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Passos N.60, Abril 2005

SOCIEDADE - CdO / Meeting da América Latina

Trabalho, pessoa, caridade
O futuro da América do Sul

por Maria Zatti

Nos dias 11 a 13 de março, em Buenos Aires, realizou-se o 2º Meeting da Companhia das Obras Latino-americana. Empresas, organizações sem fins lucrativos e profissionais debatendo sobre sete áreas de atuação. Uma riqueza de experiências e de personalidades, uma contribuição para a vida social na América do Sul

O grande empresário acompanha o pequeno empresário até o banco e o apresenta para que ele possa obter um crédito que, de outro modo, não conseguiria”. Esse exemplo formulado por Bolívar Aguayo, responsável pela Companhia das Obras (CdO) na América Latina, resumiu o aspecto mais precioso daquilo que aprenderam os quase mil empresários, profissionais e representantes de associações sociais que participaram do 2º Meeting da CdO Latino-americana, realizado em Buenos Aires de 11 a 13 de março: encontrar alguém que nos ajude a dar um salto de qualidade.
O encontro, que deu prosseguimento à proposta lançada no Rio de Janeiro em dezembro de 2003, reuniu empresas, organizações sem fins lucrativos e profissionais do Brasil, Honduras, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, México, Paraguai, Uruguai e Chile aos quais se juntaram 60 italianos e 10 espanhóis.
Os auditórios e as salas da moderna sede da Universidade Católica Argentina, localizada no canal do Rio de La Plata no antigo porto da cidade de Buenos Aires, foram o cenário para a organização e o desenvolvimento de cerca de 30 grupos de trabalhos focados em sete áreas temáticas: escola, universidade, trabalho, empresa, saúde, ONGs e política.
Na abertura do Meeting, que reuniu importantes líderes sociais e culturais da América Latina, Giorgio Vittadini, um dos fundadores da CdO em 1986 e atual presidente da Fundação pela Subsidiariedade na Itália, lembrou que “as obras só nascem a partir de alguém que diga eu”.

As necessidades do homem
A riqueza das experiências e das personalidades convidadas evidenciou “o desejo de responder às necessidades do homem” que move aqueles que sustentam e desenvolvem a CdO. “Não importa se não me agrada o modo como os outros fazem, o que importa é que eu me educo diante de quem encontro”, disse Aguayo durante o encerramento dos trabalhos enquanto lembrava aos participantes as iniciativas conhecidas nos dias anteriores. Entre elas, está a relatada por Marcos Zerbini, líder do Movimento de Trabalhadores Sem Terra de São Paulo que, desde 1980 até hoje, conseguiu terras e casas para 12.500 famílias às quais também são oferecidos serviços médicos e bolsas de estudo; há, também, a dolorosa experiência do engenheiro argentino, Juan Carlos Blumberg, que, depois que seu filho de 23 anos foi assassinado por seqüestradores no ano passado, criou uma Fundação que, por meio de propostas legislativas, procura promover a segurança dos jovens; há, ainda, o Centro Modello de Prevenção à Desnutrição Infantil criado por um médico pediatra, Abel Albino, em resposta ao crescente problema da desnutrição nos lugares mais pobres da província de Mendoza. E a lista continua com o resultado inesperado obtido por um projeto da Associação de Voluntários para o Serviço Internacional (Avsi) de Salvador, na Bahia, cujo modelo de intervenção social foi copiado pelo Banco Mundial, organismo que viabilizou 160 milhões de dólares para implementar o método da Avsi em 102 instituições que ajudam 135.000 pessoas na cidade. “Eles perceberam que esta visão de desenvolvimento cria desenvolvimento”, explicou Fabrizio Pellicelli, responsável da Avsi em Salvador.

O valor do trabalho
“O valor do trabalho é a construção da pessoa”, afirmou Edouard Michelin, filho do fundador da empresa multinacional que produz um quinto dos pneus que rodam nas estradas de todo o mundo. Em uma vídeo-conferência transmitida de Clermond-Ferrand, na França, à qual seu pai François não pôde participar por razões de saúde, o titular da Michelin respondeu no segundo dia do encontro às perguntas da assembléia que lotava a sala de 800 lugares do maior auditório da Universidade.

“A pessoa se expressa no trabalho – mostra o seu talento e a sua criatividade – porém, a empresa, por sua vez, também constrói a pessoa”, disse o empresário de 41 anos que trabalha há 16 na companhia que emprega 125.000 pessoas e vende 300 milhões de pneus por ano.
Para responder à questão sobre o valor do trabalho, Michelin, antes de mais nada, colocou uma outra pergunta: para que serve a empresa? E afirmou: “No nosso caso, não fabricamos apenas pneus, mas contribuímos para o deslocamento das pessoas porque esta é a função dos pneus. É necessário ver o objetivo dentro do objetivo”. Em seguida admitiu a fragilidade de todas as empresas. “É preciso olhar para o futuro e não ficar ancorados ao passado”, foram as suas palavras.
Guzmán Carriquiry Lecour, sub-secretário do Pontifício Conselho para os Leigos, analisou o contexto internacional da América Latina durante uma mesa redonda com outras personalidades. Carriquiry é uruguaio e, como latino-americano, acrescentou uma reflexão: “Estamos conscientes de que somos responsáveis pelo destino dos nossos povos e pelo destino do catolicismo uma vez que os dois se implicam mutuamente? Ou isso parece exagerado?... Tudo começa a partir da pessoa, que é a força da sociedade e da Igreja. Estamos realmente conscientes de que a unidade dos nossos povos concentra-se, desenvolve-se e adquire significado pela unidade que vivemos, aqui e agora, graças ao carisma de padre Giussani, por meio da amizade que cresce em cada encontro e das obras realizadas? É a caridade que se expande – um amor maior que a nossa medida humana – o sangue vivo que regenera a existência e a vida de um povo”.

O vinho e a CdO
Os trabalhos dos três dias foram encerrados com a celebração de uma missa presidida por dom Estanislao Karlich, arcebispo de Paraná, na Argentina, e ex-presidente da Conferência Episcopal Argentina que também participou do grupo que trabalhou sobre o tema universidade.
Após a missa, a festa continuou nas instalações da obra de padre Mario Pantaleo, há 60 quilômetros da capital, onde foi oferecida uma recepção na melhor tradição Argentina, com espetáculos de gaúchos com cavalos, cantores e dança folclórica. Uma ágape fraterna onde todos puderam degustar o bom vinho – Malbec – produzido por Speri, um italiano que investiu nas cantinas da província de Mendoza; um fato que lembra a origem da Companhia das Obras, quando padre Giussani disse que não lhe interessava uma atividade política que não fosse para ajudar um seu amigo que tinha dificuldades para fabricar vinho em Alcamo, na Sicília. “Primeiro, ajudamos este amigo, depois um outro a realizar o seu trabalho e, depois, outro ainda; foi assim que nasceu a CdO”, explicou Vittadini.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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