Dom João Carlos foi escolhido como pastor da nova Diocese de Camaçari, na Bahia. Uma vida iluminada pelo carisma de Dom Giussani e pelo amor ao povo brasileiro. Que agora abraça uma nova tarefa com o desejo de comunicar “o acontecimento de graça que é fonte de alegria para nós”
"A todos nos toca recomeçar a partir de Cristo.” As palavras de João Paulo II, citadas no Documento de Aparecida, iluminam os passos do bispo nomeado para a nova Diocese São Thomaz de Cantuária, em Camaçari, na Bahia, Dom João Carlos Petrini.
A primeira missa e a posse aconteceram no último dia 9 de fevereiro, com a presença de aproximadamente 6 mil pessoas. Mais do que a posse de um novo bispo, amigos do Movimento Comunhão e Libertação de todo o Brasil que lá estiveram foram testemunhar a trajetória de um mestre na fé.
Seguindo o carisma. A frase, sempre repetida por Dom Giussani, “sou homem, nada do que é humano me é estranho”, tocou o coração de João Carlos e o fez deixar sua terra em direção ao Brasil em 1970. Em Salvador, a partir de 1989, como antes em São Paulo, procurou partilhar a beleza do carisma de Dom Giussani, o gosto pela vida que dele nasce e a paixão pelo homem que espera a redenção.
“Levei muitos a conhecer pessoalmente Dom Giussani, como André fez com o irmão Simão, e agora continuo nesta história com padre Carrón. De fato, hoje sua pessoa e os passos que indica, não as lembranças do passado, sustentam minha vida. Procurei sempre estar atento à redenção que está acontecendo agora e ao significado da realidade iluminada por esta presença. É daí que nasce a possibilidade de julgar as diversas circunstâncias nas quais o Senhor se mostra e através das quais vai delineando a nossa vocação e nos provocando para uma resposta sempre mais generosa.”
Em Salvador, Dom João Carlos procurou orientar sua vida seguindo as indicações do Movimento com simplicidade: a Escola de Comunidade, a Caritativa, a presença no ambiente, a revisão crítica e sistemática da experiência cotidiana confrontada com o contexto cultural. “Apesar de ter mais do que o dobro de idade dos participantes da comunidade, eu estava com eles na Caritativa em Novos Alagados, na universidade, no passeio em alguma praia, no ônibus para fazer 30 horas de viagem para algum encontro nacional (nos primeiros anos não tínhamos a possibilidade de viajar de avião)”, lembra.
A confirmação da história. Na nova diocese, sua prioridade é construir com os sacerdotes um clima de amizade, de confiança e de colaboração, para partilhar as alegrias, as esperanças, bem como as preocupações e futuros desafios. “Deus nos chama a esta obra comum, para que se renove a alegria nas famílias, a esperança nos corações, a paz na sociedade. Evangelizar significa envolver outras pessoas no acontecimento de graça que nos alcançou e já é fonte de alegria para nós”, afirma.
Além do povo da região, bispos e sacerdotes, a posse foi acompanhada por sua “família”, os amigos do Movimento. Entre eles, muitos dos que o acompanham desde o início de sua trajetória no Brasil, como Marina Massimi, professora universitária, de Ribeirão Preto. “O fato de que um amigo do Movimento tenha sido escolhido para esta responsabilidade é um reconhecimento único por parte da Igreja: reconhecimento da importância e da fecundidade do carisma que o Espírito Santo deu a Dom Giussani e aos seus filhos, para a Igreja e para o mundo”, afirma Marina. A professora ainda conta que o prefeito de Camaçari sintetizou o espírito daquele momento: “O prefeito passa, mas a Igreja permanece”.
Eloisa Colombo, de Sorocaba, conta que participar da cerimônia da consagração da igreja de São Thomaz de Cantuária, na presença do Núncio, do Cardeal, de bispos, padres, e da assembleia foi uma experiência única: “era a confirmação da história grande da qual fazemos parte, de uma vida que teve início com o encontro com Dom Giussani, nos encontros de Escola de Comunidade nas CUBs (Comunidades Universitárias de Base, nome pelo qual as primeiras comunidades de universitários do Movimento eram conhecidas em São Paulo; ndr). E agora nosso amigo estava ali, sendo abençoado por Deus, na Sua nova casa, como um sucessor dos Apóstolos que rege seu rebanho com propriedade”.
A comunidade de Salvador, fundada por Dom João Carlos, testemunhou a alegria experimentada durante a cerimônia de posse, nas palavras de Roberta: “atesto não apenas por mim, mas hoje por uma grande comunidade que é o Movimento em Salvador, que o encontro decisivo com Cristo que dá à vida um novo horizonte e transforma as pessoas só foi possível pelo sim dado por Dom João Carlos quando aceitou vir para cá e ser o instrumento utilizado por Cristo para gerar esta bela comunidade”.
“Dom João Carlos é o fruto maduro do seguimento ao carisma de Dom Giussani, um chamado de atenção para cada pessoa que vive a experiência do Movimento e um chamado à conversão ainda mais profunda como nos indica padre Carrón”, relata Otoney.
