Vemos a política como algo distante, que não tem a ver comigo, não me atinge no dia a dia, e assim caio num ceticismo. Mas porque que vale a pena se interessar com a política? Quando você enfrenta de verdade a realidade, é natural que surjam perguntas: mas porque que existe a desigualdade? A injustiça? O mal? Por que aquela pessoa não tem uma vida digna? E desperta os nossos desejos de igualdade, de justiça, de liberdade, de felicidade, bem comum. Esses desejos são constitutivos do homem. E a política existe justamente para ajudar a responder essas perguntas e essas necessidades que surgem no confronto com a realidade. A política como serviço. Geralmente entendemos o contrário, o homem como uma peça que se encaixa num projeto, num partido, e assim é reduzido simplesmente a uma questão social ou econômica.
Um segundo ponto é que, se eu resgato esses desejos, também me dou conta de que eu sozinho não sou capaz de realizá-los. Tenho limites. Chesterton escreve algo muito interessante em O Segredo do Padre Brown: “Nenhum homem é, de fato, bom, enquanto não souber quão mal [ou limitado] ele é, ou poderia ser”. Você não consegue se colocar numa posição justa enquanto você não conhece os seus limites. Porque, se eu não percebo que sou limitado, eu me coloco acima do bem e do mal. Ou então eu posso justificar um mal por um suposto bem maior. Ou então o erro é externo, não é meu. Esse é o ponto do problema que estamos vendo hoje, de um partido que se coloca acima do bem e do mal com um projeto ideológico e que infelizmente reduziu o ideal a uma fórmula, se identificou ele próprio com a moralidade, com a ética... “Eu sou o bem”.
Mas de onde nasce então a esperança? O desejo de bem comum não cai com um projeto que não deu certo. Os meus desejos permanecem. Diante disto temos o risco de achatar o desejo do bem comum e cair no individualismo ou projetar a esperança num futuro, quando conseguirmos resolver cada problema, ou seja, joga-se sempre a esperança em um aprimoramento de regras, de leis. O problema não é apenas das leis. O problema é do homem, que é limitado e tem que se reconhecer como tal.
A esperança está no presente. Falo da minha experiência: encontrei por meio de alguns amigos, Marcos Zerbini, responsável de um movimento que ajuda famílias a se organizarem pra conseguir sua casa própria. Ele senta com cada uma das 15.000 famílias junto com um arquiteto e desenham a própria casa. O modo como Zerbini valoriza a experiência humana deles me comoveu, porque valoriza a liberdade e a criatividade de cada um. Olhando para esse homem que tem uma consciência aberta ao bem, ao infinito, que é ponto de referência moral, eu me dei conta: aqui nasce a esperança. O sistema político pode estar ruindo agora, a corrupção presente, e isso machuca a obra e a todos, mas não mata a experiência que o Zerbini faz com aquelas famílias. Posso citar inúmeras obras que nascem justamente dessas pessoas que, com toda sua criatividade, sua liberdade, responderam àqueles desejos suscitados num confronto com a realidade. A esperança está justamente nessas pessoas que têm a consciência aberta pra um bem, que responde sistematicamente com uma obra. Eu mudei quando eu me relacionei com o Zerbini. Comecei entender que a mudança na sociedade não está só em grandes projetos. Eu mudei, e essa mudança em mim, muda as pessoas que estão junto comigo no Mestrado. Não vou salvar o mundo com isso, mas de qualquer forma, aquilo que eu estou fazendo tem um significado pra mim, um significado para o Zerbini e um significado para quem está ao meu lado. A partir daí não sei o que pode acontecer. É o relacionamento com essas pessoas que muda de verdade a sociedade. E é a partir daí que eu começo a me interessar por fazer leis de tal tipo, pensar políticas públicas de tal modo.
E para terminar, cito João Paulo II que desenvolveu o Princípio de Solidariedade, principalmente na Centesimus annus que é uma Encíclica social: “A solidariedade é a responsabilidade de todos com todos os homens”. Que dizer, cada um de nós tem uma responsabilidade pessoal e intransferível. Cada um a seu modo responde à realidade, visando o bem comum, a igualdade, a justiça, a liberdade, a felicidade. O Estado deve promover e incentivar – e não fazer por si e abafar – essas obras que nascem da sociedade. Este é o Princípio de Subsidiariedade.
* Jornalista e mestrando em Ciências Políticas na PUC/SP
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