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Passos N.73, Junho 2006

CULTURA - DAN BROWN | O CÓDIGO DA VINCI

Uma obra de ficção

por Vando Valentini

A estréia do filme O Código da Vinci, baseado no livro
homônimo, nos leva a fazer algumas observações. É evidente que essa obra apresenta uma “historinha”, uma história que não corresponde à verdade, porque conta que Jesus Cristo era uma grande personalidade que falava do amor e fugiu com a amante para Paris, onde tiveram uma filha e fundaram a Igreja. Lógico que é uma invenção.
A publicidade do filme diz no slogan “não importa aquilo em que você acredita, o importante é a busca da verdade”. Isso é muito grave, porque primeiro não se trata da verdade: uma vez que é ficção, não é verdadeiro; todos sabem disso.
E segundo porque essa propaganda insinua uma possibilidade de divisão entre aquilo que nós acreditamos e a busca da verdade, como se fossem duas coisas diferentes. Tristemente, isso corresponde à mentalidade da nossa sociedade, da nossa época. A mentalidade que separa a razão da fé. Então acredita-se em Jesus Cristo sem ter motivos racionais, sem que Ele seja necessariamente a verdade. Isso é um absurdo! Nós acreditamos em Jesus Cristo porque Ele é a verdade. A busca da verdade está na raiz da nossa fé.
Digo essas coisas porque a divisão entre fé e razão está muito presente na nossa cultura, e sempre se repete que a fé não tem razões adequadas. A nossa fé tem razões, sim. Nesse sentido essa obra pode ser usada de uma maneira positiva, porque é uma provocação para que os cristãos se perguntem: quais são as razões da nossa fé? Você busca a verdade e Cristo responde na sua vida a essa busca? Trata-se de descobrir as razões da nossa fé! Afinal, por que eu acredito? Porque minha mãe acreditava, porque meu pai acreditava...mas, que experiência eu fiz a partir da qual posso dizer: eu acredito, isso é razoável, isso corresponde à busca da verdade que tenho dentro do meu coração?
Esse é um questionamento positivo porque nos obriga a perceber, a nos darmos conta dos fatos que aconteceram. Porque as razões da nossa fé correspondem a uma experiência, que é a experiência do Cristo ressuscitado na nossa vida.
Por exemplo, a experiência cotidiana do perdão, do recomeçar – que só Deus pode proporcionar ao nosso dia-a-dia – se não houvesse essa experiência, nós não teríamos como viver da maneira adequada, humana. Essa é experiência da presença do divino! A vida da comunidade é outro exemplo: a experiência de sermos acolhidos tal qual somos. Isso é o contrário do ceticismo, do vazio, do nada, que é típico da nossa época. A experiência da presença de Deus na vida é que dá conta das razões da nossa fé.
Uma outra coisa que me chamou a atenção é que uma senhora me perguntou: qual o problema Jesus ter casado? É impressionante a fragilidade de nossa evangelização! Dizer que Jesus casou significa dizer que os Evangelhos não têm nenhum valor histórico. Conseqüentemente, Ele não ressuscitou. Então, no fundo ele era um grande homem, uma pessoa com grande fé em Deus, mas não era Deus. Isso é gravíssimo, porque esvazia nossa fé. Como São Paulo dizia: “Se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa fé”, ou seja, aquilo em que acreditamos não serve para nada.
Nesse aspecto, é importante redescobrir o valor dos Evangelhos, o valor da ressurreição de Cristo, e não aceitar essa leitura gnóstica dos Evangelhos que reduz a figura de Jesus a um homem iluminado que descobriu um caminho para se aproximar de Deus, e que revelou esse caminho apenas para uma seita, um grupo de iniciados (como narra o filme). Isso equivale a dizer: “Deus não se fez homem, não podemos encontrá-Lo como homem”, é como se tivesse deixado um código de acesso para Deus apenas para os iniciados. Só que isso não muda nada do drama da nossa humanidade. O drama da nossa humanidade é viver em função da beleza, da justiça. Construir uma humanidade nova. Amar-se de uma maneira verdadeira. Sem Deus, isso é impossível, porque o homem não consegue fazê-lo sozinho.
Então, se Deus não se fez homem e não se revelou através da pessoa de Jesus Cristo, que morreu, ressuscitou, subiu aos céus, doou o Espírito Santo e continua presente entre nós e nós O encontramos e experimentamos, se nada disso aconteceu, nossa vida não tem possibilidade de realização humana.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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