Grandes amigos. Entre as pessoas mais significativas de sua história, Dom João Carlos lembra padre Luigi (padre Giggio) por meio de quem conheceu o carisma e chegou a São Paulo. “Ele me fez conhecer Dom Giussani e pude beber no seu olhar penetrante e amoroso, comover-me com sua voz vibrante e sua paixão por Cristo, com seu amor à Igreja.” Outro amigo importante é padre Vando Valentini, que hoje é o responsável pela Pastoral Universitária na PUC-SP: “Juntos demos os primeiros passos em GS (Gioventù Studentesca, nome dos grupos de colegiais do Movimento na Itália; ndr) e com ele vivo uma amizade profunda que dura quase 50 anos”. Outros amigos muito significativos foram padre Francesco Ricci, que na década de 1970 levava o carisma de Dom Giussani para vários países, da América Latina à Europa dominada pelos regimes comunistas; padre Virgílio Resi, já falecido, que foi um dos grandes construtores do Movimento em Minas Gerais; e Dom Filippo Santoro, bispo de Petrópolis.
Fundamental na sua história, “a figura de João Paulo II foi muito importante para ter certeza de que o caminho indicado por Dom Giussani é para toda a Igreja. E Bento XVI confirma essa certeza”. Padre Julián Carrón “me fez perceber que a paternidade experimentada com Dom Giussani não terminou. Mesmo envelhecendo no seguimento do carisma, tenho necessidade de estar diante de uma paternidade que indica o passo para essa história não decair em lembranças mais ou menos saudosistas”.
Em seu discurso de posse na nova Diocese de Camaçari, Dom João Carlos falou sobre seu lema episcopal: Habitavit in nobis, que é parte do versículo do evangelho de São João: “O Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14), e plantou sua tenda no nosso meio. “Isto quer dizer que meu episcopado tem como tarefa principal testemunhar a alegria, a beleza e a paz que esta presença de Jesus Cristo traz em nós quando o reconhecemos e o acolhemos.”
Quem é Dom João Carlos Petrini
Dom João Carlos Petrini nasceu em Porto San Giorgio, uma pequena cidade italiana à beira do Mar Adriático. Durante a adolescência afastou-se da Igreja, mas a reencontrou no Movimento Comunhão e Libertação onde descobriu que o cristianismo envolvia toda a sua vida, esperanças, angústias, conflitos e desafios. Estudou Ciências Políticas na cidade de Perugia, na Itália, onde viveu os anos intensos da revolta estudantil de 1968 e participou intensamente da vida universitária.
Ao se formar, planejava passar dois anos no Brasil a serviço dos pobres e chegou a São Paulo em 1970, acompanhando três sacerdotes missionários. Uma vez mergulhado na periferia de São Paulo, viu que não era mais possível voltar à Itália para fazer carreira política ou diplomática, o que lhe parecia uma traição às amizades que havia encontrado aqui. Desde aquele tempo até hoje sempre manteve um vínculo com a realidade da periferia, mesmo quando sua atividade principal o levava a outros ambientes, procurando fazer a ponte entre a universidade e as classes populares.
Estudou Teologia em São Paulo e tornou-se sacerdote, já com 30 anos, para grande sofrimento de seus pais que tinham outros planos para ele. Envolvido na reconstrução de uma presença cristã na Universidade que desaparecera em consequência da crise da JUC (Juventude Universitária Católica), fez mestrado e doutorado em Ciências Sociais na PUC-SP, sendo um dos criadores das CUBs (Comunidades Universitárias de Base), uma das mais fortes experiências brasileiras de jovens universitários cristãos na década de 1980.
Em 1989, a convite de Dom Lucas Moreira Neves, foi para Salvador. Foi reitor do Seminário Propedêutico até 1997, e de 1998 até hoje é diretor do Instituto da Família. Trata-se da seção brasileira do Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos sobre Matrimônio e Família, fundado em Roma pelo Papa João Paulo II e presente nos cinco continentes.
Em Salvador, começou a frequentar a região suburbana e particularmente Novos Alagados. Ali, a partir da vida da comunidade católica, iniciou-se um impressionante trabalho de reurbanização, reconhecido internacionalmente. Graças a uma ONG e à participação de diversos sujeitos públicos e privados, o bairro foi urbanizado, as casas reconstruídas e nasceram diversas obras educativas, como uma creche, um centro educacional para reforço escolar, um Centro de Orientação à Família e uma Escola Profissionalizante. Recentemente, foi construída uma Igreja onde atuam dois sacerdotes, para que fosse reconstituído não somente o bairro em suas estruturas urbanas (ruas, esgoto, muros de contenção, etc.), mas o próprio povo na sua unidade e identidade.
Do Instituto da Família nasceu o Programa de Pós-Graduação em Família na Sociedade Contemporânea da UCSal (Universidade Católica de Salvador), com mestrado e doutorado, onde Dom João Carlos é professor de Sociologia da Família e Coordenador.
Foi nomeado Bispo Auxiliar de Salvador em 2005 e, em 2007, foi convidado pelo Papa Bento XVI para participar como perito da V Conferência do Episcopado Latino Americano e do Caribe em Aparecida. Durante alguns anos foi também diretor do Instituto de Teologia de Salvador. Integra ainda a Comissão Nacional Episcopal para a Vida e a Família, da CNBB.
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