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Passos N.72, Maio 2006

IGREJA - Movimentos: A beleza de ser cristãos e a alegria de comunicá-la

Movimentos eclesiais e sua colocação teológica

por Joseph Ratzinger

Da conferência de abertura feita pelo então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé ao Congresso mundial dos Movimentos Eclesiais. Roma, 27 de maio de 1998

Na grande Encíclica missionária Redemptoris Missio, o Santo Padre escreve: “No seio da Igreja há vários tipos de serviços, funções, ministério e formas de animação da vida cristã. Lembro – como novidade surgida recentemente em não poucas Igrejas – o grande desenvolvimento dos Movimentos Eclesiais, dotados de forte dinamismo missionário. Quando se inserem com humildade na vida das Igrejas locais e são acolhidos cordialmente pelos Bispos e Sacerdotes nas estruturas diocesanas e paroquiais, os Movimentos representam um verdadeiro dom de Deus para a nova evangelização e para a atividade missionária propriamente dita. Recomendo, pois, que sejam difundidos e valorizados, para que se volte a dar vigor – sobretudo entre os jovens – à vida cristã e à evangelização, numa visão pluralista sobre os modos de associação e de expressão” (n. 72).
Para mim, pessoalmente, foi um evento maravilhoso a primeira vez que conheci mais estreitamente – no início dos anos setenta – Movimentos como o Neocatecumenato, Comunhão e Libertação, Focolares, e pude constatar o dinamismo e o entusiasmo com que eles viviam a fé; e a partir da alegria gerada por essa fé, sentiam-se impelidos a transmitir aos outros o dom que haviam recebido. Naquela época, Karl Rahner e outros costumavam falar de “inverno” na Igreja; na realidade, parecia que, depois da grande florada do Concílio, o gelo substituíra a primavera, e o cansaço tomava o lugar do novo dinamismo. Então, o dinamismo havia se deslocado para outros lugares; aí – com as próprias forças e sem incomodar a Deus – outras pessoas preocupavam-se em construir o melhor dos mundos futuros. No entanto, era evidente, para quem não fosse cego, que um mundo sem Deus não era bom, e muito menos o melhor possível. Mas Deus, onde estava? E a Igreja, depois de tantas discussões e muito esforço na busca de novas estruturas, não parecia exausta e derrotada?
A expressão de Rahner era plenamente compreensível; expressava uma experiência que nos era familiar. Mas eis que, de repente, surge algo que ninguém havia projetado. Eis que o Espírito Santo, por assim dizer, pediu de novo a palavra. E em jovens homens e em jovens mulheres voltava a desabrochar a fé, sem “se” nem “mas”, sem subterfúgios nem escapatórias, vivida em sua integralidade como dom, como um presente precioso que faz a gente reviver. Claro, não faltaram aqueles que se sentiram contrariados, em seus debates intelectualizados, em seus modelos de Igreja totalmente diferentes, construídos no escritório, à própria imagem. E assim teria que ser, mesmo. Onde irrompe, o Espírito Santo desmonta sempre os projetos dos homens.
Perguntemo-nos, então: como foi o começo da Igreja? Não há nenhuma dúvida de que os imediatos destinatários da missão de Cristo eram, a partir de Pentecostes, os Doze, que logo passaram a ser denominados de “Apóstolos”. A eles é confiada a tarefa de levar a mensagem de Cristo “até os extremos confins da Terra” (At 1,8), de ir a todos os povos e fazer de todos os homens discípulos de Jesus (cf. Mt 28,19). A área confiada a eles era o mundo todo. Sem delimitações locais, eles ajudaram na criação do único corpo de Cristo, do único povo de Deus, da única Igreja de Cristo.

 
 

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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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