Existe um desejo de realização total – beleza, bondade, justiça, liberdade, felicidade – no coração de cada ser humano. Se olharmos para nós mesmos, percebemos que tudo aquilo que nos permite dizer “eu” de forma consciente – ações, relacionamentos, planos, esperanças –, tudo aquilo que permite que nos percebamos como pessoas no mundo, nasce deste desejo. Contudo, esta potência geradora do nosso “estar no mundo” é surpreendentemente frágil e é facilmente sufocada pelas frustrações, pelos fracassos, pela força massificadora dos meios de comunicação.
Assim, preferimos nos contentar com a satisfação de pequenos desejos parciais, com a satisfação de algumas necessidades, acomodando-nos à situação ou nos escandalizando impotentes diante da ruína daquilo que parecia ser nosso sonho mais bonito. Morre a esperança e, em seu lugar, freqüentemente cresce o cinismo diante da vida, o individualismo e a busca de satisfações fáceis. Mas a perda do ideal maior pelo qual vale a pena viver elimina também o gosto pela vida, a capacidade de uma paixão e de um fascínio verdadeiros pelo real.
Em tempos atuais de perplexidade e, para muitos, de perda das esperanças ou vitória do conformismo, a pergunta “como manter vivos o ideal e a esperança?” se torna particularmente significativa. A resposta reside na capacidade de viver uma experiência que corresponda àquele desejo de realização total que está em nosso coração, que nos abra para a realidade, nos ajudando a redescobrir seu fascínio. Este é o sentido de uma verdadeira experiência educativa.
Diante de todas as crises éticas, políticas, econômicas, que o Brasil e o mundo vivem, permanece fundamental a educação do “eu”, a formação da pessoa não apenas para exercer esta ou aquela função na sociedade ou para ser um cidadão responsável, mas para viver a integralidade de sua experiência humana. Para que isto aconteça, a educação deve nascer de um encontro em que intuímos esta correspondência, aparentemente impossível, entre o desejo mais profundo de nosso coração e a realidade. Isto gera uma companhia entre as pessoas que fizeram este encontro e uma história onde a esperança não morre, porque é o reconhecimento da existência entre nós de Alguém maior do que todas as nossas contradições, que nos permite recomeçar e ser fiéis mesmo quando falhamos.
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