Na quinta campanha eleitoral, Marcos Zerbini mudou tudo. Após o encontro com padre Carrón, é preciso aprender o que achava que já sabia. E a experiência de beleza que foi vivida nestes meses pré-eleição já deixa saudades em todos os que se envolveram
“Não estou nem um pouco preocupado com o resultado da eleição no dia 3 de outubro, porque a grande vitória para nós já aconteceu!” É esta frase que Marcos Zerbini, advogado paulista de 47 anos, não cansa de repetir às vésperas das eleições no Brasil. Candidato à reeleição ao cargo de deputado estadual por São Paulo, Zerbini é o fundador da Associação dos Trabalhadores Sem Terra (ATST) junto com a esposa Cleuza Ramos. Esta é a quinta campanha eleitoral que eles enfrentam. Desde a primeira candidatura muitas coisas aconteceram e a mais revolucionária foi o encontro com o Movimento Comunhão e Libertação em 2003. No último dia 12 de setembro, em uma assembleia com padre Carrón em São Paulo, Zerbini declarou diante das mil e quinhentas pessoas presentes: “Eu quero agradecer ao Carrón porque olhando a liberdade com a qual ele conduz o Movimento eu me propus a viver essa liberdade dentro do mundo político, não preocupado com um resultado, mas preocupado em viver com verdade a minha vida naquele mundo, muitas vezes hostil.” E logo em seguida Cleuza afirmou: “Quando o Marcos foi candidato pela primeira vez ele perdeu a eleição e eu fiquei muito triste porque eu esperava um resultado que não aconteceu. Mas, hoje, eu aprendi dentro de CL que eu não preciso que o Marcos seja eleito para que eu concretize a minha vocação dentro da política. Para mim, essa vocação é anunciar a beleza do que eu encontrei.”
É com esta certeza que há quatro meses se deu início à campanha. O quartel-general está montado na sede da Associação, no bairro Lapa de Baixo, e ali um pequeno exército, que não ultrapassa cem pessoas, trabalha duramente para manter uma campanha feita com pouquíssimos recursos financeiros. Coordenadores, amigos e associados, diplomados ou não, jovens e adultos, se revezam igualmente nos trabalhos mais simples, como dobrar os jornais, separar os panfletos e preparar o material a ser distribuído nas ruas. Ali, cada pessoa é tão importante quanto o próprio candidato. E o clima neste galpão quente e abafado é de uma grande festa. “É impressionante ver como cresceu a nossa amizade nestes meses. É uma festa que celebra a ressurreição de Cristo, pois são muitos encontros a cada dia e a cada hora. Já começamos a sentir falta da campanha que deve terminar em breve”, afirma Douglas, que trabalha há apenas dois anos na Associação e ajuda pela primeira vez em uma campanha política. Mas suas palavras não são diferentes das de Ivone, que há 20 anos é coordenadora e enquanto separa os panfletos me diz entre lágrimas: “Esta é a quinta campanha que eu participo, e estou agradecida por como o Carrón nos ajudou a entender melhor as coisas. Não é uma campanha para o Marcos, mas uma campanha para um Outro”.
De casa em casa. A trajetória política de Zerbini começou em 2000 quando foi eleito vereador pela primeira vez. Em 2004 foi reeleito e arriscou-se um pouco mais, chegando, em 2006, como um dos candidatos mais votados para deputado estadual com 94 mil eleitores, em um grande reconhecimento popular de seu trabalho pelo bem comum. Durante estes últimos anos, a proximidade que nasceu com padre Julián Carrón e outros amigos de CL fez com que o casal mudasse o modo de fazer campanha eleitoral, num testemunho de disponibilidade a “mudar o que pensamos que já sabemos”. Assim, Marcos e Cleuza envolveram os amigos e saíram às ruas para a campanha corpo a corpo. Mas Zerbini não foi se apresentar a qualquer pessoa, aos desconhecidos. Começou pelos antigos associados, indo a cada uma das 25 áreas construídas pela Associação e batendo em cada uma das casas. O resultado? Uma explosão de humanidade, como nos conta Marcos: “Com cada pessoa que a gente encontrou, em cada abraço que a gente recebeu, a gente retomou, fez memória daquilo que foi a nossa própria vida. Encontrar essas pessoas nos faz lembrar todos esses anos de luta, de tudo o que foi conquistado, de tudo aquilo que foi construído nessa história e gradativamente a gente foi se dando conta de como é bonita a história que Deus constrói nos usando”.
