A experiência dos Bancos de Solidariedade, na Itália
“Vejam bem, isso vocês nunca poderão lhes dar. Com todas as ajudas que vocês podem dar – pacotes, pacotinhos, pacotões..., isso vocês não poderão dar! Nenhum de nós conseguirá fazê-lo”. Ou seja, dar a alguém a experiência da liberdade. Menos ainda se ele estiver na prisão, ou levando uma vida infeliz, como Sonia, inválida e distante das filhas. Nenhum auxílio poderia levar Fabrizio – um iraniano, não batizado e sem dinheiro para a comida – a dizer: “Cada dia sou mais feliz. Sinto que Jesus me ama”.
Diante dos testemunhos apresentados na Assembleia nacional dos Bancos de Solidariedade, no passado 6 de novembro, na Itália, padre Eugenio Nembrini não se cansou de repetir que “se não for pela iniciativa de Deus, todo o bem que tentamos fazer será inútil”.
Olhar de frente o que está acontecendo com quem leva e com quem recebe os donativos “é algo impressionante”. Andrea Franchi é o presidente nacional dos Bancos de Solidariedade: 170 entidades de voluntários que ajudam 35 mil famílias, levando a cada duas semanas uma caixa de mantimentos. É uma das ações caritativas mais imponentes da Itália. Não só pelas dimensões e pelo envolvimento de tanta gente. Franchi conhece essa realidade há anos, mas “agora está emergindo de modo claro que o ponto-chave é a mudança do humano, quando se encontra com Cristo”.
Diante disso, a caritativa assume o seu verdadeiro lugar: “É instrumento decisivo e, ao mesmo tempo, aspecto marginal. Dar o próprio tempo para atender a uma necessidade é o modo como tomamos consciência de qual é a fonte da transformação: não pode ser o que eu faço ou recebo”. Desperta-nos para uma outra caridade, que permite o que vimos na Assembleia. “Onze testemunhos, onze vidas transformadas”. Transformadas num lugar preciso, em condições precisas. De maneiras definidas. Mas transformadas a partir de uma experiência viva, que lugar e modos não bastam para explicar.
Ver com os próprios olhos que o objetivo último dessa ação é apenas “aprender a viver como Cristo não diminui o gesto, só o exalta”. Não podemos continuar com a caritativa se não descobrirmos a sua origem. “E a origem desse gesto é um homem, Dom Giussani, que a certa altura foi transformado pela iniciativa de Deus e deu o seu sim. Disse uma vez e continuou a dizê-lo”.
Descoberta a origem, vem à tona o objetivo. Para Franchi, a Escola de Comunidade e os Bancos de Solidariedade são os dois instrumentos fundamentais: “Um na mão direita, o outro na esquerda: a Escola de Comunidade julga o gesto da caritativa, e essa ação é o campo de prova da trajetória”. Ele iniciou a caritativa na universidade e hoje tem 41 anos. “Levo o pacote porque tenho um único problema na vida: quero usufruir de tudo. Mas só a relação com Cristo me permite isso, e a caritativa me ajuda justamente aí: vou para me converter. E isso só acontece se eu renasço na fé, se me apaixono continuamente pelo instrumento que me educa a viver todos os momentos esperando que Ele se manifeste”. Como se manifesta nesse gesto.
Quando Michela ouviu o pedido de uma amiga “Você me ajuda a levar um pacote?”, respondeu contrariada: “Por que você não o dá para mim?”. Essas palavras descreveram toda a sua vida: ficara viúva de repente, com duas crianças para criar. O fato é que a amiga atendeu a sua súplica. “Não é fácil aceitar o pacote”, conta ela. “Ela o escondeu dos outros, sobretudo dos filhos. Ele pesava tanto quanto a necessidade”. Mas o aceitou, e logo lhe veio à mente outra pessoa em dificuldade. Quase sem perceber, viu-se recebendo e dando. “Aquilo me parecia uma humilhação, mas foi um privilégio. Todos temos necessidade de encontrar Aquele que nos liberta quando passamos pela experiência de ser amados. Precisamos encontrar Jesus vivo, porque ressuscitado. Vivo, porque do contrário não existe”.
Não esconde mais o pacote de seus filhos. E agora sabe que Deus sempre cuidou e cuida dela e deles, mesmo quando não O vemos. “Ele nos ama no detalhe. Os rostos, as palavras, os gestos: há uma contemporaneidade divina, que se torna companheira da minha vida”. Quem é capaz de levar alguém a dizer isso só com a doação de um pacote?
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