Texto de uma meditação de Luigi Giussani de 1973 distribuído durante a JMJ em Colônia
O cristianismo se tornou algo de verdade, ou seja, a presença de Cristo, a evidência da Sua presença se manifestou. Mesmo tendo acontecido por meio de um sinal, é correto usar a palavra evidência, pois o sinal é uma coisa que se vê, se toca e se experimenta: “O que ouvimos, o que tocamos, o que sentimos do Verbo da vida” (cf. 1Jo 1,1-3); mas, justamente porque era um sinal, justamente porque se manifestou por meio de um sinal, pode acontecer que, no dia seguinte ou uma hora depois, na conversa com outras pessoas que se mostram menos entusiasmadas ou que zombam ou que não viram, justamente porque é um sinal, pode acontecer que, na conversa com outras pessoas ou vinte e quatro horas depois ou no ano seguinte, a evidência não exista mais e a experiência não perceba ou sinta a Presença da manifestação. A evidência não existe mais e é como se a manifestação tivesse desaparecido. É na interpretação do sinal que a nossa liberdade – ou seja, o nosso amor ao Ser – é chamada a apostar tudo. De fato, por que foi que os Reis Magos deixaram tudo para trás e seguiram aquela estrela? Seguiram o impulso que sentiam por dentro ao ver aquela estrela; por quê? Porque estavam cheios de amor ao Ser, porque estavam cheios de busca, porque eram pobres de espírito, porque eram mendicantes, porque desejavam sinceramente, buscavam cheios de desejo: a expressão “amor ao Ser” é isso. Estavam cheios de amor ao Ser, que é a característica dos pobres de espírito, pois o pobre de espírito é uma criança de olhos arregalados que diz “sim” a tudo o que se lhe apresenta como evidência.
“Deus, tu és o meu Deus.” Esse “meu Deus” indica o reconhecimento; mas reconhecimento de quê? De uma idéia minha, da realização de uma idéia minha? Do resultado de uma análise minha, do alvo de um sentimento meu? O reconhecimento é de algo que acontece, portanto de algo que aconteceu! Enfim: a evidência naquele sinal, ou seja, a evidência reconhecida, na qual a liberdade deles se lançou, fez com que os Reis Magos partissem. Que significa “fez com que partissem”? Determinou um caminho. O que é que determinava o caminho? O que é que determinava o caminho que tomaram em cima de camelos, carregando ouro, mirra e incenso, subindo e descendo as dunas, atravessando os vaus, acampando à noite porque tinham de dormir e armando as tendas, ou continuando a olhar para o céu, porque não tinham sono? O que é que determinava o caminho deles? O fato de terem visto a estrela daquela forma. Tanto, que, mesmo quando a estrela desapareceu, não pararam, e a estrela que os acompanhava não era absolutamente necessária, enquanto razão, para que caminhassem; ela era uma benevolência que os guiava, era uma glória a mais, que servia de facilitação, de companhia. Sabe lá quantas vezes terão pensado: “Vamos voltar!”; sabe lá quantas vezes terão dito: “Já nos perdemos!”. Sabe lá quantas vezes terão dito: “Mas nada mais nos interessa!”. O caminho não era determinado pelo estado de espírito que tinham naquele dia, não era determinado pela opinião que podiam ter naquele dia, não era determinado pelo que viam e sentiam naquele dia, mas pelo que havia acontecido. A razão do caminho, o motivo do caminho, o que determinou o caminho foi o acontecimento inicial, aquele que fez com que partissem, e por isso era um caminho fiel, um caminho no qual não podiam voltar atrás, pois – como diziam os Escolásticos – factum infectum fieri nequit, não é possível fazer com que uma coisa que aconteceu não tenha acontecido. É o que se deu com o Senhor, que veio e marcou presença neste mundo, e, mesmo que todos os homens ficassem distraídos e cuspissem em cima do Anúncio, Ele já veio! Sendo assim, já veio, já aconteceu aquele momento em que a evidência nos foi dada, aquele momento no qual se experimenta que em tudo o que nos disseram quando éramos pequenos, em tudo o que os padres dizem, em tudo o que a Igreja faz existe um significado real, é verdade! Por essa última observação fica ainda mais claro que todo o eixo da questão, todo o peso, todo o peso do caminho repousa inteiramente na graça, na graça que nos encontrou. Em nós é preciso realmente que exista apenas uma “pequenez” de espírito, no sentido em que Jesus falava no Evangelho: “Se não vos tornardes como crianças”; mas ser crianças inteligentes, pois trata-se de uma lógica insuportável: nós não seremos lógicos, não seremos coerentes conosco mesmos do ponto de vista lógico, se não respeitarmos isso que estamos dizendo – pois não existe nenhum “se”, nenhum “mas”, nenhum medo, nenhuma tentação que nos faça, que tenda a nos fazer considerar ilusão o pertencer, que possa eliminar o fato da evidência inicial, do pressentimento inicial, do sinal que nos tocou. Isso ninguém tira!
(traduzido por Durval Cordas)
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