Passos N.65, Setembro 2005

COLÔNIA / JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE

“Deixem-se surpreender por Cristo”

por Andrea Tornielli

O Papa e os jovens de Colônia. “A felicidade que vocês têm direito a saborear tem um nome, um rosto. Deixem que Ele lhes fale nestes dias”

O Papa já o havia dito em várias ocasiões nos dias que antecederam a Jornada Mundial da Juventude, em Colônia, como que preanunciando o conteúdo de sua mensagem: o cristianismo não é um fardo, não pode ser reduzido a uma série de proibições. O cristianismo é alegria e beleza, é o encontro com uma pessoa, com um rosto, com uma presença viva. Bento XVI, em sua primeira viagem internacional, que coincidiu com a primeira volta para a sua pátria, fez questão de deixar para os 800 mil jovens que foram na Alemanha este singular anúncio: “Caríssimos jovens, a felicidade que vocês procuram, a felicidade que vocês têm direito a saborear tem um nome, um rosto: é aquele de Jesus de Nazaré, escondido na Eucaristia. Só ele confere plenitude à vida da humanidade!”.
Palavras que o Papa Ratzinger proferiu já no primeiro dia da viagem, no auge da festa de acolhida, que o viu chegar em um barco que deslizava sobre o rio Reno, em direção à catedral de Colônia, cercado por uma representação de jovens vindos dos cinco continentes.

Uma resposta à sede do coração
“Viemos para adorá-lo” era o tema da Jornada Mundial da Juventude que fora escolhido por João Paulo II. Naquela cidade alemã, em uma urna dourada de dimensões gigantescas – a urna mais preciosa do cristianismo – estão conservadas as relíquias que vieram de Milão e que a tradição defende tratar-se das relíquias dos reis magos. Dessa forma, as suas palavras contidas no Evangelho de Mateus, tornaram-se o fio condutor do encontro. O Papa Ratzinger fez uma “saudação especial” a “todos aqueles que vieram do Oriente, como os magos. Vocês são os representantes das incontáveis multidões de nossos irmãos e irmãs na humanidade, que esperam, sem que tenham consciência, o despontar da estrela em seus céus particulares a fim de serem conduzidos a Cristo, luz dos povos e a fim de nele encontrar a resposta que sacie a sede dos seus corações”. “Escancarem o seu coração a Deus, deixem-se surpreender pelo Cristo! Concedam-lhe o ‘direito de falar para vocês’ durante esses dias!... Façam a experiência libertadora da Igreja como lugar da misericórdia e da ternura de Deus para com os homens.”
Bento XVI impressionou pela sua serenidade e simplicidade. Tímido e comedido em seus gestos, concentrou todo o seu anúncio nos três comoventes discursos da festa da acolhida, da vigília e da missa em Marienfeld. Teve o cuidado de não se apresentar a si mesmo, o papa, como o protagonista colocado ao centro das atenções, mas de apontar para os jovens em que direção deveriam olhar juntos. Para tanto o ponto máximo da vigília, sábado, 20 de agosto, foi a adoração eucarística, uma novidade para as mega-reuniões da Jornada Mundial da Juventude.

Um menino, o Rei que eles procuravam
O Papa não fez homilias sobre o relativismo que aflige a Europa, não esbravejou contra o secularismo e a descristianização (embora, exatamente na Alemanha, a cada 75 segundos um cristão, católico ou protestante, decide abandonar a própria comunidade), não fez apelos éticos, nem levantou obstáculos quanto à identidade, como também não enalteceu a necessidade de se resistir à imigração em nome dos valores ocidentais. Bento XVI sabe muito bem que os cristãos não são contra ninguém, mas são pessoas às quais aconteceu, por obra da graça, encontrar a beleza e a verdade e que propõem o reflexo daquele encontro com todos (não impõem, nem reduzem a uma ideologia). “Podemos imaginar o assombro dos magos – disse o Papa Ratzinger – diante do Menino envolto em faixas! Só a fé fez com que nos traços daquele Menino reconhecessem o Rei que eles procuravam, o Deus para o qual a estrela os havia conduzido. Nele, superando o fosso existente entre o finito e o infinito, entre o visível e o invisível, o Eterno tomou conta do tempo, o Mistério se deixou desvendar entregando-se a nós mediante os membros frágeis de um pequeno menino.” Aquele pequeno Menino, que João Paulo II, em março de 2000, celebrando a missa na Praça da Manjedoura de Belém, definiu “o nosso tudo”.

Sempre conosco e diante de nós
O anúncio evangélico da fé vivida como encontro com uma presença viva, hoje, veio acompanhado pela comunicação de uma outra certeza: “na grande procissão dos fiéis chamada Igreja”, Jesus se mostra vivo, “sempre conosco e ao mesmo tempo sempre diante de nós”. Bento XVI disse que “se pode criticar bastante a Igreja”, e lembrou o pedido de perdão de João Paulo II. E, em seguida, acrescentou que “no fundo é consolador o fato de que existe a discórdia na Igreja. Pois, desse modo, com todos os nossos defeitos podemos continuar a acreditar que estamos no caminho do seguimento de Jesus, que chamou para si exatamente os pecadores”.
O entusiasmo com que o Papa Ratzinger foi acolhido, a participação demonstrada pelos 800 mil jovens – não obstante o cansaço e os problemas causados pelas graves lacunas na organização – nos três encontros com o pontífice e os dois mil jovens que depois da Jornada Mundial da Juventude manifestaram a vontade de abraçar a vida consagrada, dão testemunho de que havia necessidade da simplicidade e da essencialidade daquele anúncio.

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