Colhendo os frutos
Acabo de receber a Revista Passos do Movimento Comunhão e Libertação, do qual participei durante cinco anos. A partir de 2001 tive grande perda de visão, deficiência que me dificulta muito. A revista está muito boa. Fiz a leitora que me acompanha ler todos os títulos dos artigos publicados. Espero em Deus tomar conhecimento dos textos mais importantes. Agradeço o envio da revista que me fez lembrar os tempos do Colégio Pedro Álvares Cabral, quando Dom Filippo e logo depois padre Giuliano iniciaram o Movimento no Rio. Sinto grande alegria em ver o eficaz crescimento do trabalho iniciado por Dom Filippo, a quem muito estimo.
Elza, Rio de Janeiro – RJ
A reza do terço
Caro padre Carrón, somos um grupo de mães a quem, no dia 15 de outubro de 2003 Cristina fez uma proposta e, a partir do dia 17, começamos a nos encontrar para recitar o terço. Este dado temporal é muito importante para nós: significa que nossos filhos já deixaram as creches e as escolas e que, agora, eles também já participam desse momento conosco. Com uma média de três crianças por cabeça e cinco mães, temos cerca de 15 crianças. Desde aquele dia 15 de outubro o terço nunca foi interrompido. As crianças maiores rezam uma dezena conosco e os menores, aos poucos, aprendem o respeito pelo nosso gesto. Os encontros acontecem na casa que tem a maior sala, para poder receber e acolher as novas pessoas que convidamos. No último verão nos transferimos para o jardim público de Meda. O nosso gesto “contagiou” algumas amigas das cidades de Carate e de Seregno e estas últimas começaram a rezar o terço às sextas-feiras. O nosso gesto simples de oração foi acrescido de algumas intenções particulares: as doenças do Papa e de Dom Giussani, a eleição do novo Pontífice, a sua participação no Sínodo. Junto a estas, estão as intenções “normais”: as nossas Fraternidades, os nossos filhos e as nossas famílias, as doenças das pessoas queridas, os padres e seminaristas da Fraternidade São Carlos. Também aconteceram alguns encontros importantes: Maria, uma amiga de Seveso decidiu entrar para o convento; padre Pepe, da São Carlos, nos recomendou as pequenas comunidades do Movimento de Viena e Budapeste. Nestes dois anos, algumas de nós, Betti, Monica e Roberta, acompanharam suas mães ao Paraíso; outras tiveram a graça de uma nova gravidez. Para o nosso grupo o terço é antes de mais nada o modo com o qual o Mistério se torna familiar e cotidiano e também é um lugar de agregação e de amizade. Estamos certas da companhia de Giussani, de João Paulo II e de todos os Santos, assim como nos confiamos às suas orações.
Carta assinada, Seveso – Itália
Serenidade impossível
Caros amigos, no último dia 24 de fevereiro, faleceu o meu pai. Ele era uma um homem muito simples, mas muito firme na fé que passou para sua família (ele e minha mãe tiveram 13 filhos e estavam casados há quase 55 anos). A postura diante da morte do meu pai e diante do aniversário de um ano da morte de Dom Giuss era a mesma, pois a fé simples que herdei de meu pai se tornou razoável no encontro com Dom Giussani, no Movimento. Por isso foi possível experimentar que a morte não é a última palavra, porque Cristo com o seu sacrifício na cruz, venceu a morte. Para mim, para a minha família e para os amigos que estavam conosco foi de fato uma experiência bonita, um milagre: primeiro porque meu pai teve uma “morte feliz”, pois tudo aconteceu muito rápido. De um dia para o outro ele passou mal e veio a falecer sem sofrimentos. Antes de ir para o hospital pediu perdão, explicou algumas coisas para um de meus irmãos mais velhos e disse que não voltaria mais para casa; para a mamãe (penso que para não preocupá-la) disse que voltaria logo. Sendo que ele era um homem que amava o trabalho e gostava muito de conversar, de se mover, se tivesse ficado na cama ele sofreria muito. Outro milagre foi a forma como nós enfrentamos esse fato: com serenidade e paz. Isso só foi possível pela presença dos amigos, onde era visível uma “unidade sensível entre nós, cuja origem é um acontecimento”, como nos falou Carrón (in Passos nº 67). Encontramos uma carta que meu pai escreveu quando descobriu uma isquemia cardíaca em setembro de 2003. Ele já era aposentado, mas trabalhava e o médico o proibiu de continuar. Na carta ele falava da dor de ter que obedecer a essa indicação e diz no final: “glória seja Deus, glória seja tudo; seja feita a vontade de Deus”. Diante da morte, da grande dor que se experimenta, o coração grita fortemente a necessidade de que Cristo se revele, seja visível, palpável, audível, pois só assim é possível fazer experiência de que a morte é positiva. No velório e enterro do papai a presença de Cristo era muito concreta pela presença dos amigos do Movimento que nos fizeram companhia o tempo todo: minhas amigas de Petrópolis, do Rio, de Brasília, e muitos amigos de Belo Horizonte; além das diversas mensagens e telefonemas que recebemos. Ali se via um povo. Como fala Dom Giuss, “a vitória de Cristo é o povo cristão”. Padre Tom e padre Giovanni Vecchio se ofereceram para celebrar as missas, de corpo presente e de sétimo dia, respectivamente. Meu irmão vendo todos os meus amigos disse: “que bom que vocês vieram, não sei o que seria de nós se vocês não estivessem aqui”. Durante o velório, rezávamos o terço e cantávamos o tempo todo. O fato de eu, a Rita e a Carla pertencermos ao Movimento, deixava o meu pai muito feliz; e mais ainda, pelo fato de duas serem dos Memores Domini. Era orgulhoso e contente de ter duas filhas que deram a vida a Cristo e assim falava da experiência do Movimento para os seus amigos, tanto que no dia do velório, uma senhora me chamou e disse: “Ângela, esses dias conversei com seu pai e ele me falou do Movimento, dos seus amigos e eu achei muito interessante. Gostaria de saber mais porque queria que minha filha pudesse participar também”. Em dezembro do ano passado, levei minha mãe e meu pai ao túmulo do padre Virgilio (pessoa a qual eles tinham uma grande afeição e que celebrou as bodas de ouro deles) e depois fomos à Serra da Piedade, em Caeté. Papai agradecia sempre assim: “esse foi o maior presente que recebi de você e de suas amigas de casa” e, como sempre, contava várias vezes para os amigos desse passeio. Vários amigos e vizinhos de meus pais disseram para nós: “como são alegres e bonitos os seus amigos; como falam bonito aqueles padres!”. Eu pensava: “que espetáculo, que em um velório onde geralmente se vê só tristeza e desolação, no máximo um conformismo, se veja uma beleza e uma alegria, que com certeza vinha ‘daquilo’ que carregamos: Jesus como acontecimento presente”. Aquilo que experimento é uma imensa gratidão por Dom Giuss e pela nossa história, por cada um de vocês, meus amigos. Estou certa de que meu pai está bem e mais presente do que nunca, certa de que tudo que o Senhor nos dá é para um bem maior. Penso que agora papai está feliz, contando muitos “causos” mineiros para Dom Giuss, para padre Virgilio e para os outros pais ...Obrigada por poder pertencer a esta grande companhia!
