10. Maria recebe a vida dAquele ao qual ela própria, na ordem da geração terrena, deu a vida como mãe. A Liturgia não hesita em chamá-la "geradora do seu Genitor" (Liturgia das Horas de 15 de agosto) e em saudá-la com as palavras que Dante Alighieri põe na boca de São Bernardo: "filha do teu Filho" (Paraíso, XXXIII, 1).
11. No desígnio salvífico da Santíssima Trindade o mistério da Encarnação constitui o cumprimento superabundante da promessa feita por Deus aos homens, depois do pecado original, depois daquele primeiro pecado cujos efeitos fazem sentir o seu peso sobre toda a história do homem na terra (cf. Gen 3, 15). E eis que vem ao mundo um Filho, a "descendência da mulher", que vencerá o mal do pecado nas suas próprias raízes: "esmagará a cabeça da serpente”. Maria, Mãe do Verbo Encarnado, está colocada no próprio centro dessa "inimizade", dessa luta que acompanha o evoluir da história da humanidade sobre a terra e a própria história da salvação.
Esta eleição é mais forte do que toda a experiência do mal e do pecado, do que toda aquela "inimizade" pela qual está marcada toda a história do homem. Nesta história, Maria permanece um sinal de segura esperança.
13. “Eis a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1,38). Este fiat de Maria – "faça-se em mim" – decidiu, da parte humana, o cumprimento do mistério divino, tornando possível, pelo que a ela competia no desígnio divino, a aceitação do oferecimento do seu Filho. Maria pronunciou este fiat mediante a fé. Foi mediante a fé que ela "se entregou a Deus" sem reservas e "se consagrou totalmente, como escrava do Senhor, à pessoa e à obra do seu Filho" (Lúmen gentium, 56). E este Filho – como ensinam os Padres da Igreja – concebeu-o na mente antes de o conceber no seio: precisamente mediante a fé!
20. Maria está presente em Caná de Galiléia como Mãe de Jesus e contribui, de modo significativo, para aquele "início dos milagres", que revelam o poder messiânico do seu Filho. Maria põe-se de permeio entre o seu Filho e os homens na realidade das suas privações, das suas indigências e dos seus sofrimentos. Põe-se de "permeio", isto é, faz de mediadora, não como uma estranha, mas na sua posição de mãe, consciente de que como tal pode - ou antes, "tem o direito de" - fazer presente ao Filho as necessidades dos homens. A sua mediação, portanto, tem um caráter de intercessão: Maria "intercede" pelos homens.
51. Tudo o que foi criado e, mais diretamente, o homem não pode deixar de ficar maravilhado diante deste dom, de que se tornou participante no Espírito Santo: "Com efeito, Deus amou tanto o mundo que lhe deu o seu Filho unigênito" (Jo 3, 16).
No centro deste mistério, no mais vivo desta admiração de fé está Maria.
52. O mistério da Encarnação é uma mudança de situação incessante e contínua, entre o cair e o erguer-se, entre o homem do pecado e o homem da graça e da justiça. A liturgia, especialmente no Advento, coloca-se no ponto nevrálgico desta reviravolta e alude ao seu incessante "aqui e agora", ao mesmo tempo em que exclama: "Socorrei o vosso povo, que cai e anela por erguer-se"! Estas palavras referem-se a cada um dos homens, a todas as comunidades humanas, às nações e aos povos, às gerações e às épocas da história humana: referem-se à nossa época, a estes anos do Milênio que está caminhando para o fim: “Socorrei, sim, socorrei o vosso povo que cai"! É esta a invocação dirigida a Maria, "Santa Mãe do Redentor"; é a invocação dirigida a Cristo, que por meio de Maria entrou na história da humanidade.
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