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Passos N.69, Fevereiro 2006

DOCUMENTO - BENTO XVI

Batismo, a amizade certa dAquele que é vida

por Bento XVI

Homilia do Papa Bento XVI na festa do Batismo do Senhor. Capela Sistina, 8 de Janeiro de 2006

Queridos pais, padrinhos e madrinhas, amados irmãos e irmãs, o que acontece no Batismo? O que esperamos do Batismo? Vós destes uma resposta à entrada nesta Capela: esperamos para os nossos filhos a vida eterna. É esta a finalidade do Batismo. Mas como pode ser realizado? Como pode o Batismo dar a vida eterna? O que é a vida eterna?
Poderíamos dizer com palavras mais simples: esperamos para estas nossas crianças uma vida boa; a vida verdadeira; a felicidade também num futuro ainda desconhecido. Nós não somos capazes de garantir este dom durante todo o tempo futuro desconhecido e, por isso, dirigimo-nos ao Senhor para obter dEle este dom.
À pergunta: “Como acontecerá isto?” podemos dar duas respostas. A primeira: no Batismo cada criança é inserida numa companhia de amigos que nunca a abandonará na vida nem na morte, porque esta companhia de amigos é a família de Deus, que tem em si a promessa da eternidade.
Esta companhia de amigos, esta família de Deus, na qual agora a criança é inserida, acompanhá-la-á sempre, também nos dias de sofrimento, nas noites escuras da vida; lhe dará consolo, conforto e luz. Esta companhia, esta família lhe dará palavras de vida eterna. Palavras de luz que respondem aos grandes desafios da vida e dão a indicação justa sobre o caminho a empreender. Esta companhia oferece à criança consolo e conforto, o amor de Deus também no limiar da morte, no vale escuro da morte. Dará a ela amizade, vida. E esta companhia, absolutamente confiável, nunca desaparecerá. Ninguém sabe o que acontecerá no nosso planeta nos próximos 50, 60, 70 anos. Mas, sobre um ponto temos a certeza: a família de Deus estará sempre presente e quem pertence a esta família nunca ficará só, terá sempre a amizade certa dAquele que é a vida.
E assim chegamos à segunda resposta. Esta família de Deus, esta companhia de amigos é eterna, porque é comunhão com Aquele que venceu a morte, que tem nas mãos as chaves da vida. Estar na companhia, na família de Deus, significa estar em comunhão com Cristo, que é vida e dá amor eterno além da morte. E se podemos dizer que amor e verdade são fontes de vida, são a vida e uma vida sem amor não é vida podemos dizer que esta companhia com Aquele que é vida realmente, com Aquele que é o Sacramento da vida, responderá à vossa expectativa, à vossa esperança.
Sim, o Batismo insere na comunhão com Cristo e assim dá vida, a vida. Interpretamos desse modo o primeiro diálogo que tivemos aqui, na entrada da Capela Sistina. Agora, depois da bênção da água, se seguirá um segundo diálogo de grande importância. O conteúdo é este: o Batismo como vimos é um dom; o dom da vida. Mas um dom deve ser acolhido, deve ser vivido. Um dom de amizade exige um “sim” ao amigo e um “não” a tudo o que não for compatível com esta amizade, a tudo o que não está em sintonia com a vida da família de Deus, com a verdadeira vida em Cristo. E assim, neste segundo diálogo, o “não” e o “sim” são pronunciados três vezes. Diz-se “não” e renuncia-se às tentações, ao pecado, ao diabo. Conhecemos bem estas coisas, mas talvez porque as ouvimos demasiadas vezes, estas palavras não nos dizem muito. Então devemos aprofundar um pouco os conteúdos destes “não”. A que dizemos “não”? Só assim podemos compreender ao que desejamos dizer “sim”.
Na Igreja antiga estes “nãos” eram resumidos numa palavra que para os homens daquele tempo era muito compreensível: renuncia-se à “pompa diabuli”, isto é, à promessa da vida na abundância, daquela aparência de vida que parecia vir do mundo pagão, das suas liberdades, do seu modo de viver apenas segundo o que agradava. Por conseguinte, era um “não” a uma cultura aparentemente de abundância da vida, mas que na realidade era uma “anticultura” da morte. Era o “não” aos espetáculos onde a morte, a crueldade, a violência tinham se tornado divertimento.
Pensemos no que acontecia no Coliseu ou aqui, nos jardins de Nero, onde os homens eram queimados como tochas vivas. A crueldade e a violência tinham-se tornado um motivo de divertimento, uma verdadeira perversão da alegria, do verdadeiro sentido da vida. Esta “pompa diabuli”, esta “anticultura” da morte era uma perversão da alegria, era amor à mentira, ao engano, era abuso do corpo como mercadoria e como comércio.
E se agora refletimos, podemos dizer que também no nosso tempo é necessário dizer “não” à cultura amplamente dominante da morte. Uma “anticultura” que se manifesta, por exemplo, na droga, na fuga do real para o ilusório, para uma felicidade falsa que se expressa na mentira, no engano, na injustiça, no desprezo do próximo, da solidariedade, da responsabilidade pelos pobres e pelos que sofrem; que se exprime numa sexualidade que se torna puro divertimento sem responsabilidade, que se torna uma “coisificação” por assim dizer do homem, que já não é considerado pessoa, digno de um amor pessoal que exige fidelidade, mas se torna mercadoria, um mero objeto. A esta promessa de aparente felicidade, a esta “pompa” de uma vida aparente que na realidade é apenas instrumento de morte, a esta “anticultura” dizemos “não”, para cultivar a cultura da vida. Por isso o “sim” cristão, dos tempos antigos até hoje, é um grande “sim” à vida. Este é o nosso “sim” a Cristo, o “sim” ao vencedor da morte e o “sim” à vida no tempo e na eternidade.
Assim como naquele diálogo batismal o “não” se desenvolve em três renúncias, também o “sim” se desenvolve em três decisões: “sim” ao Deus vivo, isto é, a um Deus criador, a uma razão criadora que dá sentido à criação e à nossa vida; “sim” a Cristo, ou seja, a um Deus que não permaneceu escondido, mas que tem um nome, que tem palavras, corpo e sangue; a um Deus concreto que nos dá a vida e nos mostra o caminho da vida; “sim” à comunhão da Igreja, na qual Cristo é o Deus vivo, que entra no nosso tempo, entra na nossa profissão, entra na vida de todos os dias.
Também poderíamos dizer que o rosto de Deus, o conteúdo desta cultura da vida, o conteúdo do nosso grande “sim”, se expressa nos dez Mandamentos, que não são um pacote de proibições, de “não”, mas na realidade apresentam uma grande visão de vida. São um “sim” à família (quarto mandamento); “sim” à vida (quinto mandamento); “sim” ao amor responsável (sexto mandamento); “sim” à solidariedade, à responsabilidade social, à justiça (sétimo mandamento); “sim” à verdade (oitavo mandamento), “sim” ao respeito do próximo e do que lhe é próprio (nono e décimo mandamentos). É esta a filosofia da vida, a cultura da vida, que se torna concreta, praticável e bela na comunhão com Cristo, o Deus vivo, que caminha conosco na companhia dos seus amigos, na grande família da Igreja. O Batismo é dom de vida. É um “sim” ao desafio de viver verdadeiramente a vida, dizendo “não” ao ataque da morte que se apresenta com a máscara da vida; e é “sim” ao grande dom da verdadeira vida, que se fez presente no rosto de Cristo, o qual se doa a nós no Batismo e depois na Eucaristia.
Disse isto no breve comentário às palavras que no diálogo batismal interpretam o que se realiza neste Sacramento. Além das palavras, temos os gestos e os símbolos, mas farei deles um breve elenco. Já realizamos o primeiro gesto: é o sinal da cruz, que nos é dado como escudo que deve proteger este menino na sua vida; é como um “indicador” para o caminho da vida, porque a cruz é o resumo da vida de Jesus. Depois há os elementos: a água, a unção com o óleo, as vestes brancas e a chama da candeia. A água é o símbolo da vida: o Batismo é vida nova em Cristo. O óleo é o símbolo da força, da saúde, da beleza, porque é realmente belo viver em comunhão com Cristo.
Depois a veste branca, como expressão da cultura da beleza, da cultura da vida. E por fim a chama da candeia, como expressão da verdade que resplandece nas obscuridades da história e nos indica quem somos, de onde provimos e para onde devemos ir.
Queridos padrinhos e madrinhas, queridos pais e irmãos, agradeçamos neste dia ao Senhor, porque Deus não se esconde atrás das nuvens do mistério impenetrável, mas, como disse o Evangelho de hoje, abriu os céus, mostrou-se, fala conosco e está conosco; vive conosco e guia-nos na nossa vida. Agradeçamos ao Senhor por este dom e rezemos pelas nossas crianças, para que tenham realmente a vida, a verdadeira, a vida eterna. Amém.

© Copyright 2006 - Libreria Editrice Vaticana

 
 

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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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