Amanda, outra coordenadora da Associação, nos contou comovida como foram essas visitas: “Quando as pessoas viam o Marcos e a Cleuza chegarem, ficavam emocionadas e diziam que se soubessem teriam se arrumado melhor, teriam preparado alguma coisa. Para mim a experiência mais forte foi a de um rapaz que chegou correndo, literalmente, tremendo de emoção, e começou a filmar o encontro dizendo: ‘Esta aqui é a dona Cleuza, a responsável por eu ter hoje o meu santuário, a minha casa. Esta mulher não sabe o quanto ela mudou a minha vida’. Eu fiquei muito tocada e na mesma hora eu agradeci a Deus por estar ali assistindo àquilo e não ficar fora daquele momento”.
Uma correspondência, agora. “Eu faço parte dessa história” é o slogan da campanha e expressa bem o que está acontecendo. E quem os vê trabalhando, logo nota uma alegria. Essa alegria tem sido alimentada cotidianamente por encontros como o de Ivone com Ricardo, um rapaz que seguiu um dos carros da campanha e começou a buzinar e a dizer: “Eu quero o material do Marcos”. Não teve tempo para parar e conversar. Disse apenas que acaba de se formar na faculdade com a ajuda da Associação. Pegou material e foi embora contente. “Eu não soube mais dele, mas foi uma emoção grande porque as pessoas vão atrás da gente buscar o material. E eles não pedem material de um político, mas sim de um amigo”, afirma Ivone. Outro episódio foi o encontro de Rai com o senhor Fernando: “Eu estava lá na Zona Leste com um carro com adesivos e esse senhor me viu e começou a gritar: ‘Eu sou do Marcos’. Disse que mora no Morro Doce, uma das nossas áreas. Perguntei o que ele fazia ali tão longe e ele tinha ido pedir o voto de uma prima e uma sobrinha, pois ‘o Marquinho me ajudou a construir a minha casa 21 anos atrás e sem ele não temos político que goste de pobre e cuide de moradia’. Então, por isso, é muito prazeroso ficar na rua, mesmo sendo muito cansativo”. Doutor Fabio, que cuida das placas que estão sendo colocadas em alguns cruzamentos da cidade, também fez essa experiência: “A cada dia que eu acordo é uma expectativa nova, porque eu sou advogado, mas sou ‘plaqueiro’ da campanha com muito orgulho. E nestes dias precisei ir ao chaveiro e o senhor ficou olhando o adesivo do Marcos no meu carro e perguntou se eu era parente dele. Eu disse que trabalhava com ele e então o senhor contou que o conheceu há muitos anos, conhece o trabalho da Associação e me pediu o material da campanha para deixar no seu negócio. As pessoas realmente se identificam com essa história”.
Uma história que abraça a todos. E cada um pode verificar se ao indicar a um amigo a candidatura de Marcos ficou mais contente ou não. Quem verificou que sim, correu na Lapa para ajudar a colocar a mão na massa, como fizeram Otoney e Miriã, de Salvador, que mesmo não votando em São Paulo quiseram participar da panfletagem em uma das áreas para viverem em primeira pessoa a campanha de um amigo. Outros foram buscar material para distribuir, como fizeram o casal Marcos e Eliane, de São Paulo, em uma tarde fria de sábado. “Neste mês a cada semana eu vou a uma manicure diferente, porque assim posso pedir o voto para várias pessoas. Entre os colegas de trabalho também pergunto se já têm candidato e a maioria das pessoas não tem e aceitam com abertura o convite”, afirmou Eliane.
Por tudo isso, independente do resultado de domingo (que até o fechamento desta edição ainda nos era desconhecido), na segunda-feira dia 4 de outubro, Marcos e Cleuza e um grupo de coordenadores e outros amigos da Associação sairão em caravana até o Santuário de Aparecida para agradecer à Virgem pelos imensos benefícios recebidos.
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón