A Igreja no Brasil, especialmente depois da V Conferência do Episcopado Latino Americano e Caribenho em Aparecida, conquistou um ímpeto missionário admirável. As comunidades que existem são revigoradas, outras nascem como fruto do anúncio do Evangelho. No entanto, os desafios são grandes. O maior deles eu chamaria de ideologia cientificista, isto é, um modo de fazer e usar a ciência que se reveste de acentos messiânicos. Como se todos os problemas da sociedade pudessem ser resolvidos através das conquistas científicas e tecnológicas, numa nova edição do entusiasmo dos começos da modernidade, entusiasmo que naquela época era ingênuo, afinal de contas, ainda não tinham acontecido as duas guerras mundiais, a criação e a explosão da bomba atômica e a aplicação da pesquisa de ponta à produção de armas, o desastre ecológico, e assim por diante. Hoje, aquele entusiasmo não tem razões que o sustentem, parece nascer, então, de uma ideologia que quer mais poder.
Algum tempo atrás, muita gente pensava que as novas gerações podiam viver melhor deixando de lado a Igreja, com sua grande tradição ética e religiosa, para ter acesso às conquistas da sociedade moderna sem freios e obter sucesso e riqueza de maneira mais fácil. Nessa perspectiva, muitas famílias de tradição católica educaram os filhos aos “valores humanos” da justiça, da igualdade, da solidariedade, mas não ao conhecimento de Jesus Cristo e à experiência da comunhão fraterna n’Ele e com Ele. O resultado disso está diante dos olhos de todos: aumenta sempre mais a violência e o número dos jovens que perdem o rumo, o gosto de viver e até mesmo sua vida atrás de promessas de felicidade que constituem perigosas armadilhas.
Neste momento, há uma tomada de consciência, de que a Igreja não era apenas um dos elementos da sociedade arcaica que poderia ser deixada fora do horizonte da vida moderna. Ela tem algo de essencial para a vida: traz até nós a presença de Jesus Cristo, o Redentor do Homem, o Salvador do qual continuamos a ter extrema necessidade.
Diante do vazio de significado e da ausência de grandes ideais que possam mobilizar positivamente as energias de homens e mulheres, muita gente pensa que a finalidade da vida é ganhar dinheiro e curtir prazeres. Mas esta postura não dá conta de aspectos relevantes da existência, não sabe lidar com a responsabilidade e com a necessidade de disciplina, por exemplo, no estudo, ignora o bem comum e a solidariedade, não sabe o que fazer diante de um fracasso, ou diante da doença e da morte. As pessoas, especialmente os jovens, necessitam de respostas às exigências do coração que de maneira irresistível busca a plenitude da realização.
(Trecho de Entrevista concedida a Ana Luiza Mahlmeister)
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