OS EXERCÍCIOS E ROMA: APENAS A SUA PRESENÇA
Caríssimo Julián, agradeço pelo acontecimento dos Exercícios, sobretudo pela amável paternidade e profundidade com a qual nos ajuda a levantar a cabeça para olhar para Aquele que tem piedade do nosso nada. Entre os inumeráveis aspectos que me tocaram, cito um: o da desproporção estrutural, que você introduziu usando também o testemunho de Giorgio Vittadini aos Memores Domini, cuja percepção se amplifica, não enfraquece, no relacionamento com a contemporaneidade de Cristo. Senti-me completamente descrito. Eu sempre me levanto pela manhã literalmente faminto e sedento de Cristo, pedindo para poder saborear durante o dia a Sua presença, sem a qual tudo parece despertar um sentimento de falta e de vazio. O gesto na Praça São Pedro também foi a expressão dessa sede. Senão, porque não me contentaria em ver pela televisão? Um gesto comovente e imponente, embora muito cansativo. Aquele homem marcou como um farol e um pai, junto com Dom Giussani, todo o meu caminho na fé que começou junto com seu pontificado, porque eu encontrei o Movimento logo depois da sua eleição.
Alberto, Seregno (Itália)
O PEDESTAL INVISÍVEL QUE SUSTENTA A VIDA
Nunca como neste ano senti-me tão abatido, derrubado, incapaz de outra reação a não ser a de estar envolvido com o que acontecia literalmente sem poder escolher ou avaliar. E as situações continuavam mudando. É necessário permanecer sempre com uma disponibilidade madura que supere a emotividade e a reação instintiva. Dezenove anos atrás eu e minha mulher pensávamos que tínhamos “salvado” definitivamente uma vida ao adotar uma menina de sete meses, mas há seis anos ela começou a nos dar muito trabalho e, neste último ano, colocou no mundo dois filhos e ainda precisa pôr tudo à prova. Sonhávamos ser avós de outra maneira, mas aos 53 anos fomos lançados em uma experiência de cuidar de um dos bebês enquanto esperamos que o Tribunal de Menores dê um parecer sobre o futuro de nossos dois netos e sobre toda a questão. Quantas vezes pensei dentro de mim: “Chega, não consigo mais, desisto”, mas de repente, mais uma vez alguma coisa sempre nos acompanha, uma pessoa, um fato, um telefonema que se impunha de maneira persuasiva e, quase sem percebermos, o momento dramático desaparece e nos permite retomar o caminho. Aconteceu de tudo nesses longos anos, mas nada diminuiu o relacionamento com a realidade e a paz de coração que nos acompanha apesar das circunstâncias que minam cotidianamente a esperança. Nada mudou efetivamente da dramaticidade da nossa história, ainda não vemos sinais de estabilidade, mas tudo é como que sustentado por uma estrutura imperceptível, como um pedestal invisível que sustenta essa frágil casa. Esperamos que de um momento para o outro aconteça o pior... Mas nunca nos entregamos. Este ano não consegui fazer nada do que tinha planejado, faltei até em duas ou três missas dominicais, mas a uma coisa fui fiel cotidianamente: a oração matinal, o terço e a oração que ouvi pela primeira vez na Fraternidade: o Memorare, uma das mais bonitas e mais consoladoras da nossa tradição. Vivemos na esperança cotidiana de sermos sempre acompanhados e procuramos todos os dias dar um sentido à dificuldade e ao sacrifício que nos é pedido. Rezo pela unidade da minha família e pela nossa conversão. Procuro, insistentemente, dizer todas as manhãs: se possível torne as coisas mais leves, mas que sempre seja feita a Sua vontade e nos doe a paz. Agradeço a Deus que, embora permitindo um sacrifício tão grande, coloca em nosso caminho todas as ajudas necessárias para nos apoiar e serve-se de qualquer meio para nos dizer isso. Agora cabe a mim, a nós, olhar para Ele com confiança, para que um dia Ele também possa nos dizer: “Vocês foram fiéis no pouco, dou-lhes o muito que prometi”.
