Na Idade Moderna, a Filosofia deixa de ser a prerrogativa da ética para dar lugar às ciências físico-matemáticas. Nós vamos ver isso em Descartes. O modelo das ciências matemáticas, empírico-formal, levará a uma especialização cada vez maior, a uma fragmentação do saber. Assim, vemos uma divisão em várias racionalidades, que levará a ética a se tornar uma ciência empírica descritiva, infelizmente. E aí chegamos em Durkheim. O que é a ética para ele? É essa ciência empírica descritiva. A ética não é mais normativa, não é mais como dever ser. Se a ética nos dizia como deveríamos agir, agora a ética passa a ser um simples dado empírico descritivo. Quer dizer, se reduz a costumes e hábitos de um determinado povo. Ora, chegamos a um grande problema, porque essa ética vai gerar justamente o relativismo moral dos nossos tempos, relativismo ético. Esse é o grande problema. Se nós não temos nenhum ponto, nenhuma ética normativa, nenhuma ética de alcance universal, a ética é apenas atos e costumes, passados e presentes, de um determinado povo, de uma determinada etnia, assim, nós temos várias éticas. E aí há o relativismo ético. Então, esse relativismo vai levar ao ceticismo. Se nós não temos uma prerrogativa filosófica, um fundamento, princípios universais, nós vamos cair no ceticismo, que, numa definição simples, seria a negação da possibilidade do conhecimento. Ao cair nesse ceticismo, caio num certo pragmatismo; e do pragmatismo, conseqüentemente, caio num niilismo, na redução do sentido, porque eu não tenho mais aquele bem maior.
Segundo ponto: hoje, o que é agir etica e moralmente? Qual a relação entre ética e política? Para os gregos, para os quais o homem era, por definição, um animal político, um ser social, não é possível separar radicalmente política e ética. Essa separação se inicia com Maquiavel e trará conseqüências catastróficas. Em O Príncipe, sua obra capital, ele não diz, mas parece ser realmente o que ele pensa, os fins justificam os meios. O que isso significa? Nós podemos usar de quaisquer meios, mesmo de meios antiéticos, para exercer o poder. Então, a ética vira coisa de anjos e política vira coisa de demônios.
Qual é a relação desse discurso para nós, agentes éticos do século XXI? O que um estudante universitário jamais pode perder é o ideal. Mas o que é esse ideal? Não apenas como realização individualista, que gera uma visão carreirista ou a busca de dinheiro, mas o ideal que tem como intuito alcançar a sociedade por meio da cultura, da religião, da ciência, dessas esferas da sabedoria do conhecimento humano? É tentarmos fazer o nosso melhor, sermos virtuosos como alunos e professores, e contribuirmos, chegarmos a essa dimensão maior do ser humano.
Nesse caminhar, veremos que há dois obstáculos: um é a egolatria, que cai num egoísmo desenfreado; o outro é a dispersão na massa uniforme dos fanáticos e frustrados, levando o indivíduo a um rebaixamento de sua consciência moral e muitas vezes a um maquiavelismo. Aí temos a ideologia, ideologia como se o indivíduo ignorasse a realidade. Um dos grandes problemas da ideologia é que os indivíduos hoje parecem querer adequar a realidade a sua consciência, e não o contrário. Não podemos perder de vista o ideal, que é a luz para a realização de algo que nos ultrapassa e que quando realizado se torna de todos. Essa é a contribuição que podemos dar nessa época de crise em que vivemos: tentando ter excelência, virtude, fazer bem, realizar visando o bem maior; nós precisamos desse norte. Viver a plenitude do bem com os outros, tornando, através de nosso trabalho e estudo, o legado para o nosso país e para a humanidade. É isso que esperamos: a revolução interna e a exigência moral que nós devemos ter hoje em dia, em vez das revoluções que nós vimos na história.
* Mestrando em Filosofia pela UFMG e professor da Faculdade Pitágoras, de Belo Horizonte - MG
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