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Passos N.64, Agosto 2005

DESTAQUE - II Encontro Nacional de Educadores

Reconhecer o valor da experiência

por padre Vando Valentini*

Quando as pessoas refletem sobre a própria experiência,
conscientes de seu significado, o resultado sempre tem um valor cultural.
A beleza vista no Encontro Nacional de Educadores merece duas reflexões à parte: uma sobre a importância da experiência religiosa para o desenvolvimento da cultura e outra sobre a contribuição da Universidade e dos movimentos eclesiais para a vida social.
Para começar, vejamos a questão da experiência religiosa. Uma das coisas que mais chamou a atenção do público presente no Encontro foi que as colocações, tanto dos palestrantes como nos debates, partiam da experiência e não da teoria. Mas quem convive com o ambiente educacional e de formação de professores hoje em dia sabe que freqüentemente se procura partir da prática e que boa parte dos teóricos considera que suas propostas nascem da observação e da análise de experiências educacionais concretas. Então, de onde nascia esta impressão de novidade neste encontro em particular?
A experiência é algo maior que um conjunto de práticas ou de ações vivenciadas. A experiência é uma ação vivida de forma consciente, por isso pressupõe a afirmação de um sentido maior, a partir do qual é possível compreendê-la. Em nosso cotidiano, onde a questão do sentido é cada vez menos colocada, o trabalho pedagógico tende a ser compreendido como adestramento para o mercado de trabalho e as atividades se voltam para “despertar no aprendiz o gosto de aprender” como se este gosto nascesse espontaneamente bastando que as atividades contemplassem os aspectos lúdico, criativo e/ou aplicado. Como não é assim, as práticas pedagógicas deixam de ser vistas como experiências e se reduzem a um ativismo em última análise alienado.
Por outro lado, a experiência religiosa é justamente a busca de um sentido maior que se manifesta em todas as coisas. Por isso, tem o poder de resgatar as práticas perdidas no fosso da alienação reinante na sociedade moderna e dar-lhes novamente a dignidade de experiências humanas. Curiosamente, não importa se o interlocutor partilha ou não das crenças de quem propõe. Basta o fato desta questão do sentido ser colocada em pauta para que a reflexão recupere esta dimensão humana, para que o docente perceba-se como sujeito do trabalho educativo e compreenda que a educação é mais do que a pura transmissão de conteúdos teóricos ou o adestramento para o mercado de trabalho.
Isto nos leva ao segundo aspecto de nossa reflexão: a contribuição do diálogo entre os movimentos religiosos e a Universidade para o conjunto da sociedade. Estes movimentos são justamente a demonstração prática de que a experiência religiosa continua fascinante para o ser humano mesmo nos dias de hoje, que o mesmo em nosso mundo laicizado e utilitarista permanece a busca por um sentido para a existência. Contudo, esta riqueza pode morrer se não se torna proposta cultural para todos, se não enfrenta os antagonismos e as visões divergentes, se não se organiza como forma de construir a vida cotidiana em todas as situações. Ajudar os movimentos sociais – tanto religiosos quanto laicos – neste trabalho é justamente uma das funções básicas da reflexão acadêmica. A Universidade não pode se fechar precon-ceituosamente em uma pretensa superioridade intelectual, mas deve abrigar estas reflexões – interagindo com estes sujeitos sociais de forma crítica e construtiva.
Esta é uma das principais missões do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP. Por isso, estamos abertos sempre a todos os movimentos sociais que pedem nossa colaboração e nos sentimos felizes e realizados quando vemos a beleza que brota destas oportunidades de trabalho conjunto.

* Coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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