Marco
ACORDAR O CORAÇÃO
Mara nasceu com uma série imprevista de malformações graves. A única que estava diagnosticada nas ecografias prénatais – uma doença cardíaca complexa – e que iria comprometer seriamente as suas possibilidades de sobreviver às primeiras horas de vida extra-uterina, não se confirmou. No final do primeiro dia de vida, Mara respirava sozinha, começou a comer e passou para a sala de cuidados intermediários da Unidade onde trabalho como médica. As conversas com o pai foram dolorosas: é possível que a sua filha não tenha visão, audição ou uma função cerebral normal. As respostas do pai foram ainda mais dolorosas: “Minha mulher não quer vir à Unidade e ainda não decidiu se vai rejeitar ou não esta filha”. No terceiro dia de vida de Mara, as enfermeiras de serviço tiraram fotos dela para ir mostrar à mãe. Era uma criança calma, pequenina, amorosa. A mãe não quis ver as fotografias. No quarto dia disseram-me que a mãe teria alta. Telefonei para a psicóloga que a acompanhava no internamento que me disse que “ela estava lidando bem com a situação”. Fui conversar com a mãe e expliquei que a filha estava à sua espera. Ela prometeu ir vê-la quando o marido chegasse. Vieram os dois naquela tarde. Ao ver a filha, chorou (finalmente!) e ficou com ela nos dias seguintes. Dois dias depois a criança piorou e morreu no colo da mãe. No dia seguinte o pai disse-me que não queriam fazer o funeral. Depois de uma longa conversa e de um telefonema para a mãe, mudaram de ideia e acompanharam Mara até o fim. Três dias depois, a mãe veio buscar a carta de alta. Comovida, pediu para ficar com as fotografias que as enfermeiras tinham tirado e disse-nos que o mais importante de tudo foi a Mara ter morrido no seu colo. Um coração que acorda, olha de frente para a realidade e deixa o Amor atravessar o sofrimento. Que Deus nos dê sempre essa Graça.
Maria João, Lisboa (Portugal)
VIVER À ALTURA DO DESEJO
Os meus primeiros contatos com a Escola de Comunidade foram através do meu marido Waldir, quando ainda éramos namorados. No começo eu ia para fazer-lhe companhia, com o intuito de não desagradá-lo, mas com o passar dos anos fui identificando-me com o grupo e pude constatar que isso realmente dá mais sabor à minha vida, possibilitando-me ver a minha realidade com mais positividade. Sendo assim, retomando o ponto central do retiro de Páscoa, consegui verificar que a Escola de Comunidade, os textos de Giussani e Carrón e a companhia são, de fato, uma ajuda a viver o meu cotidiano com o olhar de Cristo. Sem isso, eu viveria com o meu eu esmagado e a minha liberdade podada. Todos os nossos encontros são a possibilidade para um retomada, não para algo qualquer, mas para a presença de Cristo em nossas vidas, com a concretude com que Ele viveu e deu a sua própria vida por nós.
Cristina, Londrina (PR)
“EU TAMBÉM SOU JAPONÊS”
O que está acontecendo no mundo? O que está acontecendo comigo? O que me é pedido? A guerra na Líbia, o terremoto no Japão... Todos estão preocupados com as consequências. Eu não. Tenho apenas um desejo: entender o que Deus está me dizendo através de tudo isso. O Japão demonstrou que a ciência, todos os cálculos para se prevenir, podem salvar vidas, mas o Patrão do mundo é um outro. Desde 2009, quando aconteceu o terremoto aqui em Abruzzo, sempre me faço esta pergunta: “Quem me salvará? Quem salvará os meus filhos, e Quem tomará conta deles por mim?”. A salvação não é a vida como nós pretendemos, pois podemos viver muitos anos, mas sem sentido. A salvação é Alguém que me toma, que tem piedade do meu nada, que tem piedade de todas as minhas tentativas diárias de construir algo bom. A salvação é Alguém que me abraça. Enquanto olho pela janela as montanhas cheias de neve, penso nas pessoas que vivem no Japão, penso no fato de que nunca as senti tão próximas. Porque o Japão não está a quilômetros de distância, mas está dentro de mim. É a falsa pretensão de pensar que sozinha posso construir algo que dura, é o engano de pensar que domino e que já sei. Eu sou como eles, sou japonesa. Não há diferença entre mim e eles, todos temos necessidade do Seu abraço. E, então, eu continuo a repetir: “Tem piedade de mim, mantenha-me com você e não me abandone! E doe ao mundo o Seu abraço porque só disso temos realmente necessidade”.
Grazia, L’Aquila (Itália)
“EU ERA UM DOS ‘MALTRAPILHOS’ DE PARIS”
Depois de meses, peguei Passos na mão com a intenção de ler a apresentação de O Senso Religioso, de padre Carrón. Mas enquanto eu folheava a revista, fiquei impressionada com todas as coisas que me tocavam e me interessavam. Mais especificamente, me reconheci indiretamente na carta de Silvio, um dos “maltrapilhos” que estavam em Paris dez anos atrás (v. Passos março/2011). Comecei a me dar conta do valor dessa revista: a riqueza das histórias de vidas que chegam até mim, uma história à qual pertenço que se mostra novamente, tenaz, mesmo quando eu tendo a esquecê-la.
Antonella
AQUELE FINAL DE SEMANA SEM NINGUÉM
Há seis meses estou na Inglaterra trabalhando em minha tese. Sexta-feira, quando saí do laboratório, comecei a sentir uma certa angústia porque não tinha planos para o final de semana e porque todos os meus amigos e minhas colegas de casa tinham viajado por causa do feriado de Páscoa. De repente, enquanto caminhava, pensei o quanto estava ansiosa nos dias anteriores para procurar alguém que pudesse me fazer companhia. Depois, me perguntei: por que preciso de alguém? O que me falta? Por que não consigo ficar sozinha? Pensei em uma frase de Maria Teresa Landi que, citando Giussani, diz: “O ser muda a forma apenas se está em relacionamento com a realidade”, e lembrei-me de todos os relacionamentos sem os quais eu não estaria aqui agora, sem os quais não teria encontrado Cristo. Comprei uma pizza congelada e voltei para casa onde encontrei o e-mail de um amigo que terminava com a pergunta: “De que é falta esta falta?”. Os planos para o final de semana não mudaram, a quantidade de trabalho para fazer continuava a mesma e eu estava cansada fisicamente como meia hora antes, mas de repente senti que podia voltar a respirar.
Margherita, Birmingham (Grã Bretanha)
NENHUMA VITÓRIA, APENAS A ORAÇÃO
O fato de Bin Laden ter sido morto no dia da beatificação de João Paulo II me deixa triste. Parece que o mundo virou as costas para Cristo e para a maravilha daquele dia. Eu também, agitada com todo aquele frenesi, dei-me conta de que já tinha esquecido do Papa. Enquanto eu escutava o presidente Obama, me perguntava se, antes de tudo, eu era cidadã ou cristã. E qual era o valor de cada vida. Não posso me alegrar com a morte de Bin Laden, mesmo que ele tenha provocado milhares de mortes. Aquilo que a Igreja propõe para nossas vidas é muito maior do que esse homem e do que todos os seus pecados. Não podemos torná-lo o centro em torno do qual nossa vida gira durante esta semana. Essa não é uma vitória, mas um passo atrás para toda a humanidade. Gostaria que nos ajudássemos com a oração para estarmos diante da verdadeira proposta, para que ela se torne a nossa realidade, a nossa posição em relação àquilo que está acontecendo e não simplesmente a última “notícia”. Para que em nossos corações possa continuar vivo aquilo que no dia da beatificação vimos acontecer entre o céu e a terra.
Maika, EUA
DESEJAR TODOS OS DIAS A SANTIDADE
Caríssimo padre Carrón, queria lhe agradecer por ter-me feito companhia e viver plenamente esses dias de grande alegria para toda a Igreja. Porém, não pude estar presente nos Exercícios e em Roma porque tenho dois filhos pequenos. A unidade vivida com meu marido, com os amigos e com você fez com que ficar em casa não fosse um a menos, mas parte do mesmo gesto, invadido pela gratidão por aquilo que o Espírito fez acontecer doando-nos João Paulo II e doando-nos Dom Giussani, sem os quais não sei onde teria terminado. Esta manhã, volto às coisas cotidianas com o desejo e o pedido de poder ser santa, isto é, sempre agarrada a Cristo e, portanto, ao Movimento. Nunca senti você tão pai e companheiro de caminho como nesses dias.
Lucia
Credits /
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón