Há um ano, padre Francesco é testemunha da vida que todos os dias toma conta do Famedio local, onde está sepultado Dom Giussani. “Segunda-feira de Páscoa, depois da missa, havia aqui um grupo de crianças que brincavam, corriam, e pensei: Estamos num cemitério, mas parece que é um parque público. Que alegria!”
“Por favor, onde é o Famedio?”. Um dos guardas do cemitério Monumental de Milão afasta-se do grupo de colegas e volta o olhar para aquela senhora: “A senhora procura o padre? Vá reto, não suba a escadaria, vire à direita”. “Obrigada”. A mulher, empurrando o carrinho de bebê, vai em frente. Diante do túmulo, começa a rezar, baixinho, desfiando o Rosário que traz entre as mãos. Alguns minutos depois aproxima-se da lápide, com a mão toca a fotografia de Dom Giussani, volta-se para a criança, faz nela o sinal da cruz e conclui: “Agora podemos ir embora”. Enquanto isso, aproxima-se um senhor, que reza; depois, duas moças. É uma fria manhã de sexta-feira, mês de janeiro.
“É sempre assim”, diz padre Francesco, capelão do cemitério Monumental. “Há sempre alguém diante do túmulo de Giussani, que mudou a vida do Monumental, trazendo para o cemitério um grande número de pessoas, muitos fiéis que nem pertencem ao Movimento. Pessoas que perguntam onde é o túmulo, e que ficam ali alguns minutos, rezando. Viu quantos vasos de flor estão lá? Isso vai o ano todo”. O senhor conhecia Dom Giussani? “Só de nome. Sempre tive um grande afeto por ele e pelo Movimento, porque sabia que fazia muito bem às pessoas. Agora que vejo tanta gente vindo aqui para rezar, a minha admiração por ele tem se tornado ainda maior”.
Preces e cantos
Uma senhora nos interrompe para perguntar ao padre Francesco a data para mandar celebrar uma missa de sufrágio. “Vocês estavam falando do padre? Ele nunca está sozinho”, diz ela. “É verdade, a senhora disse bem – prossegue padre Francesco –. Ele nunca está sozinho. Aos sábados e domingos quase não conseguimos andar aqui. Durante a missa, a capelinha está sempre cheia. Chegam ônibus de todas as partes da Itália e vem gente até do exterior. Eles vêem, acompanham a missa, depois, diante do túmulo, recitam o Rosário e cantam. Cantam o Salve Rainha e alguns cantos modernos, que em coro ficam muito bonitos. São, na maioria, jovens; muitos vêm com seus pais. Isso me impressiona muito. Segunda-feira de Páscoa, depois da missa, havia um grupo grande de crianças que brincavam, corriam, e pensei: ‘Isto aqui é um cemitério, mas parece um parque público. Que alegria!’. Tive que lembrar a eles que dali a pouco os portões do cemitério iam ser fechados. Geralmente, quando celebro os funerais de uma pessoa idosa, há poucas pessoas; mas se acontece o contrário, significa que a pessoa fez muito bem, como foi o caso de Dom Giussani. E esse bem continua sendo distribuído, o testemunho não se extingue, a presença de Jesus é para sempre. O Senhor faz com que todos experimentem a amargura da morte, mas aquele que vive bem e está próximo dEle tem também o consolo da Sua presença e do Seu amor, como o foi para Giussani”.
Flores, bilhetes e ex-voto
Enquanto conversamos, duas moças escrevem bilhetinhos, que depois depositam dentro de um vaso, junto ao túmulo. “O fato de todos esses bilhetes também me impressiona muito!”, nota padre Francesco. “Alguns agradecem, outros pedem uma graça particular (sobre o túmulo há três corações, por graças recebidas – nde), outros agradecem simplesmente o dom da fé; às vezes, são uma longa lista de nomes de pessoas apresentadas a Dom Giussani, para que as proteja. Está vendo? Aquelas ali são duas garotas muito jovens, que talvez nem o conheceram pessoalmente. Recentemente, veio uma peregrinação de Trento com três ônibus. A capela estava lotada. O padre que as acompanhava disse, durante a celebração: ‘Vejam, garotos, nós devemos agradecer a Dom Giussani porque, se ele não tivesse existido, se não tivesse dado origem ao Movimento, a esta amizade, talvez hoje vocês não estariam aqui, nesta igreja, talvez vocês nem tivesse nascido’. Dizia isso àqueles garotos que nunca conheceram Dom Giussani pessoalmente”.
Deixando o cemitério, vêm à minha mente as palavras escritas por Dom Giussani a João Paulo II por ocasião do 50o aniversário do nascimento de CL: “Eu não apenas nunca pretendi ‘fundar’ nada, como considero que a genialidade do movimento que vi nascer é ter sentido a urgência de proclamar a necessidade de um retorno aos aspectos elementares do cristianismo, ou, em outras palavras, a paixão pelo fato cristão enquanto tal, em seus elementos originais, e nada mais.”.
E isso ele o testemunhou para nós concretamente durante todos esses anos. Nos revelou – e continua a fazê-lo – a beleza do cristianismo, dentro das alegrias e das dificuldades de todos os dias. A paixão por Cristo que se revela, graças a Deus, em todos os aspectos da vida de cada pessoa, plenificando-a e tornando-a verdadeira e atraente. Para fazer-nos felizes. No fundo, essa é a sua herança: a amizade com Cristo e a indicação do caminho para se chegar a ela: esse povo que a febre de vida de Dom Giussani gerou e que há um ano peregrina até o Monumental.
Credits /
© Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón