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Passos N.66, Outubro 2005

MEMÓRIA / TEREZINHA ORTIZ

Amor à vida

pela redação

No dia 02 de outubro, faleceu Terezinha Ortiz Herrera. Aos 41 anos de idade ela deixou um grande testemunho de amor a Cristo e à Igreja na oferta de sua doença. Para toda a comunidade do Rio de Janeiro que a acompanhou no último período e também para cada um de nós, ela foi um testemunho de esperança e de alegria. Publicamos a seguir a carta que escreveu a Dom Giussani em maio de 2004

Caríssimo Dom Giussani, foi com imensa gratidão a Deus que pude participar dos Exercícios Espirituais da Fraternidade, de 14 a 16 de maio em São Lourenço (MG). Luto contra um câncer há três anos e, por isso, não pude ir aos últimos Exercícios.
Suas palavras na intervenção do retiro, sobre a positividade do real, é o que eu vivo. Tive que raspar a cabeça duas vezes e nunca derramei uma lágrima! A confiança no Senhor que me ama em todas as circunstâncias fez a minha fé mais forte.
Fiz radioterapia em janeiro e fevereiro e tanto como na químio, chegava e saía com um sorriso, apesar dos efeitos colaterais. Eu me senti abraçada pelos amigos do Movimento que se revezavam em me dar carona.. Dom Filippo me apoiava espiritualmente e sempre estava atento a mim, assim como todo o Movimento. Pude sentir o que é uma companhia guiada ao destino.
Na quimioterapia e na radioterapia, o ambiente é de desolação. Eu, no entanto, me sentia preferida por Deus, que fazia completar em mim o que falta à cruz de Cristo. Quando terminei a radioterapia os médicos, secretárias e enfermeiras do hospital me disseram para voltar lá para visitá-los. Eu sentia que levava a Presença de Cristo no ambiente e o mudava.
Como numa das cartas lidas nos Exercícios sobre os soropositivos em Uganda cuidados pela Rose, vi que, como eles, amo a vida e não tenho medo da morte, porque Cristo ressuscitou e será o encontro face a face com Ele (que pretensão!).
Faço minhas as palavras de São Paulo (Rm 8,18 e Fl 3,10): “O sofrimento do tempo presente não tem comparação com a glória que deverá revelar-se. Tornando-me semelhante a Ele na morte, me aconteça de alcançar a ressurreição”.
Todo o sacrifício da viagem e do retiro tiveram um largo e bom efeito: quando voltei, voltei mudada e minha segunda-feira não seria como as outras e sim da vivência que tive nesses três dias maravilhosos. O meu destino tem sentido porque em Cristo falta palavras.
Grata por suas palavras, Dom Giussani.
Que Nossa Senhora continue abençoando-o.
Com afeto,
Terezinha, Rio de Janeiro – RJ

HOMÍLIA
Uma oferta pura

Homilia de Dom Filippo Santoro na missa de 7º dia de falecimento da Terezinha.

Esta nossa amiga reconheceu a grandeza do Mistério e aderiu a Ele com toda a sua vida e com toda a sua liberdade. Ela cursou Engenharia Eletrônica e tinha tudo para exercer uma brilhante profissão, coisa que ela tinha desejado tanto; mas não foi possível. Desejou trabalhar com intensidade pelo Movimento, no qual tinha descoberto a presença do Senhor, que dava sentido a toda a sua vida; mas não foi possível. Desejou doar-se ativamente na vocação à Fraternidade São José e foi acometida pela doença. Mas em tudo isso, ficou no seu lugar, e disse sim a Cristo. Esta experiência de abandono se tornou um milagre para si e para todos.
Viveu uma oferta pura naquilo que Cristo pedia-lhe e, nos últimos dias, foi simples e familiar para ela a oferta da vida toda a Cristo. A grandeza dela era a simplicidade da fé do seu sim ao Senhor, a oferta virginal da vida a Cristo, que vivia com grande alegria e intensidade e, depois, o sim às circunstâncias. Esta é a santidade. Que todos nós agora, pela intercessão deste anjo e dos nossos amigos que já nos precederam, possamos acolher o abraço de Cristo e viver desde agora, a fé e o início do mundo novo. O verdadeiro início da novidade do mundo está na ressurreição de Jesus, e é uma coisa só com a nossa vida, como esta nossa amiga nos testemunha.
Jovem, inteligente, brilhante e bonita, ela responde o seu sim diante das limitações que a sua doença lhe coloca, obrigando-a a não trabalhar, a não participar dos encontros e eventos do Movimento, a não compartilhar os gestos mais bonitos com os amigos, em particular com a Fraternidade São José. Tudo oferecido pelo Papa, por Dom Giussani, pelos bispos e padres, pela Igreja, pelo Movimento.
Com todos irradiava serenidade; onde entrava, mudava o ambiente; fosse nas unidades oncológicas, fosse nas clínicas ou nos ambientes de quimioterapia. Em cada uma das etapas desta “via crucis” acolhia o sofrimento e o oferecia.
Contou-me de sua eterna gratidão por duas coisas: ter encontrado o Senhor como fato vivo na experiência simples da nossa amizade; e de ter sido eu, um pobre homem, ministro de Deus, o instrumento da conversão à Igreja Católica de seu pai, depois de 50 anos de afastamento.
Todos pedimos o milagre para Terezinha e o conseguimos. Nestes anos, depois do manifestar-se da doença, ela ficou entre nós por cinco anos como testemunho da graça de Cristo. E os médicos não tinham explicações, a não ser a Presença do Mistério, que se manifestava na vida desta criatura. Foi sinal evidente de Jesus, para muitos.
Ela acreditou no milagre que lhe foi dado, dentro de um milagre ainda maior de ver o rosto de Cristo. Dizia: “O objetivo da vida é a glória de Cristo, ou ficando totalmente curada ou entregando-me totalmente a Ele presente entre nós”. Quando a visitava, junto com sua mãe, dona Maria Luisa, era uma festa que tinha o ponto máximo no Sacramento da Eucaristia – o Pão da Vida.
Nós, juntos com sua mãe, agora estamos na dor pela sua partida, mas podemos lhe acompanhar na festa de sua comunhão com o Mistério do Pai do Céu, de Jesus, de Nossa Senhora Aparecida, e de todos os nossos amigos que estão no céu, começando pelo Papa João Paulo II, Dom Giussani e todos que já foram chamados à comunhão definitiva.
Você nos deixou na festa dos Santos Anjos e um dia depois da festa de sua Santa preferida, Santa Terezinha, mas agora, continua sendo para nós, para sua mãe e para toda a comunidade, o anjo que nos acompanha e que vigia sobre a nossa caminhada; que possamos viver o seu sim a Cristo com a firmeza, a totalidade e a beleza que você viveu. Muito obrigado filha querida e rosto da ternura de Deus para nós.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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