Ângela, Petrópolis – RJ
Agora me divirto mais
Oi, padre Giorgio, estou no terceiro ano do colegial. Uma noite, jantando em uma pizzaria, encontrei pela primeira vez o seu grupo através de uma professora. Ali, os rapazes me contaram como conseguiam se divertir sem precisar ir para a balada ou se drogar. Chamou-me a atenção, sobretudo, o fato de que gostavam da escola, coisa que para mim parece impossível pela experiência que eu faço lá. Eles me contaram como viviam felizes fazendo as coisas normais de todos os dias e me convidaram para a Jornada de Início de Ano dos colegiais. Não pensei que tantos participassem deste gesto. Depois disso, nos falamos outras vezes e me convidaram para às férias come eles. Eu não sabia se gostaria de ir porque o modo como eles viviam era completamente diferente do meu. As férias foram muito diferentes daquilo que eu tinha imaginado fazer (pensava em ir à discoteca pelo menos de vez em quando). Não esperava que, durante as noites, eles ficassem jogando e cantando. Não pensei que todos ficassem juntos, mas que se dividissem em grupinhos e que cada um faria o que decidisse. Uma outra coisa que me marcou é que se celebrava missa todos os dias e que se rezava muito. Descobri um modo diferente do meu que, porém, não é menos, pelo contrário, agora me divirto mais sem me drogar. Antes, eu ia para a balada mas nunca me sentia satisfeito até o fundo e passava a semana esperando chegar o sábado à noite. Mas agora estou contente em fazer as coisas de todos os dias. Quando voltamos das férias, fui à discoteca no sábado à noite como sempre fazia. Mas eu me entediei e voltei para casa mais cedo. Normalmente as saídas de sábado à noite eram para ir à discoteca e encontrar lá as garotas. Mas com vocês é diferente e mesmo no estar com uma menina, há algo a mais, mais bonito. Uma outra coisa que me maravilhou é que alguns de vocês escutam música clássica, que é completamente diferente daquela que eu escuto (house). Não achava que um jovem pudesse escutar música clássica, uma música que deve ser ouvida com atenção, enquanto a que eu ouço, posso escutá-la enquanto faço outra coisa e me distrai. Mesmo sendo completamente diferentes, vivemos em harmonia e estamos bem juntos.
Carta assinada, Itália
A chegada de Flora
Caríssimos, queremos lhes dizer que à nossa família, uniu-se Flora, para um período de adaptação e temos a intenção de adotá-la assim que a lei permitir. Ela tem 21 meses, é soropositiva e pesa 5,5 kg. A história é esta: um dia, André estava casualmente no Meeting Point e uma velha bêbada deixou em suas mãos essa menina. Eu iria dar à luz em breve e, portanto, era impensável levá-la para casa. Mas ali, naquele momento, foi plantada a semente. Há dois meses, Andrea me disse: “Gio, nós já recebemos tanto de Jesus através de nossos dois filhos, Filippo e Letizia. Eu acho que devemos retribuir o bem recebido e acolher Flora”. Fiquei petrificada. No início eu relutei, por causa da Aids e da alta probabilidade de sua morte. Depois, compreendi e vejo com clareza um bem e uma possibilidade de crescimento para mim mesma, antes de tudo. Então, com simplicidade, disse sim. Flora poderá viver 6 meses ou 60 anos. E teremos uma responsabilidade educativa imensa. A Aids, nas crianças, é totalmente imprevisível. Nós estaremos com ela pelo tempo que o bom Deus quiser.
Giorgia e André, Hoima – Uganda
O fascínio da beleza
Há dois anos não nos reuníamos para fazer as férias do Movimento por diversos motivos: por não encontrarmos um lugar que contemplasse as necessidades de todos da comunidade; porque as famílias com filhos pequenos colocavam a dificuldade de conciliar cuidar de crianças e atividades das férias, mesmo reconhecendo a importância para a amizade entre as crianças; pela dificuldade de investir parte do orçamento e de conciliar com o período de férias do trabalho etc. Em 2004, fomos convidados por Alberto Piatti para participar das férias da sua Fraternidade em San Martino di Castrozza, na Itália. Foram conosco Dom João Carlos Petrini, Cesare e Cristina, Gianfranco e Nadia, Fabrizio e Nara. Ficamos impressionados desde a escolha do lugar – uma montanha a 3500m do nível do mar, que convida não apenas a contemplar a natureza, mas a empenhar-se com ela em caminhadas com diversos graus de dificuldade – até a liberdade com a qual são propostos gestos para todos, por exemplo: Escola de Comunidade e missa realizadas diariamente. Conviver uma semana com casais que fazem parte do Movimento há mais de 20 anos, alguns com mais de quatro filhos, ser recebidos e acolhidos de forma positiva como fomos, significou para nós um novo início e uma grande provocação, um chamado para vivermos mais a fundo o dom recebido – o carisma de Dom Giussani. Fizemos a experiência de um olhar à totalidade da nossa pessoa, por parte de quem foi educado pelo carisma a viver tudo e a não censurar nada, pois todos os aspectos da vida estavam presentes durante as férias. São dias vividos como um momento de liberdade dentro da experiência cotidiana, não apenas como lazer ou descanso da fatiga da vida, mas ao contrário, expressam a nossa posição de abertura diante da realidade. As férias evidenciam uma grande riqueza humana por meio de propostas e gestos frente aos quais não podíamos ficar indiferentes: adultos, jovens e crianças desejavam participar. Ao retornar estávamos convencidos de que precisávamos compartilhar com os amigos a experiência feita, desejando viver com eles férias como aquelas. Este foi o fruto imediato do que tínhamos vivido. Assim, fizemos a proposta, alguns amigos aceitaram, sobretudo Gianfranco e Nadia, e então nos lançamos juntos. Escolhemos a cidade de Lençóis, na Chapada Diamantina região do interior da Bahia, tendo como critério a beleza esplendorosa do lugar. Apostamos que a beleza convencesse os nossos amigos de que também valeria a pena o sacrifício da viagem e dos custos. Procuramos pensar em uma proposta que levasse em conta a totalidade, e isso incluía as necessidades de cada família, o custo, o conforto e a beleza do lugar. Por isso, pensamos em detalhes como a adequação do hotel, o tamanho dos quartos, o conforto do ônibus, o cardápio, a dificuldade das trilhas etc. Lançamos a proposta com antecedência de seis meses e ficamos livres: “se cinco pessoas aderirem, iremos com eles, se nem isto, iremos de qualquer jeito, porque vale a pena”. Surpreendentemente, participaram mais de cem pessoas da comunidade e convidados. Foi o maior número de todas as férias que já realizamos. Os adultos se lançaram nos seus ambientes convidando colegas de trabalho e familiares. Fizemos diversas caminhadas: cachoeira do Ribeirão do Meio, Morro do Pai Inácio, Caverna e Lago da Pratinha; visitamos grutas e tomamos banho de rio. Foram momentos em que juntos cantamos, rezamos e vimos a presença do Mistério na natureza exuberante e na nossa amizade. Foi incrível ver como o cálculo de nossas expectativas foi sendo dia após dia quebrado por uma experiência de liberdade. As mães, diante das dificuldades, se viram obrigadas a pedir ajuda aos amigos que prontamente se dispuseram a ajudar; as crianças se mostraram muito felizes e com simplicidade se colocavam dispostas a seguir os guias e as propostas. A cada noite havia uma proposta clara: Escola de Comunidade, mostra da história do rock, apresentação da Maestà de Duccio di Buoninsegna, e o concurso de dança na festa de despedida. De um lado nos deparamos com a beleza natural que documenta o Mistério, e do outro com a cultura que documenta o pedido que esse Mistério se revele, e no caso da Maestà, a beleza de um povo que vive o nexo com o rosto bom de Cristo, por meio de Maria. Um dos encontros inesperados e mais marcantes que realizamos foi com o nosso guia Luis Krug. Este senhor nos apresentou a Chapada Diamantina e sua história geológica relacionando-a com a origem da terra e com a manifestação do Mistério, ao qual ele chama “O Poder”. No último dia, nos disse comovido que aqueles dias tinham sido “férias” para ele em primeiro lugar, um momento que jamais esqueceria. Vivemos estas férias como há muito tempo não acontecia: um momento de clareza diante de uma Presença entre nós que se impõe e que nos convida a aprofundar uma amizade, e a qual reconhecemos com gratidão.
Otoney e Miriã, Salvador – BA
Credits /
© Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón