Na palestra que deu início ao Encontro com os Educadores em São Paulo, o professor Stefano Giorgi frisou muitas vezes o fato de que a educação é a esperança de um povo. Com efeito, o mundo de hoje encontra-se em um grande perigo. O niilismo é o clima cultural mais presente e se manifesta com duas faces: no Ocidente pelo relativismo, que afirma que não há nada pelo qual vale a pena empenhar-se; e no Oriente pelo niilismo feroz, que encontrou a sua trágica expressão na mensagem depois dos atentados de Madri: “Nós amamos a morte mais do que vocês amam a vida”.
Retomando o comunicado da comunidade de CL de Londres depois dos ataques terroristas, afirmou a evidência de que o homem não pode fazer nada se não existe agora uma Presença que venceu a morte e o mal, uma Presença à qual é possível confiar o nosso desejo de vida. É justamente dentro destas circunstâncias que a educação revela a sua importância fundamental. É por meio dela que a pessoa é ajudada a conhecer o significado da realidade total e que ajuda a superar o risco de considerar o próprio pensamento como a verdadeira medida da realidade.
A única resposta ao niilismo é a possibilidade de encontrar lugares onde se experimenta uma resposta humana que diz “sim” à realidade. Estamos diante de uma alternativa: ou somos medida de todas as coisas, ou o coração do homem é aquela janela aberta que ajuda a entender que justamente a realidade é o caminho para responder aos desejos que carrega. A nossa responsabilidade educativa consiste no fato de que nós somos o caminho por meio do qual quem nos encontra pode conhecer a inexorável positividade do ser.
Diante da violência dos tempos atuais, a experiência cristã traz ao mundo a caridade como modalidade diferente de viver os relacionamentos com todas as pessoas, continuava a explicar o professor Stefano Giorgi. É uma paixão pelo destino do outro, um movimento do coração totalmente gratuito. Sem caridade, sem acolhimento gratuito não há educação. O ponto de partida da nossa posição educativa, dizia ele, é a comoção pelo destino dos nossos irmãos homens. Não pode haver educação sem paixão pelo destino daqueles que a Providência nos faz encontrar. Por isso, a simples instrução não é suficiente, porque não gera o eu na sua plenitude: precisa de um encontro. O caminho educativo deve despertar o desejo de felicidade que constitui o coração humano.
A introdução na realidade comunicando a verdade do ser: esta é a caridade. Assim podemos reconhecer a positividade da realidade porque ela tem um significado. Todo relacionamento deve levar em conta a questão da liberdade que é provocada por uma proposta clara e por um caminho de verificação com o qual se avalia se a vida se torna mais viva, mais interessante.
Na colocação final, como momento de síntese do encontro, Stefano Giorgi mostrou que é a educação que gera a pessoa. Hoje sabemos muitas coisas sobre técnicas e conhecimentos, mas sempre sabemos menos como é que se gera verdadeiramente o eu. Isto porque não entendemos a questão do significado da realidade. Acreditamos que somos nós que determinamos o significado da realidade, enquanto que – na verdade – é ele que vem ao nosso encontro, porque o significado da realidade é Quem faz a realidade. O que gera o nosso eu, o que nos faz pessoa, é o chamado de atenção que a realidade faz a nós mesmos, assim que começamos a reconhecer a exigência de beleza, de felicidade, de justiça que está dentro de nós. O eu começa a ser gerado quando estas exigências são despertadas, porque podemos procurar e encontrar a resposta verdadeira.
Esta resposta existe, mas não é uma teoria. Pelo contrário, tem uma forma humana: a forma da companhia entre pessoas. Por isso a educação implica na existência de uma companhia entre pessoas, uma amizade, um afeto que suscita, que permite a resposta a estas exigências que estão no coração de todo homem. Assim, o educador transmite aos jovens aquilo que foi despertado nele, para que eles cresçam na responsabilidade e colaborem para modificar a realidade. A educação é comunicação de si – que possibilita uma vida melhor para aqueles que aceitam a nossa amizade.
A modalidade educativa que encontramos deve penetrar nos detalhes, porque o que educa é a unidade da proposta e da experiência. Nada para nós é secundário, mas tudo manifesta a quem pertencemos.
Nestes dias experimentamos uma companhia que ama o nosso destino e que nos ajuda a amar o destino dos outros, porque nos fez descobrir mais uma vez que tudo é para um bem. Por isso podemos trabalhar para transformar a realidade e tornar mais transparente esta positividade.
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