Em abril do ano passado morria João Paulo II. A sua figura e o seu testemunho comoveram o mundo e mudaram a vida de muitas pessoas. Homens das mais diversas culturas reconhecem que ele serviu a vida com uma grande esperança. Apaixonado pelo homem porque apaixonado por Cristo, foi um exemplo de fertilidade positiva, em uma época repleta de sombras, dominada pelo fechamento das ideologias e de novas violências terrificantes. Plantou sementes e fez germinar vida nova em uma terra que era considerada “desolada” para muitos.
“Abril é o mês mais cruel de todos os meses”: começa assim o poema de T.S. Eliot, obra-prima do século IX, intitulado significativamente, A terra desolada. Com essas palavras o escritor evoca um paradoxo: mesmo no período em que a natureza é fértil, mês de primavera na terra do poeta inglês, a existência pode ser coberta por um sentido cruel de desolação. Não basta a natureza para garantir uma vida humana plena. Para que a existência de um homem seja geradora, positivamente criativa, é necessário que haja a consciência de uma meta, de um destino. É visível a todos, na nossa sociedade, um fenômeno duplamente preocupante: a diminuição da taxa de natalidade e a incapacidade de educar. Um povo que não tem claro um sentido e um destino perde-se e não consegue mais educar homens que sejam capazes de um relacionamento com a realidade pleno de razão e de afetividade.
Junto com isso existem outros fatores que marcam – neste mês de abril – a dificuldade de uma abertura cheia de confiança no futuro, com desejo de investir para construir a favor dos próprios filhos e do amanhã. Há um senso de desilusão generalizado, uma tendência ao lamento. “A idade da ânsia”, a denominou um outro poeta inglês, W.H. Auden. O convite que a natureza faz a cada um, a sentir e a refletir sobre a promessa de vida que vibra em toda criatura, muitas vezes se consome em um breve febril desperdiço de energias. Por isso sobre todos pesa o perigo iminente do niilismo. Mesmo sobre nós cristãos, quando reduzimos a nossa fé a um conjunto de noções ou a uma ética abstrata que não tem relação com a vida cotidiana.
Ao contrário, até a morte de João Paulo II, como a de Dom Giussani que o havia precedido há pouco, foi um momento do qual floresceram esperanças e retomadas. Como se indicassem, ao extremo, que no fundo de toda grande fertilidade ou paternidade há também um sacrifício que, realizado por amor ao destino, é caminho ao cêntuplo aqui, à multiplicação de um bem.
Abril pode ser o mês mais cruel para o homem que perdeu o sentido e o destino dos próprios dias. Até as luzes da natureza, com a sua doçura, podem se tornar intoleráveis para quem está fechado na prisão do nada como horizonte e como segredo das circunstâncias. Precisa negar a beleza das flores, ou a beleza de uma testemunha humana. Assim, sob a guia de Bento XVI, ainda vemos a Igreja sofrer perseguições, com o aumento do número de mártires no mundo, e o louvor nos salões ou nos jornais daqueles que a esperança dos homens revolvem apenas olhares entediados. Mas o testemunho dos Papas e de tantos cristãos lança novamente o desafio de todo abril aos homens de todos os tempos. O que está nascendo de nós? Que terra deixaremos: desolada ou mais humanamente cultivada?
A incansável insistência do Papa ilumina a cotidiana luta contra o nada: “A fé cristã não é uma ideologia, mas o encontro pessoal com Cristo crucificado e ressuscitado. Desta experiência, que é individual e comunitária, brota um novo modo de pensar e de agir”.
Feliz Páscoa a todos.
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