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Passos N.128, Julho 2011

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A História

O UNIFORME DE VICTOR

Gianni levanta a cabeça de dentro do capô do carro: “É o carburador. Troque-o e o carro ficará como novo”. “Ok, chefe”, responde o mecânico que está ao seu lado. “Ah, estava me esquecendo. Ligaram do escritório. Tem uma pessoa esperando você.” Limpa as mãos. “Será que é um novo cliente?”, pensa. O trabalho aumentou muito nos últimos anos. Começou com dois funcionários e, hoje, são 37 pessoas que trabalham na oficina. Um grande salto.
Abre a porta e vê uma pessoa tensa, com as mãos no bolso. “Lembra de mim? Sou Victor.” Gianni o observa: passaram-se quase seis anos desde a última vez que se viram. Era um jovenzinho que vivia em um hogar, orfanatos no Chile que acolhem crianças abandonadas, filhas de mães solteiras. Gianni e seus amigos iam todos os domingos naquela casa no centro de La Serena para fazer caritativa. Aos 18 anos, saiu do orfanato. “Como está, Victor? O que você está fazendo?” “Moro com a minha namorada. Estou na luta. Outro dia, passei aqui em frente e lembrei-me de você. Você progrediu, virou um empresário. Então, queria perguntar se você pode me emprestar algum dinheiro. Só alguns pesos, para aguentar até o fim do mês.” O telefone toca: precisam dele urgente na oficina. Gianni queria conversar, mas não tem tempo. Pega a carteira e lhe entrega algumas notas. Victor voltará mais duas vezes, sempre com o mesmo pedido.

Na terceira vez, Gianni o interrompe. “Ouça, chega de esmola, quero lhe fazer uma proposta: venha trabalhar aqui. Por enquanto, lhe dou só o almoço, depois, veremos. O que você diz?” O jovem olha para ele, pálido: “Ok. Aceito”. “Preciso da sua certidão de antecedentes criminais. Traga amanhã. Depois, você começa. Até amanhã.” Da janela, Gianni o vê sair com passos desleixados. “Quem sabe se realmente virá”, pensa, levantando os olhos: no horizonte, o oceano é uma linha escura muito sutil.
No dia seguinte, pontual, Victor está ali com o documento na mão. Naquelas linhas está todo o seu passado, tudo aquilo que fez. Nada de que se orgulhe. Naqueles poucos segundos, pensa: “Foi inútil vir. Na terceira linha, vai me mandar embora. Não vai nem ler até o fim. Aposto”. Gianni passa os olhos pela longa lista e sorri. Tem até o furto de um carro. Depois, levanta os olhos: “Ok. Você quer recomeçar agora?”. Victor não consegue falar. Faz apenas um sinal que sim com a cabeça. Gianni pega outra vez o documento na mão e o rasga. “Isso não me serve mais. Espero você no lava-rápido.”
Alguns dias se passam, a irmã de Gianni diz: “Esse rapaz parece mais um ladrão que um operário. Acho que é por causa de sua maneira...”. “Na oficina o chamam mono.” “Pois é, meio rude.” Mas Victor não é um mono. “Tem coração, cérebro.” Aproxima-se do rapaz: “Venha até o escritório”. “Naquele quartinho, tem uma coisa para você.” Victor entra na saleta, com o mesmo andar desleixado: apoiado em uma cadeira há um macacão com a logomarca da oficina. Igual ao macacão que todos os outros usam. “Gianni, o que quer que eu faça?”, grita de dentro. “É para você.” Quando ele sai, parece outro. Postura ereta, o peito inflado de orgulho. Como se dissesse: “Agora eu tenho algum valor. Sou importante para alguém”. Só duas palavras: “Obrigado, chefe”. Desde aquele dia, ninguém mais o chama de mono.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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