo, que levou pânico à sua população, propomos uma análise do ocorrido e um juízo sobre o problema

Diante da onda de violência que varreu São Paulo no mês de maio, costumam ganhar força duas respostas que têm sua razão de ser, mas que são – em si mesmas – insuficientes para explicar tudo o que está acontecendo.
A primeira reduz tudo a uma questão de segurança pública, entendida como “falta de polícia”, “privilégios dados a bandidos nas prisões” etc. Esta resposta é justa, na medida em que aponta para uma série de limites tanto de nossas polícias como de nossa legislação. É falsa quando não percebe que em nossas prisões se vivem situações totalmente opostas: enquanto que, sobretudo graças à corrupção, os líderes criminosos vivem com mordomias e facilidades (vide o caso dos telefones celulares); a grande maioria dos presos vive em situações subumanas, que os afundam ainda mais na violência e na criminalidade, em vez de ajudá-los a se reintegrarem no convívio social. Além disso, essa análise freqüentemente leva à conclusão de que a solução é um aumento da violência policial, e não à melhoria das condições de trabalho e da formação dos policiais.
A outra resposta, igualmente verdadeira, mas parcial, considera a violência como decorrência da pobreza, pois a maioria dos criminosos são pobres (aliás, a maior parte da população brasileira é pobre) e a violência afeta principalmente as periferias pobres das grandes cidades. Porém, a distribuição da pobreza nas cidades brasileiras não corresponde exatamente à distribuição da violência. Cidades pequenas e muito pobres, por exemplo, têm índices de violência relativamente baixos. O impacto do desemprego sobre a violência também é relativamente pequeno. Mas favelas com menor infra-estrutura social tendem a ser mais violentas!
Apesar da inegável associação entre violência e pobreza, estamos diante de um fenômeno muito mais complexo, que pode ser entendido melhor como conseqüência da desestruturação do tecido social e da ausência de políticas públicas efetivas, particularmente para as populações pobres da periferia urbana.
Encontramos hoje em nossa sociedade, particularmente nas periferias das grandes cidades, um tecido social em decomposição. Os laços de solidariedade, a experiência da própria dignidade, o sentido de construir juntos, vão se dissolvendo devido a problemas sócio-econômicos e pela penetração de uma ideologia individualista e utilitarista. É aí que cresce a violência urbana.
A questão que está aqui em jogo não é apenas a da segurança dos cidadãos, mas também a da natureza do ser um povo, dos valores que estão na base da convivência social e que permitem nos reconhecermos unidos numa identidade comum. Um povo nasce (ou renasce) a partir da experiência do reconhecimento de um sentido em comum para a vida. O amor e o respeito à vida e à liberdade são as duas pilastras sobre as quais se funda a nossa história e do qual é necessário partir para reconstruir uma convivência social mais justa e pacífica.
O drama de nossa sociedade é que, para isto, é preciso que façamos um encontro verdadeiro, que nos revele o sentido da vida como resposta a um grande amor que nos foi doado. Mas a experiência deste encontro vem sendo sistematicamente anulada em nossa sociedade, tanto nas favelas e nos bairros pobres – onde o desamor se une à exclusão social, gerando a violência que assistimos agora – quanto entre a classe média e as elites.
Neste sentido entendemos que todas as nossas obras, enquanto espaço de encontro e de acolhida, onde a pessoa humana é ajudada a compreender-se amada e reconhecer um sentido em sua vida, são espaços de combate à violência e construção da paz.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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